Mostra Nelson Pereira dos Santos exibirá 18 longas do diretor
A partir do dia 2 de outubro, à meia-noite e quinze, o Canal Brasil exibe em sua programação a Mostra Nelson Pereira dos Santos. A atriz Leona Cavalli foi convidada para apresentar a seleção composta por 18 obras remasterizadas, produzidas entre os anos de 1957 e 2003. A mostra acontece até o dia 29 de janeiro de 2013.
Os 18 longas-metragens que contemplam a Mostra Nelson Pereira dos Santos são: “Rio, Zona Norte” (1957); “Mandacaru Vermelho” (1961); “Vidas Secas” (1963); “El Justicero” (1967); “Fome de Amor” (1968); “Azyllo Muito Louco” (1970); “Como Era Gostoso o meu Francês” (1971); “Quem É Beta?” (1972); “O Amuleto de Ogum” (1974); “Tenda dos Milagres” (1977); “O Ladrão” (1980); “A Missa do Galo” (1982); “Na Estrada da Vida” (1983); “Memórias do Cárcere” (1984); “Jubiabá” (1986); “A Terceira Margem do Rio” (1994); e “Raízes do Brasil I e II – Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Hollanda” (2003).
Nascido na cidade de São Paulo, em 1928, formou-se na Faculdade de Direito no início dos anos 1950, mas a paixão pela sétima arte falou mais alto. O desejo de trabalhar como diretor se concretizou em 1949, quando realizou o curta “Juventude”. Quatro anos depois, lançou seu primeiro longa: “Rio, 40 Graus”, clássico influenciado pelo neorrealismo italiano. Além de ser o responsável por mais de 20 filmes, dentre eles a adaptação da obra-prima de Graciliano Ramos “Vidas Secas” (1963) e “Memórias do Cárcere” (1983), agraciado com o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes, o homenageado é um dos precursores do Cinema Novo e foi o primeiro cineasta a ser indicado para a Academia Brasileira de Letras.
Veja as sinopses dos filmes que serão exibidos durante os meses de outubro e novembro:
Dia 02/10, terça-feira, à 0h15
Vidas Secas (1963) (101’) (Classificação livre) – Adaptação da obra homônima de Graciliano Ramos. Em foco, estão características atemporais de uma triste realidade: injustiça social, miséria, fome, desigualdade e seca. Considerada um marco do Cinema Novo, é a única representante brasileira presente na lista de produções fundamentais para uma cinemateca segundo o British Film Institute. O título conquistou o Prêmio OCIC e foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1964; além de ter sido aclamado em eventos por todo o mundo.
A trama aborda a comovente história do retirante Fabiano (Átila Iório) e sua cadela Baleia. A família do protagonista parte pelo sertão em busca de melhores condições de vida. Pelo caminho, encontram uma casa abandonada e por lá se estabelecem. Após passarem por mais dificuldades, iniciam uma nova jornada e, para não morrerem de fome, precisarão tomar atitudes drásticas. A saga é contada com poucas falas e planos longos, utilizando uma fotografia em preto e branco – assinada por Luiz Carlos Barreto – que é fiel à aridez da caatinga.
Dia 09/10, terça-feira, à 0h15
Memórias do Cárcere (1984) (190’) (Classificação 14 anos) – Baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. A história retrata a violenta repressão política característica do governo de Getúlio Vargas e a intensa perseguição a opositores, dentre eles o próprio Graciliano – no filme, interpretado por Carlos Vereza. No elenco, estão ainda Glória Pires, Jofre Soares, Nildo Parente, José Dumont, Tonico Pereira e Wilson Grey, dentre outros. Em 1984, a produção recebeu o Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes, além de ter sido agraciada nas categorias de melhor filme e ator (Carlos Vereza) no Troféu APCA do ano seguinte.
Nos anos 1930, Graciliano Ramos (Carlos Vereza) é suspeito de colaborar com subversivos. Ele, então, acaba sendo preso – mesmo sem qualquer acusação formal – e enviado ao presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde convive com os mais diversos personagens marginalizados da sociedade brasileira. A obra capta com um intenso realismo a degradação física e psicológica sofrida pelo escritor, que demorou longos anos para transformar suas memórias em livro.
Dia 16/10, terça-feira, à 0h15
Rio, Zona Norte (1957) (84’) (Classificação 12 anos) – O segundo longa-metragem dirigido por Nelson Pereira dos Santos faz parte de uma trilogia que tem a cidade do Rio de Janeiro como pano de fundo – formada, ainda, por Rio 40 Graus (1955) e Rio Zona Sul, que acabou nunca sendo realizado. Parcialmente inspirado na vida de Zé Keti, o filme é um importante documento sobre a música popular brasileira. No elenco, estão nomes como Grande Otelo, Malu Maia, Jece Valadão, além da participação especial da cantora Ângela Maria e do próprio Zé Keti. Com o intuito de obter a inspiração que julgava necessária para a concepção do roteiro, o cineasta morou seis meses em Bento Ribeiro. Em 1958, a produção recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Montevidéu.
O sambista Espírito da Luz (Grande Otelo) é um homem desiludido com a vida. Ao fazer uma viagem de trem pelo subúrbio, acaba caindo nos trilhos. Enquanto agoniza a espera de socorro, relembra o tempo em que cantava em grandes festas, assim como tragédias pessoais.
Dia 23/10, terça-feira, à 0h15
Tenda dos Milagres (1977) (136’) (Classificação 14 anos) – A Bahia do século 20 e a forte mistura de raças e religiões são temas da adaptação do romance homônimo de Jorge Amado. O elenco é formado por Hugo Carvana, Sônia Dias, Anecy Rocha, Juarez Paraíso e Jards Macalé, dentre outros. Em 1977, a produção faturou os troféus de melhor filme, diretor e atriz coadjuvante (Sônia Dias) no Festival de Brasília.
A narrativa conta a história de Pedro Archanjo (Juarez Paraíso), intelectual autodidata que contestou ideias racistas enraizadas na sociedade, além de documentar a cultura africana. Descrito como Ojuobá (ou “Olhos de Xangô”), causou indignação na elite branca ao defender de forma entusiasmada a miscigenação dos povos. A obra contou com a efetiva participação de praticantes do Candomblé, como Mãe Runhó e o babalorixá Luís Alves de Assis.
Dia 30/10, terça-feira, à 0h15
Mandacaru Vermelho (1961) (75’) (Classificação 14 anos) – Protagonizado e dirigido por Nelson Pereira dos Santos, a produção nasceu do improviso: a intenção inicial era filmar Vidas Secas – que viria a ser realizado logo depois. No entanto, chuvas torrenciais no sertão baiano tornaram a paisagem natural imprópria para as gravações da adaptação do clássico de Graciliano Ramos. Seguindo o estilo faroeste – ou nordestern, como disse o próprio cineasta –, a obra tem ainda no elenco Sônia Pereira, Ivan de Souza e Miguel Torres, dentre outros.
Após passar a noite com um vaqueiro, uma moça simples acaba se apaixonando. Para oficializar a união, os dois procuram um vigário. Inconformada com a situação, a família da menina parte em busca do casal, já que ela estava prometida a outro homem. A partir daí, começa uma perseguição violenta à dupla, culminando com o nascimento de uma árvore: o mandacaru vermelho.
Dia 06/11, terça-feira, à 0h15
El Justicero (1967) (90’) (Classificação 12 anos) – Inspirado no livro de João Bethencourt, As Vidas de El Justicero – O Cafajeste sem Medo e sem Mácula. É um caso raro de filme cujos negativos foram confiscados pela censura da ditadura militar. Por anos, o cineasta Nelson Pereira deu como perdidos, até que soube da existência de uma cópia em 16 mm na Itália, para onde tinha sido levada pelo cineasta David Neves. Em 1967, a produção recebeu o prêmio de melhor cenografia no Festival de Cinema de Teresópolis e atriz coadjuvante no Prêmio Governador do Estado de São Paulo.
A comédia narra a história de Jorge Dias das Neves, o “El Justicero” (Arduíno Colassanti). O personagem é filho de um grande empresário que se tornou rico graças aos seus golpes e falcatruas. Conhecido pela alcunha El Jus, aproveita os fartos recursos do pai e vive como um verdadeiro playboy: nunca trabalha, está sempre na praia, se envolve com todas as belas mulheres do Rio de Janeiro, conhece as manhas e os artifícios da vida citadina. Mas não é um mauricinho qualquer, pois se preocupa com problemas da população. O herói transita entre as elites e os populares.
Dia 13/11, terça-feira, à 0h15
O Amuleto de Ogum (1974) (112’) (Classificação 16 anos) – Com Ney Sant’Anna, Anecy Rocha, Joffre Soares, Maria Ribeiro, Emmanuel Cavalcanti e Jards Macalé, dentre outros. Baseado no argumento original de Francisco Santos, o longa recebeu o troféu de melhor filme no Festival de Gramado em 1975, e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo na categoria roteiro no mesmo ano. Na trama, o papel do mocinho coube a Ney Sant’Anna (filho de Nelson Pereira) e a mocinha foi interpretada por Anecy Rocha (irmã de Glauber).
A história é narrada em Caxias do Sul (RS) pelo cego Firmino (Jards Macalé), um violeiro nordestino. No sertão, Maria (Maria Ribeiro) leva seu filho Gabriel (Ney Sant’Anna) a um centro de umbanda, a fim de “fechar seu corpo”. Dez anos mais tarde e já protegido a partir do uso do amuleto, o rapaz chega ao sul para encontrar-se com Dr. Severiano (Joffre Soares), chefe de uma quadrilha que lhe acolhe por indicação de uma importante figura. Lá, conhece Eneida (Anecy Rocha), companheira do criminoso, e os dois passam bastante tempo juntos. Ao perceber que o rapaz é uma ameaça ao seu poder, Severino usa a mulher para roubar o cobiçado talismã.
Dia 20/11, terça-feira, à 0h15
A Terceira Margem do Rio (1992) (98’) (Classificação 16 anos) – Adaptação literária de cinco contos da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. O elenco é formado por Lavoisier Albernaz, Denise Alvarez, Barbara Brandt, Afonso Brazza, Chico Díaz, Andrade Júnior, Laura Lustosa, Mário Lute, dentre outros. Em 1994, o filme recebeu o prêmio Margarida de Prata pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Um homem deixa sua família e amigos para viver isolado em uma canoa no meio de um rio e jamais volta a pisar em terra firme. Seu filho Liojorge (Ilya São Paulo) leva comida todos os dias à margem do rio e grita por seu pai. Os anos se passam e a filha Rosário (Mariane Vicentini) casa com um rapaz da região e vai morar na cidade. O filho também casa, mas decide permanecer com a mãe e continuar levando alimentos para o pai invisível. Apresenta a ele sua mulher e sua filha Nhinhinha (Barbara Brant), que possui poderes mágicos.
Dia 27/11, terça-feira, à 0h15
Como Era Gostoso o meu Francês (1970) (84’) (Classificação 10 anos) – Inicialmente proibido pela censura, foi liberado com cortes devido às cenas de índios nus. Indicado ao Leão de Ouro do Festival de Berlim em 1971, recebeu os prêmios de melhor roteiro, diálogo e cenografia no Festival de Brasília, no mesmo ano, e o troféu APCA, em 1973, na categoria atriz revelação para Ana Maria Magalhães.
No Brasil de 1594, um aventureiro francês prisioneiro dos Tupinambás escapa temporariamente da morte, apesar de, segundo a cultura indígena local, devorar o inimigo ser o meio pelo qual se adquirem todos os seus poderes. Enquanto aguarda ser executado, o estrangeiro aprende os hábitos dos índios e se une a uma selvagem, com a ajuda da qual toma conhecimento sobre um tesouro enterrado e decide fugir. A índia, no entanto, se recusa a segui-lo. O chefe da tribo marca a data da execução: o ritual antropofágico é celebrado como uma vitória.