A volta do fantasminha em 3D

Muito antes de Xuxa, Os Trapalhões e Carrossel, houve Pluft, o Fantasminha. A peça de teatro infantil, escrita em 1955 por Maria Clara Machado, tornou-se a mais encenada do gênero no país e no exterior, rendeu um filme pouco conhecido em 1961 – com direção do franco-brasileiro Romain Lesage e Dirce Migliaccio vivendo o fantasma – e uma minissérie da Globo, em 1975.

Agora, o maior clássico da dramaturgia infantil vai servir de base para o primeiro filme 3D do gênero. A Raccord Produções prepara uma adaptação que promete ser recordista em efeitos especiais em um longa infantil brasileiro, ao custo de R$ 10 milhões, o dobro do que normalmente é usado num filme infantil nacional. Na história, a menina Maribel é raptada pelo malvado Pirata Perna-de-Pau. Escondida em uma casa, ela conhece uma família de fantasmas que inclui Pluft, um fastaminha que tem medo de gente de verdade.

“É uma história clássica que toca em temas como a importância de vencer o medo e não ter problemas em lidar com o diferente. E, para se tornar competitiva e atraente para as crianças, uma história de piratas e fantasmas tinha que ter essa cereja do bolo que é o 3D”, comenta Clélia Bessa, sócia da Raccord ao lado de Rosane Svartman (“Como Ser Solteiro”, “Desenrola”), que assume a direção do filme.

Fantasmas subaquáticos

As sequências dos fantasmas em 3D serão filmadas com duas câmeras especiais, fazendo as vezes de olho esquerdo e olho direito – a junção das duas imagens é que, com o óculos na sala, dá o efeito do 3D. Para o trabalho, foi contratado um estereógrafo, profissional especializado na técnica, e um consultor, José Dias, especialista da tecnologia na Rede Globo. E há ainda um complicador: Clélia e Rosane querem filmar todas as cenas dos fantasmas embaixo d’água, para realçar o efeito mágico nas criaturas.

A diretora do longa Rosane Svartman ao lado da produtora Clélia Bessa, duas mulheres à frente da produção infanto-juvenil que deverá ser a recordista em efeitos especiais para o gênero e a primeira em 3D

O plano de filmagem do novo Pluft também envolve uma organização complexa. No final de 2016, foram quatro semanas de trabalho no Rio Grande do Norte, na praia deserta de Sibaúma, com cenas entre a menina Maribel (a estreante Lola Belli) e o pirata (Juliano Cazarré). Algumas cenas também foram rodadas em um colégio no Rio. Apenas em abril, a Raccord retoma as filmagens para quatro semanas em estúdio. Clélia costuma diferenciar as duas etapas como a parte seca, do mundo dos vivos; e a parte subaquática, quando entram os fantasmas, e que exigirá muitos cuidados, especialmente, na pós-produção.

Até pela distância entre as duas filmagens, o casting também está sendo feito em etapas. A menina Lola Belli foi escolhida num processo com mais de cem candidatas. Cazarré aceitou o papel do pirata depois que Alexandre Nero teve que desistir do personagem por conta de sua agenda na TV. No final de março deste ano, é que Clélia iniciou o casting para o ator mirim que viverá Pluft. “Como só vamos filmar em abril, não daria para escolher meses antes uma criança que depois iria crescer muito até as filmagens”, explica. Ela está decidida a fazer testes no país inteiro – e até fora do Brasil, se for preciso. “Terá que ser um garoto que tenha prática em apnéia, em segurar muitas cenas debaixo d’água”.

Expansão do mercado

Com uma longa tradição nos palcos, a produtora ainda prevê outras surpresas no elenco. José Lavigne, hoje diretor da Globo, que já viveu o marinheiro-fastasma Tio Gerúndio em três versões de “Pluft” nos palcos – a primeira delas em 1977, no Grupo Tablado –, deve reviver o papel nas telas. Cláudia Abreu, que encenou a peça duas vezes (em 2003 e 2014), está sendo convidada para Mãe Fantasma. Tim Rescala assina a trilha sonora.

Os atores Arthur Aguiar, Hugo Germano e Lucas Salles, parte do elenco do filme, rodado no final de 2016, que ainda realiza testes para encontrar o personagem Fantasminha © Pepê Schetino

Clélia comemora o bom momento do audiovisual, com as linhas de edital para cinema e TV, que têm permitido até a retomada do cinema voltado ao público infantil. “Os filmes para as crianças, assim como os programas infantis na TV, são os grandes responsáveis pela formação de novos públicos. É preciso cada vez mais aprender a produzir, dirigir, escrever e atuar para esse público”, opina.

Como tem se tornado natural nas produções infantis, “Pluft”, o filme, pode render derivados, como uma série na TV paga ou na internet. “Essas coisas podem acontecer, mas é preciso trabalhar uma coisa de cada vez. No momento, estou totalmente focada em realizar o filme, que, tenho certeza, será um filme para sempre”, diz a produtora.

 

Por Thiago Stivaletti

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