Relação entre irmãos

Em 2012, quando o cineasta pernambucano, radicado no Rio de Janeiro, Eduardo Morotó, ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri da crítica na Mostra de Tiradentes com “Quando Morremos à Noite” (2011), levou como bônus uma série de recursos para realizar outro filme. Assim nasceu, em parte, “Todos esses Dias em que Sou Estrangeiro” (2013), filme que estreou no Festival de Curtas de São Paulo, em 2013, de onde saiu com o Prêmio Canal Brasil, e foi exibido também, no mesmo ano, no Festival de Brasília, no Festival do Rio, no Curta Santos, no Janela, e na Mostra de Tiradentes deste ano, entre outros.

O filme acompanha dois irmãos nordestinos que vivem e trabalham como garçons na Baixada do Rio de Janeiro. O mais velho, Luís, já está há mais tempo na cidade e parece acostumado com esse mundo. Para o mais novo e mais recente na cidade, Antônio, o choque é maior, especialmente, por ter de lidar com uma série de preconceitos. “O filme faz uma crônica sobre o sentimento de ser estrangeiro dentro do próprio país, causado pela intolerância e preconceito”, comenta Morotó, também diretor de “Agreste Adentro” (2007), de “Mar Exílio” (2010) e de “Eu Nunca Deveria Ter Voltado” (2012), ao lado de Renan Brandão e Marcelo Martins Santiago.

É tentando se equilibrar nesse submundo, entre difíceis condições financeiras, o baixo meretrício e a violência urbana, que a relação entre esses dois irmãos se dá. Buscando enfatizar o contraste de personalidades entre os dois, Morotó filmou “Todos esses Dias em que Sou Estrangeiro” em P&B. “O mais velho representa o homem do sertão, mais aculturado, e o mais novo, o mais ligado às raízes, ao animal, ao ancestral. No fundo, um é a mimese do outro e se complementam, assim como o preto e o branco”, explica.

Desse embate, surge o trabalho de Morotó com o cinema de gênero; nesse, em especial, com a tragédia. A catarse para o diretor, como mostra em seus trabalhos anteriores, nunca é demais.

 

Por Gabriel Carneiro

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