As novas faces do cinema
A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).
Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.
Os personagens ordinários de Helvécio Marins Jr.
Helvécio Marins Jr. não pensava em ser cineasta. Queria mesmo era ser músico. Fez teatro também, ainda na adolescência. O cinema veio depois, quando participava de um Cineclube em Belo Horizonte, onde nasceu. Helvécio acabou cursando alguns workshops. Num deles, dos oito alunos, ele era o único que não fazia questão de dirigir o curta. A coisa foi pra votação. E os sete elegeram Helvécio. “Pedi uma semana, pensei e encarei a parada. Daí, nasceu meu primeiro curta, ‘2 Homens’, filmado em 99 e finalizado em janeiro de 2001. Era uma latinha de 16mm pra filmar, não tinha som direto, montagem na moviola, era tudo muito simples”, conta o realizador, que acabou depois vendendo esse filme para a TV no Canadá, para o Japão e até para uma companhia aérea.
O mineiro de alma interiorana, como ele gosta de dizer, tomou gosto pela coisa e resolveu seguir em frente. Juntou-se a Pablo Lobato e compraram uma ilha de edição e uma câmera. Logo depois vieram Sérgio Borges, Clarissa Campolina, Marília Rocha, Leonardo Barcelos e Cristiano Simões. Em 2002, o grupo se mudou para uma casa onde permanece até hoje e ganhou um nome: Teia. No dia a dia, os integrantes foram identificando afinidades estéticas e passaram a colaborar uns com os outros. Assim nasceram os curtas “Nascente” (2005), sobre a viagem de um homem num rio absolutamente destruído pela poluição até a longa travessia que o levará ao mar, “Trecho” (2006, codirigido com Clarissa Campolina), um diário imagético e sonoro que acompanha a caminhada de Libério por estradas que o levam de Belo Horizonte a Recife, e “Nem Marcha nem Chouta” (2009). Em todos eles, se faz presente a instalação de um registro entre o ficcional e o documental, sem nenhum objetivo concreto aparente, nenhuma tarefa a ser cumprida pela linguagem, e sim uma espécie de abertura para a captação de uma experiência desconhecida. Além de muitos prêmios. “São muitas as minhas influências: Abbas Kiarostami, Tarkovski, Godard, Osu, Sganzerla, Bergman, Victor Erice… tem mais, mas vou ficar por aqui”, brinca Helvécio, que deixou a Teia no ano passado.
“Girimunho” (2011), outra codireção com Clarissa Campolina, é um desmembramento deste cinema. Nele, Helvécio e Clarissa reencenam o cotidiano de um povoado no sertão mineiro, tendo os próprios habitantes como atores. Bastú perde o marido Feliciano e busca nos sinais do dia a dia e em suas lembranças sentimentos que irão ajudá-la. Maria carrega em seu tambor as tradições de seu povo. O desejo de se misturar ao universo das personagens não implica somente uma observação do íntimo de Bastú e Maria, mas também todo um outro mundo de possibilidades, o redemoinho, o batuque, os fogos de artifício. “Girimunho” estreou no Festival de Veneza e seguiu para Toronto, San Sebastian, Nantes, Havana, Mar Del Plata… Mês passado, o filme entrou em circuito em cinco cidades espanholas. França, Alemanha, Holanda e Bélgica o aguardam. “Em termos de salas comerciais no Brasil, fomos bem também, dentro das nossas pretensões. Já estamos em cinco mil espectadores e em cartaz em Porto Alegre, Recife e Salvador. Para um filme de baixo orçamento como o nosso, tá melhor que a encomenda!”.
Helvécio, hoje com 39 anos, se vê mergulhado em vários trabalhos. Além do segundo longa, “A Mulher do Homem que Come Raio Laser”, projeto premiado pelo Hubert Bals Fund, ele vai lançar um DVD pela Lume Filmes com todos os seus curtas e se prepara para uma retrospectiva sobre o seu cinema no Festival de Vila do Conde. “E tenho outras ideias. Quero rodar no início do ano que vem um filme bem baratinho, sem dinheiro público. O título provisório é ‘Fazenda Bordada’ e se passa numa fazenda no noroeste de Minas. Estou também fazendo um curta novo, ‘O Canto do Rocha’, um convite muito especial que recebi do Festival de Vila do Conde”.
Por Julio Bezerra