Entrevista: Cao Hamburger
Quando Cao Hamburger começou sua carreira, na década de 1980, cinema era uma coisa e televisão era outra. Ele próprio, ao criar sua produtora, olhava para um só lugar do audiovisual: o cinema. Foram as circunstâncias, tantas vezes mais poderosas que nossos próprios desejos, que o empurraram para a televisão. “Como se diz, há males que vêm para bem”, brinca, ao recordar o Plano Collor e o fim da Embrafilme, episódios que o fizeram ir bater à porta da TV Cultura. Hamburger, sem querer, começaria a exercitar ali o que a maioria dos profissionais busca hoje: um trânsito natural entre cinema e TV.
Seu primeiro trabalho para a TV Cultura foi a animação “Urbanoides” (1991), feita em massinha e exibida no programa “Glub Glub”. A guinada viria, porém, com “Castelo Rá-Tim-Bum”, que estreou em 1994 e virou um marco da televisão brasileira. O nome de Hamburger tornou-se, desde então, referência fundamental da produção infanto-juvenil. Ele assinou o longa-metragem “Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme” (1999), fez o Disney Club, no SBT, e chegou a trabalhar na produtora do seriado “Teletubbies”, em Londres.
Mas, assim como transita entre os diferentes formatos do audiovisual, Hamburger comunica-se com facilidade não só com o público infantil e jovem, mas também com os adultos. Em 2006, com seu primeiro longa-metragem fora do universo infantil, “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, foi indicado ao Urso de Ouro de Berlim, representou o Brasil na corrida pelo Oscar e angariou reconhecimento do público e da crítica. Nesse mesmo ano, dirigiu a série “Filhos do Carnaval”, produzida pela O2 Filmes e exibida no HBO.
O diálogo entre cinema e TV voltaria a acompanhá-lo em seu terceiro longa-metragem, a superprodução “Xingu” (2012) que, após entrar em cartaz no circuito, foi transformada numa microssérie de quatro capítulos exibida pela TV Globo. “Adoro essa promiscuidade. Quanto mais promíscua a relação entre televisão, cinema e agora internet, mais interessante. Não sou muito purista, não. Na verdade, nem um pouco”, diz nesta entrevista, concedida na sede da sua produtora, a Caos, instalada numa casa cheia de andares e cores, localizada no bairro da Vila Madalena, em São Paulo.
Revista de CINEMA – Quando começou, seus planos eram para televisão ou, como quase todos os cineastas da sua geração, o que você queria mesmo era fazer cinema?
Cao Hamburger – Meu desejo maior era fazer cinema. E isso apesar de eu ter sido uma criança e um jovem que assistiu muita televisão. Eu sou da geração da televisão, né?
Revista de CINEMA – Seus irmãos [Esther é pesquisadora de cinema, Vera é diretora de arte, Sônia é produtora e Fernando, fotógrafo] também assistiam muita TV?
Cao Hamburger – Assistiam, sim – se bem que acho que eu assistia um pouco mais. Mas meus pais [os físicos Ernst e Amélia] não gostavam muito disso. Meu pai batizou a televisão de caixa maldita [risos]. Para eles, era uma coisa muito nova. Eles foram da geração do rádio e, quando apareceu a televisão, eles até compraram o aparelho, aquela TV preto e branco. Mas acho que não imaginavam que os filhos iam ficar tão ligados naquilo. Ou seja, eu fui da geração da televisão, adorava assistir e, ainda assim, só pensava em fazer cinema. Naquela época, praticamente, não existia essa possibilidade de fazer as duas coisas. Televisão e cinema, sobretudo para quem fazia cinema, eram muito separados.
Revista de CINEMA – Então, como você foi parar na TV Cultura?
Cao Hamburger – À época, eu tinha uma pequena produtora e fazia animação, efeitos especiais para cinema, alguns curtas [“Franskentein Punk” e “Garota das Telas” são até hoje cultuados] e um pouco de publicidade. Só que aí veio o Plano Collor e foi tudo por água abaixo. Mas, como se diz, há males que vêm para bem. Sem saber ao certo como sobreviver, fui procurar refúgio na TV Cultura. Mostrei meu trabalho e eles me chamaram para fazer uma série de animação, chamada “Urbanoides”. Depois disso, fiz mais uma coisa pequenininha e então o “Castelo Rá-Tim-Bum”. Trabalhando lá, me dei conta de que a televisão, uma coisa da qual eu gostava tanto, mas contra a qual desenvolvi certo preconceito ao me aproximar do cinema, podia ser muito legal. Com o “Castelo…”, todo preconceito se desfez. Ao mesmo tempo, não queria deixar de fazer cinema. É por isso que, desde então, tento manter as duas coisas. Quer dizer, na verdade, demorei um pouco para assumir a televisão.
Revista de CINEMA – Mas, naquele momento, viver de cinema tampouco era uma opção, né?
Cao Hamburger – Minha geração pegou o cinema num vácuo que durou dez anos, tanto que tivemos de fazer a famosa retomada do cinema brasileiro. Ou seja, durante muito tempo, enquanto batalhava para fazer um pouco de cinema, ou você fazia televisão ou publicidade. E eu, ao invés de mergulhar diretamente na televisão, optei por fazer também publicidade, dividindo minha carreira entre essas três coisas. Eu só parei de fazer publicidade por volta de 2006, momento que coincide com o crescimento da produção independente para televisão.
Revista de CINEMA – No início dos anos 2000, o país viveu um grande debate em torno das possibilidades de parceria entre cinema e TV. Me corrija se eu estiver errada, mas me parece que você, apesar de já exercitar isso na prática, não participou muito dessas discussões.
Cao Hamburger – À distância, sempre acompanhei os debates, mas não sou muito bom para discutir essas coisas. Não tenho muita paciência. Apoio o que acho que deve ser apoiado, mas acredito que minha colaboração se dê mais na prática. Enquanto se discutia modelos e leis, fui tentar desbravar a produção independente.
Revista de CINEMA – Apesar de ter dado muito certo tanto comercial quanto artisticamente, o “Castelo…” não gerou produtos semelhantes. Por que, a seu ver, a televisão brasileira, historicamente, investe tão pouco em programas infanto-juvenis?
Cao Hamburger – Eu não entendo. Acho que um país que tem um sucesso como o “Castelo Rá-Tim-Bum” deveria ter outros programas dessa mesma natureza. Como não fiquei focado só no infanto-juvenil, não sou a melhor pessoa para apontar as razões para isso, mas realmente não entendo. Vamos ver se agora, na produção independente, conseguimos avançar. Já estão aparecendo algumas coisas, sobretudo de animação. A produção independente no Brasil está se desenvolvendo e, com isso, todo tipo de programação deve melhorar.
Revista de CINEMA – Você sentiu o impacto da Lei da TV Paga? Muita gente começou a te procurar?
Cao Hamburger – Eu senti. E senti também que muita gente resolveu fazer televisão. Na primeira vez em que fui ao RioContentMarket [evento do mercado de cinema], fiquei assustado com a multidão que encontrei. Cresceu muito a demanda por produtos, mas cresceu mais ainda o número de pessoas que querem fazer TV. De qualquer forma, é fato que aumentaram muito as possibilidades. Em meio à euforia, temos apenas de tomar cuidado para que os preços da produção não caiam muito. Se isso acontece, cai a qualidade. Essa é uma lei nova que tem de ir sendo aperfeiçoada, e uma coisa importante é que se consiga garantir a qualidade do que está sendo feito. Caso contrário, o público pode começar a rejeitar a produção nacional e aí a lei vira um tiro no pé. Mas estamos indo bem.
Revista de CINEMA – O curioso é que, depois da lei, que impulsionou a produção nacional da TV fechada, você fez “Pedro e Bianca” e “Que Monstro te Mordeu?” para a TV aberta. Mera coincidência?
Cao Hamburger – A TV Cultura é um lugar que tem algumas fases mais ou menos propícias para a produção infantil. Coincidiu de, em 2011 e 2012, haver uma abertura, eles me chamarem para conversar e a gente conseguir desenvolver dois trabalhos com verbas de parceiros. Foi uma conjunção de condições, num dado momento, num período promissor da TV Cultura, na gestão João Sayad, que nos possibilitou desenvolver dois projetos em pouco tempo. Só é pena que essas oportunidades sejam raras.
Revista de CINEMA – “Pedro e Bianca” ganhou o International Emmy Kids Awards no ano passado. Isso mudou a história da série? Uma das coisas que a Lei da TV Pega pretende impulsionar é a venda de formatos brasileiros no exterior. Isso é mesmo viável?
Cao Hamburger – Estamos descobrindo esse novo caminho. No caso de “Pedro e Bianca”, estamos conversando com um coprodutor nos Estados Unidos. Minha ideia é tentar outros países, mas, se conseguirmos os Estados Unidos, o resto fica mais fácil. Vamos ver. É uma tentativa. E a gente está trabalhando também para fazer uma nova temporada aqui no Brasil, que poderia ser tanto para adolescentes quanto para um público um pouco mais novo. Estamos vendo para que faixa temos melhores oportunidades.
Revista de CINEMA – O que é mais difícil na hora de vender para fora? Fala-se muito do idioma, mas não é só isso, né?
Cao Hamburger – “Pedro e Bianca” é um produto que fala muito da cultura do país. Justamente, por isso, optei por tentar vender o formato. No caso de “Que Monstro te Mordeu?” [já vendida para um canal pago], o conteúdo é mais universal e pode funcionar em qualquer país. A língua é um empecilho, mas a dublagem resolve. A série, em breve, vai estrear na América Latina, dublada em espanhol. O caminho das vendas internacionais é sempre longo, mas me parece que estamos indo bem.
Revista de CINEMA – “Que Monstro te Mordeu?” estreou 20 anos depois do “Castelo-Rá-Tim-Bum”. Como é voltar ao universo infantil num momento tão diferente? Na época do “Castelo…” não havia internet ou TV a cabo; hoje, a criança se divide entre TV, iPad, tela do computador etc. Como prender a atenção das crianças?
Cao Hamburger – A questão de onde o público assiste audiovisual é uma questão não só para criança, mas para todos os públicos. Estamos passando por uma revolução, o que, por um lado, é legal e estimulante e, por outro, angustiante. “Que Monstro te Mordeu?” tem um canal na internet, mas ainda estamos tentando entender como é esse mercado. Nem a Globo tem a reposta. Todo mundo está sendo obrigado a se repensar. Eu prefiro olhar para isso pelo lado estimulante, de entender as novas plataformas e descobrir onde e como nossos produtos vão ser vistos.
Revista de CINEMA – Ainda pensando no “Castelo Rá-Tim-Bum” e em “Que Monstro te Mordeu?”, que mudanças essa revolução traz para o conteúdo, para as próprias ideias?
Cao Hamburger – Depois da estreia de “Que Monstro te Mordeu?”, me dei conta da diferença entre um programa e outro. O “Castelo Rá-Tim-Bum” foi criado bem no início desta revolução digital pela qual estamos passando. A gente estava à beira de dar esse salto no escuro. A estrutura do “Castelo…” é pensada como a estrutura do Windows: ele é feito em formato de janelas, com uma história entrecortada por quadros. A história tem começo, meio e fim, tem os personagens principais, mas, no castelo, em qualquer lugar que você entre, tem alguma coisa acontecendo. Naquele momento, o Windows me deu segurança para fazer isso. O programa durava meia hora e ocupava um dos seis canais de TV aberta existentes. A gente transformou essa meia hora em um espaço cheio de informações, abrindo janelas para tudo quanto é lado. Ao mesmo tempo, em meio à vertigem dessas mudanças, criamos personagens que representam a história da humanidade. A Morgana, que tem seis mil anos, contava a história da cultura humana desde sempre. Olhando em retrospecto, acho que foi isso que transformou o “Castelo…” em um clássico. O programa falou de coisas que estava todo mundo sentindo. Agora, quando fomos fazer “Que Monstro te Mordeu?”, optamos por algo diferente: a história tem de ser a coisa mais forte. O que a gente tem hoje à nossa volta? Telas. Aqui na minha frente, tem três: o meu celular, o seu celular e o meu computador. A criança também vive cheia de janelas à frente dela. Neste momento de dispersão, quisemos fazer um programa que fosse para dentro da gente, que falasse dos monstros que nos habitam, dos nossos sentimentos e da nossa relação com os outros.
Revista de CINEMA – E você se percebeu muito diferente nesses 20 anos? Sua relação com o universo infantil mudou?
Cao Hamburger – Acho que não fez muita diferença, não. Me diverti tanto quanto no “Castelo…”. Não esperava isso…
Revista de CINEMA – E sua imaginação estava tão livre quanto antes?
Cao Hamburger – Muito livre, inclusive um pouco mais, porque sou mais experiente e me sinto mais seguro. Tem sido realmente uma experiência incrível, e o retorno tem sido muito legal.
Revista de CINEMA – Mas a audiência é muito menor do que naquela época.
Cao Hamburger – É incomparável. A TV Cultura, naquela época, tinha, em média, 6 ou 7 pontos de audiência e o “Castelo…” chegou a atingir 15, 16. A TV Cultura, hoje em dia, atinge 1 ponto, 1,5 ponto no Ibope. E a Globo, cujas novelas das 21h alcançavam 60, 80 pontos, hoje tem 30, 40. Proporcionalmente, a TV Cultura caiu mais que a Globo, mas todas caíram. É outro universo.
Revista de CINEMA – Alguns pesquisadores dizem, inclusive, que a programação infantil na TV aberta tem os dias contados. Primeiro, porque o hábito das crianças mudou e, segundo, porque há muitas restrições aos anunciantes. Você partilha dessa visão?
Cao Hamburger – Não sei. Não sei, inclusive, se há falta de interesse dos anunciantes. O SBT tem feito muita coisa, né? Eles estão exibindo “Carrossel” e “Chiquititas” em horário nobre.
Revista de CINEMA – A batalha histórica do cinema brasileiro se dá sempre no sentido de driblar a concorrência – ou o monopólio – do produto importado. No segmento infanto-juvenil, essa concorrência é ainda mais dura?
Cao Hamburger – Eu não sei se é mais dura, não. Será? Acho que a dificuldade é igual. É verdade que há muito produto infantil internacional e pouco brasileiro, mas acho que isso se dá não porque seja mais difícil concorrer com os gringos, mas porque se produz pouco no Brasil. Me parece que é mais culpa nossa do que uma barreira adicional em relação aos produtos para o público adulto.
Revista de CINEMA – E por que você acha que a gente produz pouco para esse público?
Cao Hamburger – Acho que é falta de interesse.
Revista de CINEMA – Você, ao produzir seu primeiro longa original – o primeiro derivava do programa de TV –, também optou por um filme para o público adulto. Você saberia dizer por quê?
Cao Hamburger – Não há uma razão específica. Aquela era uma história que eu queria contar. Acho, além disso, que se eu trabalhar só para crianças, vou enjoar. Talvez, pudesse até ganhar mais dinheiro se fizesse isso, mas prefiro diversificar. O que me interessa, e eu concretizei em “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, é olhar o mundo pelo olhar das crianças. Optar por esse olhar mais livre – menos cansado e amargurado que o dos adultos – é algo que tenho vontade de fazer de novo.
Revista de CINEMA – Você se relaciona muito com crianças?
Cao Hamburger – Com poucas ao mesmo tempo. Mais de três crianças eu já acho chato. Quando meus filhos eram pequenos, tinha mais oportunidade. Mas eu gosto de me relacionar com as crianças. Elas são muito livres – quando não são chatas [risos].
Revista de CINEMA – Aproveitando que estávamos falando de “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, eu gostaria que você falasse um pouco de seu outro longa, “Xingu”. Passados alguns anos, que sentimento você guarda desse filme?
Cao Hamburger – “Xingu” foi uma experiência que mudou minha percepção de mundo. Eu entrei em contato com outra civilização, algo que, de cara, já muda muita coisa dentro de você. Se, pessoalmente, foi uma experiência riquíssima, como cineasta foi um pouco frustrante. Não consegui fazer o que eu queria ter feito.
Revista de CINEMA – Você não está falando da recepção, mas do filme em si.
Cao Hamburger – Sim, do filme.
Revista de CINEMA – Por que você não conseguiu fazer o filme que queria?
Cao Hamburger – Porque, apesar de ter sido um filme que custou muito, o dinheiro não foi suficiente. O projeto era complicado, era um épico filmado em lugares muito difíceis e em condições extremas. A história é incrível, e não tivemos condições de contá-la como queríamos. Falo isso sem desmerecer o filme, que foi um ato heroico de todo mundo envolvido. Só digo que essa história é tão incrível e tão importante para que a gente entenda o Brasil, que espero que alguém, algum dia, faça outros filmes sobre ela.
Revista de CINEMA – E da versão exibida na Globo, o que você acha?
Cao Hamburger – Acho que ficou muito boa e que teve um público bom. O filme foi bem no cinema, mas como havia se criado uma expectativa muito grande – pela dimensão do projeto –, o resultado acabou sendo frustrante. Ainda assim, a Globo fez a minissérie e a colocou no ar depois do especial do Roberto Carlos, no Natal, que é um horário nobríssimo. A série fez, em média, 13 milhões de espectadores.
Revista de CINEMA – Que cuidados se deve ter nesse caminho de transformar longa em minissérie e vice-versa? Porque pode dar bem errado também, não?
Cao Hamburger – No caso do “Xingu”, foi fundamental que eu e os produtores nos desapegássemos do filme. Eu não tive nenhum prurido em remontar tudo e deixar o material o mais apropriado possível para a televisão aberta. O Guel Arraes nos ajudou muito nesse processo. Eu, como tinha montado o filme, tinha dificuldades para perceber outros caminhos. O filme tem uma coisa mais contemplativa, um ritmo mais lento, já que, na sala de cinema, você tem mais tempo para tentar levar o espectador para o lado sensorial da aventura. Na televisão, não temos esse tempo: é preciso focar na história e criar ganchos para pôr o comercial e para dividir o material em capítulos. Gostei muito da experiência. Não é todo filme que se presta a isso, claro. Mas num caso como esse, de um filme enorme, caro, acho que vale a pena.
Revista de CINEMA – E você tem algum novo longa saindo do forno?
Cao Hamburger – Tenho alguns projetos de longa, e ainda não decidi qual vou atacar primeiro. Um deles é um thriller sobrenatural baseado na cosmologia indígena. É um filme muito louco, meio ficção científica, meio um “Matrix” baseado no que os índios acreditam. “Avatar” também bebeu dessa fonte da cosmologia dos índios amazônicos, só que foi para um lado muito romanceado – o que não é nossa ideia. Estamos pesquisando e escrevendo, já há algum tempo, mas é um filme difícil. Um outro projeto que estou tocando é baseado num caso que aconteceu em São Paulo em 1938: o crime do restaurante chinês, que ficou muito famoso na época. O roteiro se baseia num livro escrito pelo Boris Fausto. Estou desenvolvendo, além disso, um roteiro que toma como ponto de partida algo que aconteceu com a minha família. O filme se chama “Um Terreno em Berlim” e é a história de dois irmãos brasileiros que recebem uma carta dizendo que têm um terreno em Berlim. Esse terreno, do bisavô deles, tinha sido confiscado pelos nazistas, depois pelos comunistas e o governo alemão o estava devolvendo para os herdeiros. Ah! E estamos também escrevendo o roteiro do longa “Que Monstro te Mordeu?”.
Revista de CINEMA – Sua produtora foi uma das contempladas no projeto de Núcleos Criativos do Fundo Setorial do Audiovisual. Isso tudo integra o núcleo?
Cao Hamburger – Nem tudo. No núcleo, temos dois longas, duas séries de televisão – uma delas grandona, no estilo série de 13 episódios – e uma animação para adultos, que está ficando divertidíssima. É muito trabalho, mas os projetos estão ficando muito legais.
Revista de CINEMA – Se pensarmos nos anos 1980 e 1990, quando você começou a trabalhar, podemos dizer que a vida de quem trabalha com audiovisual ficou bem mais fácil, não?
Cao Hamburger – Você acha? É que a gente pegou a morte, né? Durante dez anos, não havia nada. De fato, para a nossa geração nunca esteve tão bom. É ao menos uma profissão que dá para você exercer sem estar fazendo publicidade ou estar contratado em uma emissora de TV. Mas não é nada fácil, não. É dificílimo. É difícil concretizar os projetos. Mas estes sãos os primeiros anos e acreditamos que o mercado está amadurecendo. Quer dizer, esperamos que seja assim mesmo e que, ao contrário do que aconteceu outras vezes com o cinema brasileiro, a gente não tome nenhum novo susto no meio do caminho.
Por Ana Paula Sousa
Uau! Muito bom! Acompanhei como espectador muitos destes trabalhos incríveis! MUITO BOM! PARABÉNS! (Espero um dia fazer parte :D)