Prêmio Almanaque: Patricio Guzmán
O Prêmio Almanaque vai para o documentarista chileno Patricio Guzmán, autor da trilogia “A Batalha do Chile”, poderoso registro dos fatos que antecederam o golpe militar responsável pela deposição (e morte) de Salvador Allende (1908-1973).
O reconhecimento internacional do cineasta só faz aumentar. Aos 73 anos, ele vê suas ideias (e trechos de seus filmes) motivarem o documentário “Filmar Obstinadamente, um Encontro com Patricio Guzmán”, do francês Boris Nicot. E se vê como o único cineasta ibero-americano a ocupar duas vagas na prestigiosa lista dos 50 maiores documentários do mundo, organizada recentemente pelo BFI (Instituto Britânico de Cinema). Em 12° lugar está “Nostalgia da Luz”, de 2010. Em 19°, “A Batalha do Chile”. O Brasil – uma vez que a obra de Eduardo Coutinho é pouco conhecida no exterior – não conseguiu emplacar nenhum título na lista. A Argentina marcou presença com “La Hora de los Hornos”, de Fernando Solanas e Octavio Getino, e a Espanha, com “Terra sem Pão”, do mestre Buñuel.
A sensibilidade contemporânea dá mais valor à “Nostalgia da Luz”, fascinante exercício poético de Guzmán sobre mulheres que buscam “fragmentos” (um pedacinho de osso, que seja) de parentes aprisionados e mortos, durante os anos Pinochet, no Deserto de Atacama. Já os mais vividos não resistem às três partes da trilogia “A Batalha do Chile”. No primeiro filme, Guzmán mostra “A Insurreição da Burguesia” (1975), no segundo, “O Golpe de Estado” (1977), e no terceiro, “O Poder Popular” (1979), que Allende tentou implantar no Chile, pela via das urnas e não pelas armas. Não conseguiu e ainda pagou com a própria vida, enquanto o Palácio de La Moneda era bombardeado e ocupado pelos golpistas.