Encontro Zózimo Bulbul realiza edição virtual

Por Maria do Rosário Caetano

O Encontro do Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas inicia, nessa quarta-feira, 21 de outubro, sua décima-terceira edição, a primeira virtual. Até dia 30, serão exibidas 36 sessões, compostas com 130 filmes brasileiros e internacionais, seminários, oficinas, debates e homenagem ao Mali, país natal do cineasta Souleymane Cissé.

O malinense Souleymane, de 80 anos, forma, com os senegaleses Ousmane Sembène (1923-2007) e Djibril Diop Mambety (1945-1998), e com Idrissa Oeudraogo (1954-2018), de Burquina Faso, grupo dos mais relevantes na história do cinema africano. Formado, como Sembène, pela mais antiga escola de cinema do mundo (a Universidade Panrussa Sergei Guerássimov de Cinematografia), Souleymane Cissé dedicou-se à realização de filmes de empenho social e político. Só um deles, “Yeelen – A Luz”, chegou ao circuito comercial brasileiro. E isso aconteceu por razão muito especial. “Yeelen” recebeu, em 1987, o Grande Prêmio do Júri, no Festival de Cannes, façanha até então não realizada por uma produção vinda da África.

Na filmografia de Cissé, destacam-se “Finyé – O Vento”, “Baara – O Trabalho”, “A Garota” e “Waati”. Durante o mais antigo e duradouro festival de cinema negro do Brasil, o cineasta conversará, virtualmente, de seu país de origem, com o público de todas as regiões brasileiras.

O Encontro Zózimo Bulbul não é competitivo. Como seu nome deixa claro, sua proposta é promover o congraçamento entre realizadores afro-brasileiros, de forma que possam trocar experiências, mostrar seus filmes, dialogar com realizadores internacionais (caso de Cissé), participar de oficinas e debates. A mostra, que já teve curadoria do cineasta Joel Zito Araújo (“A Negação do Brasil”, “Meu Amigo Fela”), passou por intensa renovação nos dois últimos anos. Hoje, seu comando é quase 100% feminino. Janaína Oliveira assina a curadoria e Viviane Ferreira, a direção artística. Ambas são integrantes da Apan (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro).

Janaína é pesquisadora de cinema e Viviane tem seu primeiro longa-metragem, “Um Dia com Jerusa”, protagonizado por Léa Garcia, nas competições da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (de 22 de outubro a 4 de novembro) e no Festival de Vitória (de 24 a 29 de novembro). Ela presidirá, esse ano, a comissão designada pela Academia Brasileira de Cinema para realizar a escolha de nosso candidato ao Oscar de melhor produção internacional. A premiação acontecerá no dia 25 abril de 2021.

Além de exibir gratuitamente 130 curtas, médias e longas-metragens, o Encontro Zózimo Bulbul oferecerá consultoria e bolsas para três roteiristas (no valor de R$ 50 mil). Mais que premiar os melhores em categorias artísticas ou técnicas, o comando do festival afro-brasileiro deseja fomentar a criação e produção audiovisual de profissionais pretos.

O tema do evento, que pretende atingir o limite de 1.200 espectadores por sessão, é “A Experiência do Abraço”. O comando do festival lembra que “esse tema permeia e costura nossas memórias coletivas, nos motiva a reaprender e repensar valores, desafiando o público a trilhar caminhos que permitam colocar o suporte tecnológico e as conexões virtuais a serviço do afeto”. Essa edição, a de número 13, destacará a relação dos filmes com suas trilhas sonoras.

O idealizador do Encontro de Cinema Negro – Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas, o ator e cineasta Zózimo Bulbul (“Alma no Olho”, “Abolição”) completaria 83 anos, se não tivesse morrido sete anos atrás. Como ele fundou o festival em 2007, as novas gerações fazem questão de, em sua homenagem, realizar, anualmente, nova edição em consonância com os princípios do artista. Ou seja, “reunir profissionais do audiovisual em espaço marcado pela busca de confiança, troca, crescimento, conhecimento e formação”. Com o foco em recorte “afro-diaspórico (africanos, caribenhos e das Américas) voltado à valorização das diversidades territoriais e de gênero”, com atenção redobrada “às mais ampla trocas intergeracionais”.

A pedido da Revista de CINEMA, a curadoria destacou alguns dos filmes programados esse ano: “Rsidue”, de Merawi Gerimam, em estreia latino-americana, o primeiro filme de Haile Gerima, homenageado em 2018, e o novo filme da cineasta Shirikiana Aina.
“Teremos um encontro de gerações na programação” – adiciona a curadoria – “com o tema das resistências negras aos processos de gentrificação em Washington DC. O filme – ‘Teza’ – foi comprado pela Array, de Ava Duvernay, e estreou na Netflix estadunidense, depois de ter feito sua première no Festival de Veneza”. Em destaque, também, “a première latino-americana do filme de abertura – ‘Nafi’s Father’, do estreante senegalês Mamadou Dia, premiado no Festival de Locarno, ano passado, na mostra opera-prima (primeiro longa-metragem).

Há que se registrar que, no Brasil, nos últimos anos, novas iniciativas de promoção do cinema afro-brasileiro (e oriundo de muitos países do continente africano) estão se consolidando. Seja em plataformas virtuais ou salas físicas. Várias cidades (São Paulo, com apoio do CineSesc) sediam o festival Cine África, organizado pela curadora baiana Ana Camila Esteves. Nesse exato momento, o evento acontece virtualmente no Projeto Cinema em Casa, organizado pelo Sesc (exibição semanal de um filme vindo da África).

No Rio Grande do Sul, depois de imensa polêmica nas redes sociais, nasce o Festival Cinema Negro em Ação, que tem nos cineastas Camila de Moraes, diretora de “O Caso do Homem Errado”, e Zeca Brito (“Legalidade”), também diretor do Iecine (Instituo Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul), seus coordenadores. Outro evento que deve ganhar cada vez mais relevância é o Griot – Festival de Cinema Negro Contemporâneo, cuja terceira edição está agendada para o final do ano (11 a 20 de dezembro), em Curitiba.

XIII Encontro do Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas
Data:
21 a 30 de outubro
Edição on-line, com sessões gratuitas
Exibição de 130 filmes divididos e 36 sessões
Na homenagem virtual a Souleymane Cissé, Janaína Oliveira e Viviane Ferreira comandarão a conversa, com tradução consecutiva. Os inscritos no zoom poderão fazer perguntas ao cineasta do Mali
A programação da manhã é toda ao vivo, tanto com os convidados nacionais, quanto os internacionais. Durante nove dias, na parte da manhã, ocorrerá um webinar
A plataforma do Encontro é a NNSAEI
Mais informações no site: www.afrocariocadecinema.org.br

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