Antônio Leão, dicionarista do audiovisual brasileiro, morre aos 63 anos

Por Maria do Rosário Caetano

O pesquisador paulistano Antônio Leão, autor de quase uma dezena de livros – em especial de dicionários dedicados a cineastas, atores e fotógrafos do audiovisual brasileiro –, morreu na madrugada da última quinta-feira, 19 de novembro, em São Paulo.

O dicionarista, cujo nome civil era Antônio Leão da Silva Neto, nasceu em 1957 e, desde a infância, apaixonou-se pelo cinema, primeiro como frequentador de sala no bairro do Ipiranga paulistano. Nos anos 1960, como todo menino de sua idade, tornou-se admirador ferrenho do seriado (e dos filmes) do “Vigilante Rodoviário” e dos longas-metragens anuais de Amacio Mazzaropi. Na adolescência, passou a colecionar filmes em 16 milímetros. Em 1992, criou, com Archimedes Lombardi, a ABCF (Associação Brasileira de Colecionadores de Filmes em 16 Milímetros).

A maior contribuição de Antônio Leão está, porém, na publicação de livros como “Dicionário de Filmes Brasileiros (Longa-Metragem)”, “Dicionário de Filmes Brasileiros (Curta e Média-Metragem), Dicionário de Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro e “Dicionário de Fotógrafos do Cinema Brasileiro”. Para a Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial, ele escreveu os perfis “Ary Fernandes, sua Fascinante História” e “Miguel Borges, Um Lobisomem Sai das Sombras”.

A primeira edição do “Dicionário de Filmes Brasileiros (Longa-Metragem)” contava com 3.415 verbetes de filmes realizados de 1908 até 2002. Foi um sucesso. Esgotou-se e ganhou uma segunda edição, com apresentação de Silvio Da-Rin, “orelha” de Rubens Ewald Filho e prefácio de Daniel Filho. E mais 779 títulos, realizados ao longo da primeira década do século XXI, em acréscimo. Total: 4.194 longas-metragens.

Em seu prefácio, Daniel Filho indaga: “por que fazer um dicionário de filmes com tanta fonte de pesquisas na internet? O Google? O Internet Movie Data Base (IMDb)? Até o carinhoso “Adoro o Cinema Brasileiro”? E fornece a resposta: “nenhum tem sobre o cinema brasileiro tanta e tão correta informação como este, que o incansável Antônio Leão se propôs a publicar”.

O depoimento do cineasta Jorge Furtado vai além. Depois de registrar sua tristeza com a perda do dicionarista, ele confessa: “tenho todos os dicionários do Leão, em várias edições, consulto-os com frequência. Às vezes, consulto para saber informações sobre meus próprios filmes!”. E, com sabor especial, faz um curioso acréscimo: “as descrições detalhadas que o Leão faz dos enredos das pornochanchadas brasileiras é ótima leitura. Aposto que mais ninguém, talvez nem mesmo o diretor, nunca prestou atenção naqueles enredos. Leão faz um inventário da imaginação erótica nacional”.

O pesquisador e colecionador do Ipiranga amava o cinema e TV brasileiros, o ator Carlos Miranda, o Vigilante Rodoviário, alegria maior de sua infância, amava o bairro do Ipiranga e a cidade de São Bernardo do Campo. Ele publicou, também, o dicionário “Super-8 no Brasil: um Sonho de Cinema”. Se, no terreno do curta e do média-metragem, em 16 e 35 mm, ele ultrapassou 18 mil títulos, igual esforço ele empreendeu no levantamento de filmes feitos na bitola amadora (ou doméstica) que a tantos apaixonou antes da chegada do vídeo (e depois, do cinema digital). O economista formado pela FAAP, com pós-graduação em Administração Financeira, era um cinéfilo inveterado. Um dicionarista amador, que tornou-se respeitado por seu trabalho solitário. Seus livros são obrigatórios.

E, registre-se aqui, o tamanho da paixão de Antônio Leão pela série “O Vigilante Rodoviário”. Em seu dicionário “Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro” (primeira edição), ele dedicou verbete ao Lobo! Sim, ao fiel cão, que colaborava com o patrulheiro televisivo. Hoje, o ator Carlos Miranda soma 87 anos de vida e deve estar muito triste com a precoce partida do amigo.

One thought on “Antônio Leão, dicionarista do audiovisual brasileiro, morre aos 63 anos

  • 12 de setembro de 2022 em 10:53
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    Que perda, meu deus!

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