Filme de um homem só

Com apenas 21 anos, o cineasta maranhense Lucas Sá tem chamado atenção com seus curtas, em especial “O Membro Decaído” (2012), fábula de horror, e seu mais recente “No Interior da Minha Mãe” (2013). Este último, que já foi premiado nos festivais do Filme Livre, de Curtas de São Paulo, de Goiânia, entre outros, traz um olhar bastante inusitado sobre a própria família. Sá acompanha a família à cidade São João dos Patos, no interior do Maranhão, local de nascimento da mãe. Com bastante liberdade, o diretor furta pequenos momentos – um player tocando Balthazar, uma televisão com sua programação de madrugada, as fotos que a família tira, a irmã brincando na praça etc. “Fui sendo levado durante uma semana pelas situações que a viagem me propunha. Nunca havia passado pela minha cabeça fazer um documentário um dia, mas no momento em que liguei a câmera percebi que buscava uma organicidade que não ia conseguir na ficção”, conta o diretor, que está no último ano da faculdade de cinema da UFPel.

Realizado inteiramente por Sá – justificando os problemas de som do filme –, que só contou com a ajuda de um amigo na pós-produção, “No Interior de Minha Mãe” propõe uma viagem por uma família com a espontaneidade que talvez só um membro dela pudesse obter, sem cair em armadilhas como a complacência e o autoelogio. A chave para alcançar isso talvez seja o humor. Sua família não se retrai frente à câmera, apresentando-nos toda a graciosidade do humor inocente que perpassa as relações afetivas.

O grande trabalho de Sá no filme foi a montagem. O curta é uma grande colcha de retalhos, alternando momentos esparsos diversos, de maneira orgânica. “Não sabia se o que estava gravando fazia algum sentido, se teria uma unidade no final de tudo ou se até mesmo iria virar um filme. Acredito que a montagem deu um sentido mais claro para as imagens. Me questionava se era relevante o que estava gravando, mas notei que toda vez que me obrigava a ligar a câmera era porque precisava daquela situação. Foi complicado porque estava só com um cartão de memória de 4GB, então tinha que selecionar bem o que ia filmar para não prejudicar o filme”, explica.

Para os próximos projetos, Sá deve voltar ao horror. Finaliza o curta “Nua por Dentro do Couro”, protagonizado por Gilda Nomacce e Miriã Possani, e escreve o roteiro de seu primeiro longa, “Convite para Enterro”.

 

Por Gabriel Carneiro

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