Às escondidas
O cineasta mineiro Maurílio Martins chamou a atenção com o curta “Contagem” (2010), codirigido com Gabriel Martins, premiado como melhor direção em Brasília. Maurílio chega agora com “Quinze” (2014), que estreou na Mostra de Tiradentes e saiu com o Prêmio do Canal Brasil. O filme acompanha mãe (Karine Teles) e filha (Malu Ramos) durante a preparação da festa de debutantes da filha, interessado mais no que o evento provoca na relação entre as duas do que na festa em si.
“Por seis anos, fui fotógrafo de casamentos e festas de debutantes e a maior parte dos clientes que contratavam os serviços do estúdio em que trabalhava era gente do meu bairro (Jardim Laguna, na periferia de Contagem) ou de bairros com configuração social bem parecida. E nesse universo era muito comum a figura da mãe que sacrificava tudo em nome da festa de 15 anos para a filha. Vi casos de pessoas que haviam vendido o carro da família ou deixado de reformar a casa para que a menina tivesse o prazer de dançar a valsa à meia-noite. E por muitas e muitas vezes era notório que o interesse maior em todo aquele ritual era da mãe. Geralmente, eram elas que escolhiam tudo”, conta Maurílio.
Realizado em cinco diárias, pela Filmes de Plástico, com R$ 14 mil, bancados por ele e pelo produtor e sócio Thiago Macêdo Correia, na base da camaradagem – ninguém recebeu cachê –, o filme, que ainda contou com um prêmio recebido pela produtora para a finalização, trabalha o universo sentimental de mãe e filha. Maurílio não tem medo de mostrar o afeto no cotidiano. Além do sacrifício pela filha, “Quinze” acompanha a relação às escondidas que a mãe tem com outra mulher. “Por mais que tenhamos avançado, ainda não é fácil para um casal de lésbicas andar de mãos dadas ou se beijarem na rua, ainda mais na periferia. A cena final é uma representação disso, de como isso também é importante para elas. Estar ali, na rua, livre, somente com o amor do outro, sem amarras”, comenta Maurílio.
Enquanto “Quinze” continua sua carreira pelos festivais, Maurílio se prepara para codirigir dois longas. Este ano, roda, com Adirley Queirós, “Era uma Vez Brasília”, e, em 2015, filma “No Coração do Mundo”, com Gabriel Martins. O cineasta ainda pretende dar vida a dois curtas nesse período, “O Creme das Maravilhas” e “Amê”, no mesmo modelo de produção de “Quinze”.
Por Gabriel Carneiro