Arco Audiovisual entra no setor de distribuição lançando “Café com Canela”

O fomento à realização de novas obras cinematográficas nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste (CONNE) já está se refletindo no mercado da distribuição. A partir da promessa de descentralização dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) desde 2017, a expectativa para os próximos anos é que esses filmes de fato alcancem as salas comerciais de todo o país, ampliando o acesso do público. De olho nessa tendência, a Arco Audiovisual está chegando ao setor de distribuição nesta semana, com o lançamento de “Café com Canela” em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Santos, Niterói, Fortaleza e São Luís, além da estreia em Salvador já iniciada na semana passada.

O filme é o primeiro longa-metragem de Glenda Nicácio e Ary Rosa, com produção da Rosza Filmes e totalmente rodado no Recôncavo Baiano. A première nacional aconteceu no 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2017, do qual saiu com o troféu de Melhor Filme pelo Júri Popular e o Prêmio Petrobras de Cinema para o lançamento nas salas comerciais, um incentivo de R$ 200 mil. Nos meses seguintes, também foi exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na 9ª Semana dos Realizadores, no 13º Panorama Internacional Coisa de Cinema, abriu a 21ª Mostra de Tiradentes e foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Roterdã, na Holanda.

Para Gabriel Pires, um dos diretores da Arco Audiovisual, estrear na distribuição lançando “Café com Canela” é “a maior felicidade do mundo”, porque além de ser um filme baiano, realizado por dois cineastas muito próximos e amigos, o filme também tem “todas as premissas” que eles estão projetando para a distribuidora. Ele e os sócios André Araújo e Daniela Fernandes já trabalham juntos há alguns anos, tocando projetos como o NordesteLab, que é o maior evento de negócios da região, reunindo produtores e agentes do mercado, no mês de julho, em Salvador.

A distribuição, na realidade, já estava no horizonte da equipe desde 2013, mas foi somente em 2017 que a atividade foi oficializada no plano de negócios da empresa. Com a experiência do NordesteLab, das pesquisas setoriais e consultorias realizadas por eles às produtoras locais, ficou muito evidente que a distribuição era o passo que ainda faltava, buscando difundir as obras efetivamente. E a demanda de filmes prontos na região mostrou o quanto eles estavam certos.

A ideia, segundo André Araújo, é trabalhar com até seis filmes por ano, dedicando dois meses para cada um e fazer um bom lançamento. Nessa etapa inicial, a curadoria já está sendo muito mais intensa do que a própria prospecção de novos projetos. Antes mesmo do lançamento oficial da distribuidora, eles conversaram informalmente com produtores e encontraram uma enorme quantidade de filmes à espera de um distribuidor. O próprio “Café com Canela” já estava pronto e na etapa de ser enviado para os festivais quando a Arco entrou na empreitada.

Consultoria de Adhemar Oliveira

Para preparar essa estreia do filme e da distribuidora, eles contaram com uma consultoria do próprio Adhemar Oliveira, dono do maior circuito de cinema de autor do Brasil, o Espaço Itaú de Cinema. Curiosamente, além de ser o longa de estreia dos diretores e dos distribuidores, “Café com Canela” também foi o primeiro filme em que Adhemar se lançou como consultor. Nesse processo, Gabriel Pires relata que o exibidor mostrou a eles como funciona a dinâmica do mercado, as relações entre os distribuidores e os exibidores, como dimensionar as expectativas de cada um e formar uma parceria efetiva, com bons resultados.

Além de se aproximar do circuito de Adhemar, Gabriel Pires e André Araújo também conversaram muito com exibidores e distribuidores de São Paulo, pensando em fazer codistribuição futuramente com outras empresas. No Nordeste e no Centro-Oeste, a pesquisa foi maior junto aos produtores e diretores, tentando compreender quais eram as demandas e os melhores caminhos para ter uma comunicação mais fluida e próxima.

Perfil dos filmes da Arco

“A nossa proposta é entender melhor os filmes, pensar as obras junto com os realizadores. Queremos trabalhar com projetos que tenham uma questão, seja narrativa, social ou ainda buscando atingir um público específico”, detalha Pires.

Nesse sentido, embora a Arco tenha entrado quando “Café com Canela” já estava pronto, informalmente a equipe acompanhou o processo desde a escrita do roteiro, quando os diretores ainda estavam na faculdade e eram colegas de André e Daniela.

Entre os próximos filmes que serão lançados pela Arco, estão projetos em desenvolvimento como “A Matriarca”, de Lula Oliveira; “Ave Canudos! Os que Sobreviveram te Saúdam”, de Antônio Olavo, que está em produção; e “Swingueira”, de Bruno Xavier, Roger Pires e Yargo Gurjão, que está em processo de finalização.

Para os próximos anos, a equipe não descarta se lançar em voos mais altos, atuando como agente de vendas dos filmes brasileiros – especialmente, aqueles produzidos pelas produtoras da região CONNE – em mercados e festivais internacionais. Com esse objetivo nem tão distante, eles já estão participando de feiras como Ventana Sur, DocMontevideo, ChileDoc e European Film Market (no Festival de Berlim), para ver de perto como funciona essa indústria.

 

Por Belisa Figueiró

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