Marcélia Cartaxo prepara seu primeiro longa como diretora

A vida de artista de Marcélia Cartaxo sofreu um revés na primeira década dos anos 2000. Radicada no Rio de Janeiro, a protagonista de “A Hora da Estrela” (Suzana Amaral, 1986), filme que lhe rendeu um Urso de Prata de melhor atriz em Berlim, viu as oportunidades de trabalho rarearem na TV e no cinema. Para complicar, encerrava uma relação matrimonial. Resolveu, então, regressar à sua Paraíba natal. Fez bem.

Hoje, Marcélia é gestora cultural (trabalha na Funjope, a Fundação Cultural de João Pessoa), já dirigiu três curtas, está no elenco de três filmes novíssimos prontos para estrear, terá sua vida narrada nas telas e, o que é melhor, vai dirigir seu primeiro longa-metragem, “Eu Vou Tirar Você desse Lugar”.

Sincera como ela só, a atriz avisa que “Eu Vou Tirar Você desse Lugar”, escrito pelo ator Paulo Roque, “é um bom roteiro”, mas “o tema é batido”. Por isto, ela, o roteirista e o produtor João Paulo Procópio estão “dando novo tratamento” ao material. “Nossa intenção é fazer um filme cheio de frescor, bem interessante”.

Procópio conta que as filmagens de “Eu Vou Tirar Você desse Lugar” somarão esforços alagoanos e paraibanos. “Agora em fevereiro”, detalha, “nos reuniremos em Maceió para leituras de mesa e aprofundamento de nossas percepções sobre como ambientar o filme, se no litoral ou no sertão”. E avisa: “trata-se de um melodrama, cujas construções se valem dessas cores, calores, sabores e dissabores do Nordeste”. Afinal, “o longa fala de amores improváveis entre pessoas em crise, sem perspectivas e marginalizadas em contexto no qual imperam a pobreza e o preconceito”.

“Paulo Roque, que já trabalhou com Karim Aïnouz, Vicente Amorim e Cláudio Torres” – pondera o produtor – “vem montando a equipe e tem a apresentar como seu cartão de visitas o próprio roteiro, um trabalho envolvente, potente, bem estruturado. Nossos encontros têm contado com colaborações de toda a equipe, a começar pela própria Marcélia, que traz sugestões de aperfeiçoamento”.

“Eu Vou Tirar Você desse Lugar” é um filme de baixo orçamento. Procópio garante “o compromisso de valiosos talentos do cinema brasileiro, a começar por Marcélia Cartaxo em sua estreia na direção de longas, pelo inventivo Petrus Cariri, na direção de fotografia, Patrícia Ramos, na direção de arte, Luíza Fardin, no figurino, e Natara Ney, na montagem”. O filme “trará o crédito de nossa produtora, a alagoana La Ursa Cinematográfica, e terá, no elenco, Erlene Melo, Paulo Roque, Adriano Garib, Tuca Andrada e Zezita Matos”.

Marcélia tornou-se diretora em 2003, quando assinou, em parceria com Gisella Mello, o curta-metragem “Tempo de Ira”. Depois, dirigiu, sozinha, “De Lua” e “Redemunho”. Estes três filmes tiveram boas vitrines em festivais brasileiros e conquistaram alguns prêmios.

Ao longo deste ano, Marcélia verá três de seus novos filmes no circuito de festivais e, de preferência, no circuito exibidor. Um dos longas-metragens que a têm em sua equipe é o documentário “Seu Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira)”, de Bertrand Lira.

O que faz uma atriz no “elenco” de um documentário? O diretor explica: “além de Marcélia, há outra grande atriz paraibana no elenco, Zezita Matos”. Só que – detalha o realizador paraibano – “elas dão depoimentos baseados em histórias de vida, da vida delas mesmas, assim como os outros personagens do filme, o poeta William Muniz e a transexual Danny Barbosa”. Exibido fora de competição no Festival Aruanda, o filme recebeu o Prêmio da Crítica, atribuído por júri especial presidido por Jean-Claude Bernardet.

O outro longa paraibano que conta com Marcélia Cartaxo em seu elenco é “Ambiente Familiar”, de Torquato Joel. Ela interpreta a mãe de um dos três protagonistas do filme (rapazes homoafetivos, que forjam novo arranjo familiar).

No Ceará, Marcélia protaganizou “Pacarrete”, longa-metragem do cearense Allan Deberton. “Dez anos atrás”, conta o diretor, “convidei Marcélia para atuar no meu curta ‘Doce de Côco’ e ali nasceu uma grande amizade e o desejo de realizarmos novos trabalhos juntos”. Um está quase pronto e o outro, “em fase de roteirização”. Trata-se, este último, de longa-metragem sobre a história da própria atriz, nascida há 55 anos, em Cajazeiras, no sertão da Paraíba, e que, aos 22 anos, ganhou um Urso de Prata no Festival de Berlim.

“Minha proposta” – conta Debberton, apoiado por seu coprodutor André Araújo – “é fazer não um documentário, mas sim um filme de ficção, no qual a vida de Marcélia e a de Macabéa (a personagem criada por Clarice Lispector) se entrecruzam, tornando-se, por vezes, uma só”. A partir de Cajazeiras, até chegar a Berlim, “contaremos como uma jovem sonhadora imortalizou uma das personagens mais emblemáticas da literatura brasileira, enfrentando o conservadorismo e o machismo de sua época”. Afinal, “ela ousou sair sozinha de sua pequena cidade para viver em São Paulo e realizar seu sonho”.

O longa, também ficcional, “Pacarrete” tem Marcélia Cartaxo como sua protagonista. Ela interpreta a recriação de Maria Araújo Lima, “filha de agricultores nascida na cidade de Russas, interior do Ceará, que conseguiu estar no centro do palco, sob os holofotes, como bailarina clássica e professora de balé em várias escolas de Fortaleza”.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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