Festival MIMO vai mostrar filme sobre Mussum

O Mimo, um festival que promove o matrimônio entre a música e o cinema, apresentará, em sua décima-quinta edição (em Paraty, Rio, São Paulo e Olinda, nos meses de setembro e novembro), 14 longas, dois médias e 13 curtas que têm cantores, compositores ou instrumentistas como tema.

Um dos documentários selecionados é “Mussum, um Filme do Cacildis”, de Susanna Lira. Os mais jovens devem lembrar-se de Mussum apenas como estampa de camisetas adornadas com sua imagem black e neologismos do “cacildis”. Os nem tão jovens, o curtiram como um dos integrantes do quarteto Trapalhão, ao lado de Zacarias, Renato Aragão e Dedé Santana. Além de programa popularíssimo na TV, eles atuaram em dezenas de filmes – verdadeiros blockbusters – da grife trapalhona. Só os mais velhos hão de lembrar do ritmista Antônio Carlos Bernardes (1941-1994), o Mussum, como o mais famoso e badalado integrante dos Originais do Samba.

O grupo, criado nos anos 1960, com o nome de Os Sete Modernos, estourou nos anos 1970, com uma série de sucessos, um deles, a belíssima “O Ouro e Madeira”, do baiano Ederaldo Gentil, que lhes garantiu presença em todas as paradas de sucesso radiofônicas. Para se ter ideia do prestígio do grupo, há que se lembrar que eles acompanharam Elis Regina na Bienal do Samba, na qual ela triunfou com “Lapinha” (Baden Powell e Paulo César Pinheiro). Um dos elepês do grupo – “O Samba é a Corda, os Originais a Caçamba” – caiu no gosto popular. E outras de suas gravações – “O Lado Direito da Rua Direita” e “Tragédia no Fundo do Mar (Assassinaram o Camarão)” viraram febre nacional.

A diretora de “Mussum, um Filme do Cacildis”, Susanna Lira, carioca de 43 anos, é o nome da hora no cinema feminino brasileiro. Ela, que começou a ganhar notoriedade com o longa documental “Damas do Samba” (de 2013), sobre pastoras, compositoras, passistas, madrinhas de bateria, carnavalescas, mulatas, intérpretes e operárias dos barracões de escolas de samba, seguiu seu rumo com “Clara Estrela”, parceria com Rodrigo Alzuguir, sobre a portelense Clara Nunes. Ela realizou, também, documentários como “Positivas” (sobre portadoras de HIV), “Uma Visita para Elizabeth Teixeira” (a líder camponesa, viúva de João Pedro Teixeira), “Rio’s Red Card” (feito para a Al Jazeera, do Qatar), além de séries para emissoras de TV (a ficcional “Rotas de Ódio”, para o Canal Universal, e as documentais “ Mulheres de Aço” e “Em Busca do Pai”, ambas para o GNT, e “Mães Solteiras”, para o Futura).

Em 25 anos de carreira, só agora Susana chega – e para valer – aos grandes festivais. Seu documentário mais recente – “Torre das Donzelas” – foi selecionado para a competição principal do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (em setembro). O filme reencontra presas políticas, entre elas Dilma Roussef, encarceradas, no começo dos anos 1970, na Ala Feminina do Presídio Tiradentes, em São Paulo. Para enfrentar a privação da liberdade (e a tortura) as prisioneiras da “Torre das Donzelas” apostaram na sororidade. Ou seja, na generosa ajuda mútua.

Na CineOP (Mostra de Cinema de Ouro Preto), Susanna Lira apresentou “Intolerância.doc”, sobre jovens (inclusive neonazistas) que, nas grandes periferias urbanas, praticam crimes de ódio, agredindo pessoas por serem diferentes, em especial, homossexuais. E participou do I Festival Internacional Mulheres no Cinema, em São Paulo, com “Mataram nossos Filhos”, sobre mulheres que viram seus descendentes, em maioria jovens, serem assassinados pela polícia. Há que se lembrar que a cineasta, cujo início profissional se deu no Jornalismo, é pós-graduada em Direitos Humanos.

Agora chegou a vez de Susanna apresentar mais um documentário (100% inédito) no Mimo – Música & Cinema. O festival, que que tem curadoria da cineasta Rejane Zilles, vai mostrar “Mussum, um Filme do Cacildis”, junto com os longas-metragens “Candeia”, de Luiz Antônio Pilar, “Inaudito”, de Gregório Granjeia, “O Samba é meu Dom – Wilson das Neves”, de Cristiano Abud, “Com a Palavra, Arnaldo Antunes”, de Marcelo Machado (o craque de “Tropicália”, visto por quase 80 mil espectadores), “Semente da Música Brasileira”, de Patrícia Terra, “Som, Sol & Surf Saquarema”, de Hélio Pitanga, “Vinil, Poeira e Groove”, de Diego Casanova, “Você Não Sabe Quem Eu Sou”, de Alexandre Petrilo, Rodrigo Grilo e Rogério Corrêa, “Ultraje”, de Marc Dourdin, “Pesado – Que Som é esse que Vem de Pernambuco?”, de Leo Crivellare, e “Guitar Days – An Unlikely Story of Brazilian Music”, de Caio Augusto Braga, todos documentais. E com a animação “Os Under Undergrounds – O Começo”, de Nelson Botler Jr., e o ficcional “Legalize Já – Amizade Nunca Morre”, de Johnny Araujo e Gustavo Bonafé, protagonizado por Renato Góes, que interpreta o jovem Marcelo D2, da banda Planet Hemp.

A programação do Mimo completa-se com a exibição de um convidado especial – “Betty, They Say I’m Different”, produção franco-britânica dirigida por Phil Cox, sobre a trajetória da cantora e compositora Betty Davis, que foi mulher do jazzista Miles Davis – e com 15 curtas e médias. São eles: “Do Sul ao Norte”, da baiana Isabela Faria Trigo, e “O Menino e o Mundo: Uma Viagem Sonora”, da paulista Isabella Jarrusso (médias-metragens) e os curtas “Tetê”, de Clara Lazarim (sobre Tetê Espíndola), “Novos Goianos”, de Isaac Brum Souza, “Timoneiro”, de Pedro Murad, “Bup”, de Dandara de Morais, “É por Isso que Estou Aqui”, de João França, “Orquestra de Todos os Povos”, de Alexis Zelensky, “Quanto Mais Longe Vou, Mais Perto Fico”, de Daniel Ortega, “Raiz Ancestral”, de Márcia Paraíso, “Ruído”, de Gabraz Sanna, “Strobo – O Filme”, de Vladimir Cunha, “Travessia”, de Thiago Antunes, “Yzalú – Rap, Feminismo e Negritude”, de Inara Chayamiti e Mayra Maldjian, e “6 por 20”, de Daniel Tumati, Marina Gerasso, Maria Fernanda Genúncio, Vitor Rodrigues e Luna Gámez.

O Mimo Festival 2018 começará sua fase brasileira (ele já foi apresentado em Portugal), em Paraty, no litoral fluminense, de 28 a 30 de setembro, seguindo para o Rio de Janeiro, de 15 a 17 de novembro, depois São Paulo, de 19 e 20 de novembro, e Olinda, de 23 a 25 de novembro.

 

Por  Maria do Rosário Caetano

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