Santos Film Festival homenageia Eliane Caffé e Rubens Ewald Filho

Santos, que já conta com um tradicional, embora pequeno, festival de curtas-metragens, o Curta Santos, ganha agora um evento cinematográfico de grandes dimensões, o Santos Film Festival, de alcance nacional e internacional, que ocupará, ao longo de nove dias (desta terça-feira, 28 de agosto, até 5 de setembro), 15 cinemas e salas especiais.

Dezenas de longas-metragens se somarão a curtas e médias brasileiros, franceses, espanhóis, belgas, suecos, italianos, alemães, canadenses e britânicos, com o intuito de atualizar, cinematograficamente, a cidade que adotou Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, e que viu nascer Robinho e Diego. O município de 450 mil habitantes, que abriga o maior porto da América do Sul e fica a 70 km da capital paulista, não dispõe de circuito de arte capaz de absorver nem metade da produção audiovisual brasileira. Menos ainda da internacional.

Com o crescimento do Santos Film Festival, já em sua terceira edição (a mais ambiciosa, até agora), filmes badalados como “Ferrugem”, de Aly Muritiba, que acaba de vencer o Festival de Gramado, “Yonlu”, de Hique Montanari, Prêmio da Crítica na Mostra Internacional de São Paulo, e “Benzinho”, que somou os Kikitos de atriz protagonista (Karine Telles) e coadjuvante (Adriana Esteves) aos prêmios da Crítica e do Público, se somarão a documentários inéditos (como “Crônica de uma Cidade Real”, de Elder Fraga, e “Oldinei Ribeiro: o Narrador de Emoções”, de Germano Pereira e Renata Giovennetti.

O diretor artístico do festival, o crítico André Azenha, agregou ao III Santos Film Festival alguns clássicos do cinema: o “Oito e Meio”, de Fellini, “Duas Garotas Românticas”, as mademoiselles de Rochefort (Catherine Deneuve e Francoise Dorleac), de Jacques Demy, e dois documentários: o sueco “Invadindo Bergman”, de Jane Magnussson, e “No Clima de Melville”, de Benjamin Clavel, sobre Jean-Pierre Melville (1917-1973), uma das estrelas do cinema polar (ou film noir) francês.

Na noite inaugural (esta terça-feira), o festival homenageará o crítico de cinema, curador (do Festival de Paulínia e de Gramado), pesquisador, editor e homem de TV (o mais conhecido dos apresentadores das transmissões do Oscar, no Brasil) Rubens Ewald Filho. No Cine Roxy, o ator santista Luciano Quirino, homenageado ano passado, entregará um troféu a seu conterrâneo, Rubens Ewald Filho. Para completar a noite, serão exibidos filmes sobre três “cidades criativas”: a chilena Frutillar, a coreana do sul Busan e a brasileira (e anfitriã) Santos. Será exibido, também, curta-metragem em sintonia fina com a força feminina que vem revigorando o fazer cinematográfico: “Eu Preciso destas Palavras Escritas”, de Milena Manfredini e Raquel Fernandes. Nele, o ator Quirino interpreta o artista plástico Arthur Bispo do Rosário, que passou boa parte de sua vida interno num manicômio. A noite acabará com shows musicais de pianistas, violonistas e cantores da Baixada Santista.

A homenagem à cineasta paulista Eliane Caffé acontecerá na segunda-feira, dia três de setembro, no Cine Arte Posto 4 (16h00). Dela, serão exibidos seus melhores e mais premiados filmes: “Narradores de Javé”, de 2002, e “Era o Hotel Cambridge”, de 2017. No elenco dos dois, está José Dumont, o mais sólido – junto com o dramaturgo e roteirista Luiz Alberto de Abreu – e constante dos parceiros artísticos de Lili.

A realizadora conversará com o público, assim como outra convidada do Santos Film Festival, a atriz e produtora Virgínia Cavendish. Apesar de conhecida por atuar em telenovelas e filmes (incluindo o badalado “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes), Virgínia é, acima de tudo, uma atriz de teatro. Casada, agora, com o ator e dramaturgo santista, Nelson Baskerville, Virgínia vê-se cada vez mais enfronhada nas artes cênicas. Mãe da atriz Luísa Arraes (da novela “Segundo Sol”), fruto de seu casamento com Guel Arraes, pernambucano como ela, Virgínia vive cercada de artistas. E se impôs um desafio: produzir “Através das Sombras”, o filme que mostrará no festival santista. Para dirigir esta recriação aclimatada ao Brasil (e ambientada numa fazenda de café fluminense) de “A Volta do Parafuso”, um dos textos mais conhecidos de Henry James, ela convidou o experiente Walter Lima Jr. Além de produtora, ela é a protagonista do filme e tem o saudoso Domingos Montagner (1962-2016) como parceiro. A sessão, na presença da atriz, acontecerá no Roxy 4, nesta sexta-feira, dia 31 (19h00).

Os 90 filmes selecionados por André Azenha e Paula Cagnani serão mostrados em duas salas do tradicional Circuito Roxy (a 4 e a 5), no MISS (Museu da Imagem e do Som de Santos), na Cinemateca de Santos, na Gibiteca Municipal Marcel Rodrigues Paes, na Universidade São Judas (Campus Unimonte), na Estação da Cidadania, no Cine Arte Posto 4 (pequenino e aconchegante, situado na famoso Calçadão da Orla), no Cine ZN, na Cinescola Querô (nunca é demais lembrar que o longa “Querô”, de Carlos Cortez, plantou fértil semente cinematográfica na cidade), no Instituto Arte no Dique, na Open House Idiomas, no Shopping Pátio Iporanga e no imenso e confortável Sesc Santos, situado no bairro de Aparecida. É realmente notável o circuito mobilizado pelo jovem festival caiçara. Toda a programação será gratuita.

O festival é, por enquanto, apenas informativo. Não dispõe, portanto, de comissão julgadora. Só o público será convidado a votar em seus filmes preferidos, que farão jus ao Troféu Rubens Ewald Filho. O crítico e curador, conterrâneo de Ney Latorraca, Bete Mendes, Nuno Leal Maia e do cineasta José Roberto Torero, receberá, como pedia Nélson Cavaquinho em “Quando Eu me Chamar Saudade” as flores em vida (“Se alguém quiser fazer por mim/que faça agora/ Me dê as flores em vida/ o carinho, a mão amiga”). A trajetória de Ewald será lembrada em livreto autobiográfico de 70 páginas e através de exposição montada em galeria do Pátio Iporanga. Ele participará, ainda, de conversa com o público, na quarta-feira (20h00), no campus Unimonte, ao lado de Luciano Quirino (com mediação de Waldemar Lopes).

O ensaísta e professor da USP, Ismail Xavier, vai lançar nova edição de “Sétima Arte: O Culto Moderno”, no Sesc Santos (quinta-feira, 30 de agosto, 19h00). Antes dos autógrafos, haverá debate com moderação de Adilson Mendes. Outro livro que será lançado (e debatido com o autor) é “Cinema Explícito”, de Rodrigo Gerace (dia 29, 19h00, também no Sesc).

Entre os filmes brasileiros programados pelo III Santos Film Festival, estão “A Fera na Selva”, de Paulo Betti, Eliane Giardini e Lauro Escorel, “Henfil”, de Angela Zoé, “A Cidade Onde Envelheço”, de Marília Rocha, “Duas Irenes”, de Fábio Meira, “Vermelho Russo”, de Charly Braun, “Amores de Chumbo”, de Tuca Siqueira, “O Animal Político”, de Tião, “Jonas e o Circo sem Lona”, de Paula Gomes, além da pré-estreia da comédia “Crô em Família”, de Cininha de Paula.

Vários debates mobilizarão santistas interessados em temas como “Distribuição de Filmes”, “Produção de Cinema Independente” e “Animação Brasileira”, além de oficinas técnicas e de um workshop sobre “Cinema e Direitos Universais da Criança”, ministrado por Cristina Mekitarian. Graças à colaboração do National Film Board do Canadá, o público infantil e juvenil assistirá a filmes deste instituto, uma das maiores e mais respeitadas escolas de animação do mundo. A programação completa está disponível no youtube.

Por Maria do Rosário Caetano

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