Competição de longas do Janela Internacional traz filmes de sete países

Em sua 9ª edição, o Janela Internacional de Cinema do Recife, realizado desde 2008 por Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux, e desde o ano passado sob a coordenação de programação de Luís Fernando Moura, traz mostras de curtas, programa de clássicos e seleções especiais projetados em 2 e 4K, no formato DCP (Digital Cinema Package) e 35mm. De 28 de outubro a 6 de novembro, 100 filmes de 21 países, oficinas, palestras e convidados brasileiros e estrangeiros ocuparão, ao longo dos dez dias, dois cinemas de rua da cidade: o São Luiz, no Centro do Recife, e o Cinema do Museu, em Casa Forte. Em parceria com o Janela, o Ocupe Cine Olinda realizará sessões especiais no prédio do histórico cinema de rua olindense. O Cinema da Fundação do Derby, habitualmente uma das casas do festival, segue fechado para reforma.

Junto à grade competitiva de longas e curtas, a programação do 9º Janela tem entre os destaques a mostra “Especial Shakespeare”, uma seleção de cinco longas e quatro curtas, em nova parceria com o prestigiado British Film Institute (BFI), por meio de apoio do British Council. Entre as sessões, uma exibição de adaptações silenciosas da obra de Shakespeare, filmadas no Reino Unido do início do século 20, com trilha sonora ao vivo do coletivo pernambucano Rumor, programada para o encerramento do festival. O público poderá acompanhar ainda a programação com curadoria do coletivo português Rabbit Hole, que traz ao Janela uma seleção de doze curtas-metragens, com apoio do Instituto Camões, além de novas parcerias com os cineclubes Toca o Terror, do Recife, e Cachaça Cinema Clube, do Rio de Janeiro. No Cinema do Museu, uma conversa especial com a diretora argentina Lucrecia Martel está programada para o dia 1º de novembro. Completam a lista sessões especiais de longas, curtas e clássicos, lançamento de livros, mostras convidadas e debates.

Entre os longas, oito títulos de sete países formam a mostra competitiva, reunindo nomes já cativados pelo Janela e pela cinefilia a uma atenção especial a cineastas emergentes em longa-metragem: Wild (Alemanha), produção assinada por Nicolette Krebitz e aclamada no Festival de Sundance no começo deste ano; O Ornitólogo (Portugal/França/Brasil), de João Pedro Rodrigues, diretor português já tarimbado no Janela, cuja obra acaba de se sagrar no Festival de Locarno em agosto deste ano com o prêmio de melhor realização; O Auge do Humano (Argentina/Portugal/Brasil), do argentino Eduardo Williams (grande prêmio de melhor filme na mostra Cineastas do Presente, também em Locarno); Diamond Island (França/Cambodja/Alemanha), de Davy Chou (vencedor de prêmio na 55º Semana da Crítica do Festival de Cannes 2016); A Economia do Amor (Bélgica/França), de Joachim Lafosse (exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes este ano); Martírio (Brasil), de Vincent Carelli (prêmio especial do júri no 49º Festival de Cinema de Brasília deste ano); o mineiro A Cidade Onde Envelheço (Brasil/Portugal), de Marília Rocha (exibido no Festival de Roterdã e grande vencedor do 49º Festival de Brasília, com quatro prêmios, os de melhor filme, direção, ator coadjuvante e melhor atriz); e Muito Romântico (Brasil/Alemanha), de Melissa Dullius e Gustavo Jahn (exibido na mostra Forum Expanded do Festival de Berlim 2016).

O júri de longas é composto por Fabienne Morris (produtora, curadora), Irandhir Santos (ator) e Paulo de Carvalho (diretor artístico do Festival Cinelatino na Alemanha). Serão avaliadas as categorias melhor filme, imagem, montagem e som.

As sessões especiais de longas e curtas também compõem a programação do Janela e trazem aos cinemas do Recife, pela primeira vez, filmes aguardados, homenagens e apostas da curadoria. Vinte e um títulos foram selecionados, entre eles A Morte de Luís XIV (França/Portugal/Espanha), novo filme do realizador Albert Serra, exibido em Cannes este ano e protagonizado por Jean-Pierre Léaud (rosto e paisagem afetiva dos filmes de François Truffaut); O que Está por Vir (França), de Mia-Hansen Love, projetado em competição na Berlinale 2016; O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (Portugal) de João Botelho, filme-homenagem realizado este ano pelo amigo e aprendiz de Oliveira, com quem conviveu por cerca de 40 anos, baseado em cenas de seus filmes num roteiro deixado mas não filmado pelo cineasta falecido em abril do ano passado, aos 106 anos. A convite do Janela, João Botelho estará no Recife para comentar a sessão. A relação de filmes tem ainda Paterson (EUA), do cultuado diretor Jim Jarmusch, e Elle (França), de Paul Verhoeven (ambos concorrentes da seleção oficial de Cannes 2016), além de Toni Erdmann (Alemanha/Áustria), de Maren Ade, uma das mais comentadas comédias dramáticas do ano, eleita melhor filme segundo a Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema), também em Cannes este ano.

A seleção de longas brasileiros em sessão especial busca uma visada generosa e diversa da produção contemporânea no país, destacando a capacidade dos filmes de invenção e de diálogo com o presente. Nessa lista, estão filmes premiados e já com sólida carreira em festivais, como A Cidade do Futuro (BA), de Cláudio Marques e Marília Hughes (prêmio do público no Olhar de Cinema em Curitiba); Banco Imobiliário (SP), de Miguel Antunes Ramos (presente na seção Aurora da 19ª Mostra de Tiradentes, em Minas Gerais); Being Boring (RJ), de Lucas Ferraço Nassif (aposta do Janela exibida nos Festival de Tiradentes e na Semana dos Realizadores); Câmara de Espelhos (PE), de Déa Ferraz (filme político com grande repercussão exibido no último Festival de Brasília); e o aguardado Cinema Novo (RJ), de Eryk Rocha, ensaio poético e íntimo sobre o movimento Cinema Novo dos anos 1960, que levou o prêmio de melhor documentário no Festival de Cannes 2016.

A sessão de abertura do Janela, no dia 28, no Cinema São Luiz, traz o mais novo filme do britânico Ken Loach, Eu, Daniel Blake, vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2016 (a segunda na carreira do consagrado realizador). Recebido há poucos dias no Festival do Rio com aplausos e gritos de protesto em função da crise no país, o longa encerra a noite de sessões do dia, com exibição a partir das 21h15. Abrindo o filme de Loach, será projetado o curta pernambucano O Delírio é a Redenção dos Aflitos, de Fellipe Fernandes, que estreou na Semana da Crítica em Cannes este ano e ganhou 3 prêmios no Festival de Brasilia (melhor direção, roteiro e arte), um drama pessoal com traços de crônica cinematográfica sobre o espaço urbano. Antes disso, às 18h45, outro pernambucano toma a grande tela do São Luiz: o longa Animal Político, do diretor Tião, destaque no último Festival de Rotterdam, uma fábula com um olhar inventivo e singular. Antes da sessão de Animal Político, será exibido o curta Roteiro Sentimental do Primeiro Cineasta, com imagens de Walfredo Rodriguez, considerado o primeiro cineasta paraibano, e organizadas por Lucio Vilar, que revelam capturas do Carnaval do Recife nos anos 1920. Já a primeira exibição do dia, será uma sessão especial programada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abbracine), com o filme Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman, obra de 1981, com imagens da abertura política durante o regime militar no Brasil, vencedora do Leão de Ouro, no prestigiado Festival de Veneza. A obra figura na relação dos 100 melhores filmes brasileiros, eleitos pela Abbracine no ano passado e que compõem livro editado pelo grupo.

Na mostra nacional, destaca-se uma produção expressiva de Pernambuco, Minas Gerais, Rio, São Paulo e Ceará. Com cinco títulos selecionados, a safra pernambucana é representada pelos títulos Dia de Pagamento, da diretora e jornalista Fabiana Moraes (selecionado para o último CachoeiraDOC, na Bahia), e Estás Vendo Coisas, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (exibido na 32º Bienal de São Paulo).

Na Missão, com Kadu, documentário filmado pelo pernambucano Pedro Maia de Brito e por Aiano Mineiro (de Minas Gerais), costura imagens, filmadas pelo próprio Kadu, em um dia de passeata na região periférica de Belo Horizonte. Completam a seleta pernambucana, Rua Cuba, de Filipe Marcena (selecionado para o 18º FestCurtas BH), e Nunca É Noite no Mapa, de Ernesto de Carvalho (escolhido melhor curta-metragem pelo Júri oficial do VII CachoeiraDOC).

Entre os filmes internacionais, há um panorama variado, tanto do ponto de vista estético quanto de autoralidade, passeando por nomes de diretores veteranos aos mais novatos. Títulos que passaram recentemente por circuitos importantes, com os festivais de Locarno (Itália), Cannes (França) e Roterdã (Holanda), estão contemplados nesta seleção e ganharão exibição inédita no Recife. É o caso de Chasse Royale, de Lisa Akoka e Romane Gueret, produção francesa vencedora na categoria de curta-metragem durante a Quinzena de Realizadores, mostra paralela do Festival de Cannes, deste ano. Outro que deve atrair as atenções é o experimental Yolo, de Ben Russel, filmado sobre as ruínas do histórico Sans Souci Cinema de Soweto, na África do Sul, e amparado por um jogo de imagens e temporalidades fragmentárias.

Uma coprodução Argentina/Chile/Alemanha, mas com um toque brasileiro por trás das câmeras, é o curta #YA, dirigido pelo recifense Ygor Gama junto com a diretora argentina Florencia Rovlich. O filme, que estreou na secção Generation 14+ do Festival de Berlim, traz uma visão extraordinária de rebelião juvenil em tempos de angústia social. Destaque nos festivais Queer Lisboa e Vila do Conde (Portugal), o curta Pedro, de André Santos e Marco Leão, também faz parte da lista.

Sob o tema “Filmes de Desobediência”, a sétima edição do Clássicos do Janela traz uma seleção de 13 títulos em cópias novas ou restauradas, nos formatos DCP e 35 mm, obras de mestres como Francis Ford Coppola (com Apocalypse Now, épico que rendeu a segunda Palma de Ouro de Coppola em Cannes e chegou a ficar seis meses em cartaz no extinto Cine Veneza em 1980), John Carpenter (com o thriller oitentista Eles Vivem, que estreou em 1988 no extinto Art Palácio e volta à grande tela do Recife 28 anos depois), Sidney Lumet, Milos Forman, Abel Ferrara, além de títulos emblemáticos de animação, aventura e ficção científica, entre eles Pinóquio (1940), de Walt Disney, Memórias do Subdesenvolvimento (1968), de Tomás Gutierrez Alea, e RoboCop – O Policial do Futuro (1987), de Paul Verhoeven.

A novidade deste ano é a inclusão de um filme-surpresa, que será anunciado somente em sua projeção e cuja entrada será gratuita.

A programação completa do festival pode ser conferida no site www.janeladecinema.com.br.

 

IX Janela Internacional de Cinema do Recife
Data: de 28 de outubro a 6 de novembro
Local: Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175 – Boa Vista), Cinema Museu (Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte) e Portomídia (Rua do Apolo, 181 – Bairro do Recife)
Ingressos antecipados online Cine São Luiz:
Entre os dias 21/10 (a partir das 12h) e 24/10 (até 18h), ou o fim do lote, pelo endereço virtual: www.sympla.com.br/ix-janela-internacional-de-cinema-do-recife__96733. Apenas longas e clássicos exibidos no Cine São Luiz. Valor: R$ 5,00 (meia para todos) + R$ 1,00 de taxa em cima do valor do ingresso pago. Cada pessoa tem direito a comprar 2 ingressos por sessão. Informações para o dia da sessão: o público deve imprimir o voucher com QRCode ou baixar no celular o ingresso que receber por email e levar documento com foto. Forma de pagamento: crédito, débito e boleto. Em cada sessão, os vouchers serão validados (não é necessária a troca). Não haverá fila específica para validação de ingressos online.
Dias 26 e 27 de outubro, das 14h às 20h. Valores: (R$ 5 meia para todo o público – longas) e sessão de curtas: R$ 3. Forma de pagamento: apenas espécie. Cada pessoa tem direito a comprar 2 ingressos por sessão. Informações para o dia da sessão: O público deve levar documento com foto. A partir do dia 28, bilheteria com funcionamento das 14h até a última sessão no Cine São Luiz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.