Prêmio Almanaque: “Noites Brancas no Píer”

O Prêmio Almanaque deste mês vai para “Noites Brancas no Píer”, mergulho fílmico de Paul Vecchiali no universo do jovem Dostoievski. Em especial, na novela “Noites Brancas”, filmada antes por Visconti (“Um Rosto na Noite”, de 1957) e Bresson (“Quatro Noites de um Sonhador”, de 1971). As “Noites Brancas” do corso Vecchiali receberam contribuições também de “Notas do Subsolo”, outro texto do ficcionista russo. Diretor de quase 30 filmes, ator em outros tantos e escritor, Vecchiali era um ilustre desconhecido dos brasileiros. Mesmo na França, sua obra acabou ofuscada pela rica e festejada produção da Nouvelle Vague, da qual é contemporâneo. Dois meses antes de completar 85 anos (em 28 de abril último), o cineasta fez jus a 16 páginas nos “Cahiers du Cinéma”, nas quais se somam críticas, rica documentação fotográfica e imensa entrevista. Tudo indica que Vecchiali encaparia a revista número 708, se a tragédia do “Charlie Hebdo” não tivesse traumatizado a França. Sob o impacto do massacre, os “Cahiers” dedicaram sua capa a protesto eloquente (uma ilustração na qual vemos uma delicada bailarina cercada por cães furiosos). Mesmo ausente da capa, as 16 páginas constituem poderoso estímulo a cinéfilos inquietos. Depois de lê-las (e de ver “Noites Brancas no Píer”), somos tomados por imenso desejo de conhecer este realizador veterano, mas (ainda) tão desconhecido entre nós. No momento em que os “Cahiers” louvavam a obra de Paul Vecchiali, Paris assistia a uma retrospectiva de seus principais filmes. Resta saber se a obra pregressa do cineasta, amigo de Jean Eustache (“La Maman et la Putain”, de 1973), chegará aos cinéfilos brasileiros depois da modesta acolhida ao belo “Noites Brancas no Píer”.

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