Antonio Banderas comanda entrega digital dos Prêmios Goya

Por Maria do Rosário Caetano

A Academia de Arte Cinematográfica da Espanha entrega, neste sábado, 6 de março, em Málaga, os Prêmios Goya aos melhores filmes do ano passado. O grande favorito é “Adu”, drama que soma três histórias ambientadas na África e causou sensação no mercado espanhol. E, também, internacionalmente, graças à Netflix, que o promoveu com alarde em seus poderosos serviços de streaming espalhados pelo mundo.

Por causa da pandemia, a festa do Goya acontecerá no espaço virtual. O ator Antonio Banderas, malaguenho como Pablo Picasso, comandará, em parceria com María Casado, a cerimônia on-line. Um Goya de Honor será entregue à atriz Angela Molina, que dividiu com Carole Bouquet o papel de protagonista de “Esse Obscuro Objeto do Desejo”, último filme do mestre Luis Buñuel. Aos 65 anos, a bailarina, que tornou-se uma das atrizes mais conhecidas da Espanha, segue em plena atividade.

Se não fossem tão graves as restrições sanitárias impostas pela epidemia da Covid-19, a Festa dos Goya aconteceria em Valencia, cidade natal de Luis García Berlanga (1921-2010), nome que fez história no cinema espanhol com a sátira “Bem-Vindo Mr. Marshall” (1953) e a comédia de humor negro “El Verdugo” (1963), esta disponível no cardápio do Belas Artes à la Carte. Se vivo fosse, Berlanga faria 100 anos em 12 de junho próximo. A Academia garante que, na cerimônia dos Goya do ano que vem, Valencia celebrará in loco o encerramento dos festejos do Ano Berlanga.

Ano passado, os Prêmios Goya consagraram, na mesma Málaga de Banderas, “Dor e Glória”, o mais confessional dos filmes de Pedro Almodóvar. Foram muitos prêmios conquistados e, claro, um Goya coube ao notável trabalho do ator malaguenho, protagonista absoluto da autobiografia almodovariana. Banderas ficou muito emocionado com seu “cabeçudo”, nome carinhoso do troféu esculpido como volumoso busto do pintor Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828).

Este ano, os prêmios poderão ter distribuição menos concentrada que a de 2020. “Adu” tem muitas qualidades, mas não traz a maestria do autor de “Tudo sobre minha Mãe”.

A festa deste sábado não deve ser tão badalada quanto a do ano passado. Além das restrições ao espetáculo (incluindo o desfile de moda das atrizes concorrentes e convidadas) impostas pela pandemia, há que se convir que uma coisa é uma Noite de Goyas com Almodóvar (o nome mais conhecido do cinema espanhol, junto com Buñuel e Saura) e seus elencos mobilizadores (em “Dor e Glória”, liderado por Penélope Cruz e Banderas).

Na edição deste ano, entre os poucos nomes conhecidos fora da Espanha estão Candela Peña, Javier Cámara e Sergí Lópes. Candela, que já trabalhou com Almodóvar, concorre como melhor protagonista por “La Boda de Rosa”, dirigido por Icíar Bolaín (atriz de “Terra e Liberdade”, de Ken Loach, hoje, diretora consagrada na Espanha). Mas a distribuição dos filmes de Icíar ainda não superou as fronteiras da Península Ibérica. Também no elenco de “La Boda de Rosa” está Sergí López, que divide-se entre Paris (onde protagonizou com Nathalie Baye o drama “Uma Relação Pornográfica”) e Madri (“O Labirinto do Fauno”). Sergí concorre a ator coadjuvante.

Javier Cámara, que brilhou no almodovariano “Fale com Ela”, é o nome mais conhecido a disputar o Goya de melhor ator. Ele protagoniza “Sentimental”, de Cesc Gay. E está, também, à frente do drama histórico “El Olvido que Seremos”, que Fernando Trueba (Oscar de melhor filme estrangeiro com “Belle Époque”) dirigiu na Colômbia. O novo Trueba foi indicado na categoria “melhor filme ibero-americano” (e só). E, para complicar, terá que enfrentar a forte concorrência do chileno “O Agente Duplo”, delicioso e inventivo documentário de Maite Alberti (pré-indicado ao Oscar de melhor filme internacional e de melhor documentário).

No terreno da animação, a noite dos Goya mostrará as fragilidades da produção espanhola (e de dezenas de países) de filmes do gênero (os dibujos animados). Este tipo de filme, que encontrou nos EUA sua potência máxima, é admirado por crianças e jovens (e, também por adultos). Mas, nos dias atuais, fora dos EUA, só o Japão consegue mobilizar grandes bilheterias com seus filmes animados.

Ano passado, a lista de candidatos ao Goya de animação preencheu as quatro vagas disponíveis e laureou “Buñuel no Labirinto das Tartarugas”, de Salvador Simó. Um filme para adultos, mas de altíssima qualidade e relevância. Esse ano, “La Galina Turuleca”, de Eduardo Gondell e Victor Monigote, já chegou premiado à competição. Afinal, não tem nenhum concorrente.

“Adu”, o favorito aos Goya na categoria melhor filme (de ficção), é um drama social com ótimos atores amadores (Moustapha Oumarou, Zayiddiya Dissou e Adam Nourou) e profissionais (Luis Tosar e Álvaro Cervantes, em especial). O roteiro de Alejandro Hernández, candidato ao Goya, soma três narrativas que envolvem cidadãos espanhóis e africanos. As três ambientam-se em países da África.

Uma das tramas se desenvolve na cidade-enclave de Melilla (possessão mantida pela Espanha em território africano, reivindicado pelo Marrocos). Cerca de arame muito vigiada tenta impedir que africanos cheguem ao solo espanhol. Um imigrante é morto ao escalar o “muro” e grupo de policiais irá a julgamento judicial. Acontecerá algo com eles? Serão punidos?

A segunda história, a mais tocante, é protagonizada por um menininho de seis anos, Adu (o impressionante Moustapha Oumarou) e sua irmãzinha Alika (Zayiddiya Dissou), que certo dia assistem à matança ilegal de elefante por contrabandistas de marfim. Sob risco de serem encontrados pelos caçadores, eles fogem e sonham chegar à Espanha. Duas sequências (uma das crianças no cargueiro de um avião) só são recomendáveis a quem tem nervos de aço. Ficam, ambas, na fina linha que divide o drama realista do espetáculo sensacionalista. Um terceiro personagem, o adolescente Massar (Adam Nouru), candidato a ator revelação) desempenhará papel essencial nesse núcleo.

A terceira história mostra Gonzalo, um espanhol desiludido da vida (Luis Tosar), mas empenhado em salvar elefantes da extinção. Ele recebe, num país africano, Sandra, sua filha rebelde (Ana Castillo), adicta de drogas. O filme abusa da trilha sonora, onipresente, mas tem momentos de grande impacto e revelam um diretor seguro.

OS CANDIDATOS AO GOYA

Melhor filme

. “Adu”, de Salvador Calvo
. “La Boda de Rosa”, de Icíar Bolaín
. “Las Niñas”, de Pilar Palomero
. “Sentimental”, de Cesc Gay

Melhor filme documentário

. “My Mexican Bretzel”, de Nuria Gimenez Lorang
. “Cartas Mojadas”, de Paula Palacios
. “El Año del Descubrimiento”, de Luis Lópes Carrasco
. “Anatomia de un Dandy”, de Alberto Ortega e Charlie Arnaz

Melhor filme ibero-americano

. “O Agente Duplo”, de Maite Alberti (Chile)
. “La Llorona”, de Jayro Bustamante (Guatemala)
. “Ya no Estoy Aqui”, de Fernando Frías (México)
. “El Olvido que Seremos”, de Fernando Trueba (Colômbia)

Melhor filme europeu

. “O Oficial e o Espião”, de Roman Polansky (França)
. “Corpus Christi”, de Jan Komasa (Polônia)
. “Meu Pai”, de Florian Zeller (Inglaterra)
. “Falling”, de Viggo Mortensen (Dinamarca/EUA)

Melhor filme de animação 

. “La Galina Turuleca”

Melhor direção

. Icíar Bolaín, por “La Boda de Rosa”
. Isabel Coixet, por “Nieva em Benidorm”
. Juanma Bajo Uloa, por “Baby”
. Salvador Calvo, por “Adu”

Melhor direção de estreante

. Nuria Gimenez Lorang, por “My Mexican Bretzel”
. Pilar Palomero, por “Las Niñas”
. David Perez Sañudo, por “Anne”
. Bernabé Rico, por “El Inconveniente”

Melhor atriz

. Candela Peña, por “La Boda de Rosa”
. Amaia Aberasturi, por “Akelarre”
. Patricia López Arnaiz, por “Ane”
. Kiti Mánver, por “El Inconveniente”

Melhor ator

. Javier Cámara, por “Sentimental”
. Ernesto Alterio, por “Um Mundo Normal”
. Mario Casas, por “No Matarás”
. David Verdaguer, por “Uno Para Todos”

Melhor atriz coadjuvante

. Juana Acosta, por “El Inconveniente”
. Natalia Molina, por “Las Niñas”
. Nathalie Poza, por “La Boda de Rosa”
. Verónica Echegui, por “Explota Explota”

Melhor ator coadjuvante

. Sergi López, por “La Boda de Rosa”
. Alberto San Juan, por “Sentimental”
. Juan Diego Botto, por “Los Europeos”
. Alvaro Cervantes, por “Adu”

Melhor atriz revelação

. Jone Laspur, por “Ane”
. Paula Usero, por “La Boda de Rosa”
. Milena Smith, por “No Matarás”
. Griselda Siciliani, por “Sentimental”

Melhor ator revelação

. Adam Nouru, por “Adu”
. Chema del Barco, por “El Plan”
. Jannick, por “Historias Lamentables”
. Fernando Valdivieso, por “No Matarás”

Melhor roteiro original

. Alícia Luna e Icíar Bolaín, por “La Boda de Rosa”
. Pilar Palomero, por “Las Niñas”
. Alejandro Hernández, por “Adu”
. Claro García e Javier Fesser, por “Historias Lamentables”

Melhor roteiro adaptado

. Cesc Gay, por “Sentimental”
. David Perez e Marina Parés, por “Anne”
. Bernardo Sanchez e Maria L. Castillo, por “Los Europeos”
. David Galán e Fernando Navarro, por “Orígenes Secretos”

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