Elza Soares em série e filme

Por Maria do Rosário Caetano

Agora é oficial. A Globoplay confirma a exibição, em curto prazo, de série original de nome apaixonante – “Elza & Mané – Amor por Linhas Tortas”, sobre a paixão que uniu a cantora Elza Soares e o craque Mané Garrincha. Na direção, Caroline Zilberman.

A Globonews, por sua vez, confirma a produção do longa documental “A Mulher do Fim do Mundo”, de Eryk Rocha, sobre a artista carioca que morreu no dia 20 de janeiro, nonagenária, coberta de glória e trabalhando como se estivesse em seus verdes anos. O projeto do diretor de “A Rocha que Voa” deve estrear no começo de 2023.

Quem assistiu à série “Doutor Castor”, na mesma Globoplay, pode imaginar o que verá em “Elza & Mané – Amor por Linhas Tortas”. Afinal, ambas têm a mesma origem: o núcleo de Esporte da Globo. Ao contar a história do bicheiro Castor de Andrade, responsável por inumeráveis contravenções e crimes (“encobertos” pelo patrocínio das glórias da Mocidade Independente de Padre Miguel e do time do Bangu), a equipe global revelou imagens esquecidas ou raras.

A história de “Elza & Mané” nada tem a ver com crime. Seus ingredientes são bem mais aliciantes – samba (incluindo a Mocidade, escola do coração de Elza Soares), futebol (jogado pelas pernas tortas do craque de origem Funiô) e uma paixão avassaladora a uni-los. Paixão condenada por muitos, que viam na cantora, três anos mais velha que o craque botafoguense, uma “destruídora de lares”. Afinal, Mané era casado com Dona Nair e pai de oito filhas.

O núcleo de Esporte da Globo descreve o projeto da diretora Caroline Zilberman (ela assina o roteiro com Rafael Pirrho): “a série contará a história da paixão reprovada pela sociedade de um dos casais mais famosos do Brasil – Garrincha, o gênio do futebol, e Elza, a estrela da MPB, dois ícones que nos ajudam a compreender o Brasil e sua identidade”. Zilberman e Pirrho prometem trafegar, em “Amor por Linhas Tortas”, pelo “preconceito, alcoolismo, violência doméstica, perseguição política e grandes perdas”.

E – há que reafirmar-se – ninguém pense que terá que esperar meses, até anos, para assistir à série. Como todos os projetos grifados pela marca Globo, a equipe da série documental já está em campo colhendo depoimentos, enquanto a área jurídica acerta aquisição de direitos fonográficos e de imagens. Por isso – promete o poderoso grupo de comunicação – “a obra será lançada nos próximos meses”.

“Elza – A Mulher do Fim do Mundo”, o longa de Eryk Rocha, é fruto de parceria da Aruac Filmes e Maria Farinha com a Globo Filmes, Globonews e Globoplay. Diretor de longas documentais (como “Cinema Novo”, “Jards” e “Edna”) e de fições (“Transeunte”, “Breve Miragem de Sol”), Eryk Rocha se propõe a mostrar a “Cantora do Milênio”, título dado a Elza pela BBC, no auge de suas potencialidades, aos 90 anos. Ela será vista como “mito e expressão das conquistas do povo negro e das mulheres na história recente do Brasil”. Seu show será mostrado como “um ato político, que fala da fome, do negro, do racismo, da homofobia, da transfobia, da falta de água e da miséria”. Sua música “é um meio de comunicação e sua história perpassa a história cultural e social do Brasil no último século”.

A própria Elza Soares diz “My name is now” ao definir-se e definir “sua conexão com a urgência da transformação do agora”. A montagem do filme trará a assinatura de Cristina Amaral, que processará imagens de Elza em shows pelo mundo, além de relíquias de arquivo. E – reafirma o diretor – “sempre promovendo associações com pautas bem atuais como o feminismo e o racismo”.

Além da série e do filme sobre Elza Soares, mais quatro nomes estelares serão tema de documentários produzidos pela Globonews, em parceria com a Globo Filmes e Globoplay: Beth Carvalho, Maria Bethânia, Tom Jobim e Belchior.

A produção mais aguardada é “Andança”, de Pedro Bronz, produção da TV Zero, com larga experiência no terreno dos documentários musicais. Afinal, a sambista carioca Beth Carvalho, oriunda da classe média de Botafogo, nunca foi tema de um longa-metragem. Por mais que o merecesse. Afinal, ela vendeu milhões de discos, transformou Cartola, Nelson Cavaquinho, Zeca Pagodinho e a turma do Cacique de Ramos em megassucessos radiofônicos. “Vou Festejar” e “Coisinha do Pai” estouraram. Esta última foi até utilizada pela Nasa para “acordar” o robô Sojourner, parte da missão Mars Pathfinder (de exploração do planeta Marte).

Pedro Bronz e a trupe da produtora de Roberto Berliner pretendem mostrar “várias facetas da vida de Beth “Andança” Carvalho: intérprete que sempre geriu artisticamente sua própria carreira, madrinha musical de diferentes gerações de sambistas, botafoguense “doente” (torcedora do time de Garrincha) e, sobretudo, aguerrida ativista política”.

“Ao longo de sua carreira” – lembram os produtores – “Beth foi registrando centenas de rodas de samba e encontros com compositores que hoje compõem vasto material de arquivo”. Afinal, “ela mesma montava o tripé, ligava a câmera e registrava tudo”. Esse material, por ela produzido e, depois de filmado, servia como arquivo pessoal para seleção do próprio repertório. Daí que “esse arquivo é a certidão de nascimento de uma nova forma de tocar samba, é o DNA do pagode carioca, que revolucionou a música brasileira consolidando o samba como uma das mais importantes manifestações culturais do país”.

“Andança”, um título, convenhamos, meio antigo e menos mobilizador que “Vou Festejar”, evoca o primeiro grande sucesso da artista, que estourou nas paradas de sucesso em 1968. Trata-se de bela composição de Paulinho Tapajós, Edmundo Souto e Danilo Caymmi, classificada em terceiro lugar no rumoroso FIC (Festival Internacional da Canção) vencido por “Sabiá” (Tom & Chico), sob vaias, e com “Prá Não Dizer que Não Falei das Flores” (Vandré), em segundo lugar. Na coprodução do documentário “Andança” estão a Globo Filmes, Globonews e Canal Brasil. Na distribuição, a Vitrine Filmes.

“Tom Jobim” é o nome do novo documentário de Miguel Faria Jr, autor de dois sucessos de crítica e público – “Vinícius” (quase 300 mil espectadores) e “Chico, Artista Brasileiro” (150 mil). Com produção da Urca Filmes e Arpoador Audiovisual (Globo Filmes e Canal Brasil na coprodução), o cineasta se propõe a empreender “uma grande viagem pela trajetória de Antônio Carlos Jobim, a partir de concerto encenado, ao vivo, para ser filmado em sala teatral”.

Um seleto repertório será escolhido para o referido concerto, concebido especialmente para o filme e executado por banda e solistas em diversas formações. E com participações especiais de cantores consagrados. Caso de Chico Buarque, Edu Lobo, Mariza Monte, Carminho, Stacy Keant, John Pizzarelli, entre outros. Miguel Farias Jr pretende seguir cronologia livre. Como se vê, o projeto é bem diferente dos dois filmes que Nelson Pereira dos Santos dedicou ao maestro soberano: “A Música Segundo Tom Jobim” (2012, em parceria com Dora Jobim) e “A Luz do Tom” (2013).

“Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu” é mais um mergulho cinematográfico na obra de Maria Bethânia, uma das cantoras que têm melhor (e mais próxima) relação com o cinema brasileiro. Relação que começou em 1966, quando Júlio Bressane e Eduardo Escorel filmaram o curta documental “Bethânia Bem de Perto”, e prosseguiu com “Saravah”, do francês Pierre Barouh (1971), “Quando o Carnaval Chegar”, ficção de Carlos Diegues (1972), “Os Doces Bárbaros”, de Jom Tob Azulay (1975), “Outros (Doces) Bárbaros”, de Andrucha Waddington (2002), “Maria Bethânia – Brasileirinho ao Vivo”, de Bia Lessa (2004), “Maria Bethânia: Música é Perfume”, de George Gachot (2005), “Maria Bethânia, Pedrinha de Aruanda”, de Andrucha Waddington (2006), “Bethânia e Cleonice Bernardinelli – O Vento Lá Fora” (2014) e “Fevereiros” (2017), ambos de Marcio Debelian.

Carlos Jardim vai dirigir “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, que tem produção da Turbilhão de Ideias e coprodução da Globo Filmes e Globonews.

A sinopse do documentário lembra que a cantora baiana é sempre lembrada com adjetivos grandiloquentes – “rainha”, “deusa” e assemelhados. Em 2020, Bethânia completou 55 anos de carreira. Surgiu, então, o desejo de registrar essa “trajetória marcada pela dramaticidade, pelo amor à poesia e pela coerência em seguir um caminho único na Música Popular Brasileira”. O filme pretende acompanhar “essa rica e vibrante história”.

Dois filmes tendo Belchior como personagem principal ou de relevo devem estrear antes de “Alucinação”, de Renato Terra, diretor da bem-sucedida série “O Canto Livre de Nara” e um apaixonado pela música popular brasileira. O primeiro a chegar ao mercado será “Belchior – Apenas Um Coração Selvagem”, da dupla Camilo Cavalcanti e Natália Dias (ainda neste semestre). O segundo – “Pessoal do Ceará – Lado A Lado B”, de Nirton Venâncio – está agendado para o segundo semestre. Belchior foi um dos artífices do movimento musical que agitou a música brasileira nos primeiros anos da década de 1970, tendo Fortaleza como ponto de irradiação.

Produção da Inquietude, com coprodução da Globo Filmes, Globonews e Canal Brasil, “Belchior – Alucinação” deve estrear no primeiro semestre de 2023.

Renato Terra estabeleceu foco bem específico: “a partir das músicas do lendário disco de Belchior – ‘Alucinação’ – promoveremos um mergulho na geração que viveu intensamente os anos 70”. Para tanto, ele e sua equipe promovem “extensa pesquisa de imagens de acontecimentos históricos, registros familiares e arquivos que registrem a memória coletiva do período”.

Todo o material recolhido passará por “intrincada montagem”, já que “as imagens serão costuradas com as canções de Belchior de forma a potencializar lembranças, sensações e sonhos de uma geração que desejou ‘amar e mudar as coisas’”.

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