Meu Mundial

Por Maria do Rosário Caetano

“Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar”, coprodução entre Uruguai, Brasil e Argentina, estreia nesta quinta-feira, 19, no circuito brasileiro. O filme, simpática trama boleira destinada a público adolescente, tem direção de Carlos Andrés Morelli e baseia-se em livro homônimo de Daniel Baldi, ex-jogador uruguaio.

Os torcedores do São Paulo, o tricolor paulista, têm uma razão a mais para gostar do filme. É que, em seu delicioso desfecho, “Meu Mundial” traz carta (generosa e edificante) escrita por Diego Lugano, ex-capitão (na vida real) da Seleção Uruguaia e atleta de carreira vitoriosa no time do Morumbi (no qual exerce, hoje, função institucional).

Quem lê a carta escrita por Lugano, que compareceu à pré-estreia do longa no Espaço Itáu Frei Caneca, é o protagonista Tito Torres, um aspirante a craque, interpretado pelo promissor Facundo Campelo. O garoto, de 13 anos, divide a narrativa com Florência (Candelária Rienzi). Os dois são, além de namorados, apaixonados por futebol. Ele deseja ser um craque disputado por grandes equipes internacionais e ela joga no time As Garrinchas.

Na retaguarda dos dois, estão três craques do cinema uruguaio, César Troncoso (“O Banheiro do Papa”), Verónica Perrota (“Os Golfinhos Vão para o Leste”) e o carismático Nestor Guzzini, premiado com o Troféu Kikito, em Gramado, por seu desempenho como um incansável trabalhador e pai de Tito. Eis aí um ator que o Brasil precisa descobrir (ele integrou o elenco do sensível “Severina”, de Felipe Hirsch).

Dois brasileiros integram o elenco: Roney Villela, na pele de um agente que compra craques em potencial para outros times, e um médico do São Paulo Futebol Clube, interpretado por Fernando Muniz, também coprodutor e distribuidor do filme.

“Meu Mundial” alcançou enorme sucesso no Uruguai (maior bilheteria no país, nos últimos cinco anos). E não é para menos: nossos vizinhos já foram bicampeões mundiais de futebol (em 1950 – trauma verde-amarelo – derrotaram a nossa favoritíssima Seleção, no Maracanã), e vivem a nostalgia de um tempo heroico. Vivem, também, o desejo de voltar a triunfar.

Celeiro de craques (caso de Lugano e Luiz Suárez), o Uruguai prova, com este filme, ser capaz de prender a atenção do público juvenil, com história terna, bem construída e bem interpretada.

O garoto Tito Torres revela-se um prodígio no futebol. Ele vive em uma pequena cidade no interior uruguaio e acaba chamando a atenção de olheiro brasileiro. Proposta tentadora será apresentada à sua humilde família: ele será levado para a capital Montevidéu e conhecerá o sucesso.

À medida que Tito inicia sua ascensão nas equipes de aspirantes, seus pais se veem confrontados com o dilema de continuar a exercer a autoridade sobre ele, precocemente transformado em real provedor da casa. E, para complicar, o garoto vê na bola o único sentido de sua vida, passando a negligenciar os estudos, a própria família e, até, sua primeira namorada.

Carlos Morelli não ignora as seduções trazidas pela fama no ambiente de preparação de jogadores cada vez mais competitivos e globalizados (não podemos esquecer que, se alguns poucos triunfam, milhares de outros caem no anonimato). Um acidente, bem colocado na trama, trará Tito Torres de volta à realidade. O final o fará reconhecer o que é realmente importante na vida.

O estreante Facundo Campelo foi escolhido através de “peneira artística” entre juniores de equipes uruguaias. Morelli fazia questão que o escolhido tivesse familiaridade com a bola. Que fosse capaz de garantir a execução de lances essenciais à prática do futebol. Além de promissor boleiro, Facundo Guerra mostrou sensibilidade artística para interpretar Tito Torres.

O livro “Meu Mundial”, origem do filme, foi publicado no Uruguai (onde vendeu 30 mil exemplares), Argentina, Peru, Paraguai, Bolívia, Espanha e México. Conquistou o Gold Book Award. A carta de Lugano, amigo pessoal e colega de geração do ex-jogador Daniel Baldi, está no prólogo do livro. No filme, foi deslocada para o final.

Além das comoventes palavras do ex-jogador são-paulino, o filme conclui sua história de superação e redenção com a potência mobilizadora de melodia e versos de “Los Camiños de la Vida”, cantada por Vicentico. Quem curte uma simpática Sessão da Tarde, destas que vemos na TV, vai gostar de “Meu Mundial”.

Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar
Uruguai, Brasil, Argentina, 102 minutos, 2019
Direção: Carlos Andrés Moreli
Elenco: Facundo Campelo, Candelária Rienzi, Nestor Guzzini, César Troncoso, Verónica Perrota, Marcel Keoroglian, Roney Villela e Fernando Muniz
Será apresentada versão de acessibilidade audiovisual com audiodescrição para cegos e tradução para Língua de Sinais Uruguai (LSU) e legendas para surdos.

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