“Tito e os Pássaros” ganha o Prêmio Coral no Festival de Havana
O Brasil só se destacou na noite de premiação da quadragésima edição do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana com uma animação: “Tito e os Pássaros”, vencedor do Prêmio Coral em sua categoria. O longa-metragem, dirigido pela trinca Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto, foi pré-indicado ao Oscar e espera repetir o feito raro de “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu. Ou seja, cavar uma vaga na disputadíssima categoria de longa de animação, na qual os EUA se mostram, historicamente, imbatíveis.
A Colômbia é o país da hora. Por isto, viveu seu ano de ouro em Cuba: venceu nas categorias documentário (com “Ciro y Yo”, de Miguel Salazar ), e melhor ficção (com “Pássaros de Verão”, de Ciro Guerra e Cristina Gallego), consagrado mês passado pelos Prêmios Fênix, depois de passar pela Quinzena dos Realizadores, em Cannes.
Diretor do festejado “O Abraço da Serpente”, finalista ao Oscar, ano passado, Ciro Guerra realizou, em parceria com Cristina Gallego, novo mergulho no universo indígena. A dupla conta a história de duas famílias da etnia Wayú, que, na região de Guajira, no Caribe colombiano, disputam o envio de marijuana para o mercado consumidor norte-americano. A trama se desenvolve na década de 1960, quando o consumo da erva vivia sua mais notável expansão, exigindo a montagem de esquemas especiais capazes de garantir o êxito do tráfico.
Outro país que teve ótimo desempenho no festival cubano foi o México: “Nuestro Tiempo”, de Carlos Reygadas, que conquistara o Prêmio da Crítica na Mostra Internacional de São Paulo, ganhou o Coral de melhor direção, melhor fotografia e Prêmio Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema).
O Brasil não ganhou nada na principal mostra habanera, a que reuniu vinte longas ficcionais latino-americanos. A lista de laureados completou-se com o Prêmio Especial do Juri (para a trinca cubana “Insumisas”, de Fernando Perez e Laura Cazador, “Inocência”, de Alejandro Gil, e “Nido de Mantis”, de Arturo Sotto), o mexicano “Las Niñas Bien” (melhor atriz para Ilse Salas, de 27 anos), os argentinos “Angel” (melhor ator para o adolescente Lorenzo “Toto” Ferreo), e “Joel”, de Carlos Sorín (melhor roteiro). O uruguaio “Uma Noite de 12 Anos”, sobre a prisão de Pepe Mujica e companheiros, ganhou o Coral de melhor montagem e de melhor som.
Entre os cubanos, o filme que mais reconhecimento obteve foi “Inocencia”, de Alejandro Gil. Além do Especial do Júri, foi o eleito do Público e ganhou o Signis (atribuído pelo Ofício Católico Internacional de Cinema).
O Prêmio Coral de melhor Ópera Prima (filme de diretor estreante) foi conquistado pelo peruano “Retábulo”, de Álvaro Delgado-Aparício. Nesta categoria, o Brasil ganhou o Coral de “melhor contribuição artística” com “Los Silencios”, de Beatriz Seigner. A cineasta, ao agradecer a láurea, dedicou-a aos cubanos que aportaram no Brasil para atuar em regiões longínquas e desassistidas, pelo programa “Mais Médicos”.
Outro filme brasileiro, o documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, sobre o impeachment de Dilma Roussef, conquistou o Prêmio Especial do Júri (ex-aqueo com “O Caminho de Santiago”, do argentino Tristan Bauer). O melhor curta-metragem foi o mexicano “Arcángel”, de Angeles Cruz. Mas a brasileira Carolina Markowicz ganhou menção honora por “O Órfão”.
O Brasil passou batido nos prêmios especiais. A Prensa Latina, que atribui, anualmente, o Prêmio Glauber Rocha, escolheu o uruguaio “Uma Noite de 12 Anos”. Os Cineclubistas atribuíram o Troféu Dom Quixote ao argentino “Joel”. E o Prêmio da Juventude ficou com “Museu”, do mexicano Alonso Ruizpalácios.
O festival entregou um Coral Especial em reconhecimento à importância do Festival Sundance, criado pelo ator e cineasta Roberto Redford, nos EUA, para difundir o cinema independente. E prestou, em sua edição número 40, tributo à veterana atriz cubana Rosita Fornés e à produtora mexicana Bertha Navarro. O México, registre-se, apresentou nas telas habaneras, além de “Nuestro Tiempo” e “Museo” (ambos na competição), seu maior trunfo, o festejadíssimo “Roma”, de Alfonso Cuarón (hors concours). Este filme, disponível na Netflix, concorre ao Globo de Ouro em três categorias (duas delas, de grande peso: melhor direção e melhor longa estrangeiro) e pode emplacar vagas significativas no Oscar (quem sabe, até, na categoria principal, mesmo sendo falado em espanhol e com alguns diálogos em mixteca).
Em dezembro de 2019, a quadragésima-primeira edição do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana vai homenagear o centenário do documentarista Santigo Alvarez, autor do seminal “Now”, os 60 anos do Icaic (Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficas) e os 80 anos do compositor Leo Brower.
Confira os premiados deste ano:
. “Pássaros de Verão” (Colômbia) – melhor filme, música original (Leonardo Heiblun)
. “Nuestro Tiempo” (México) – melhor diretor (Carlos Reygadas), fotografia (Diego García) e Prêmio Fipresci.
. “Uma Noite de 12 Anos” (Uruguai) – melhor montagem (Irene Blecua e Nacho Ruiz), som (Royo-Villanova, Touron & Esquide), Prêmio Glauber Rocha atribuído pela Prensa Latina.
. “Las Niñas de Bien” (México) – melhor atriz (Ilse Salas)
. “Angel” (Argentina) – melhor ator (Lorenzo “Toto” Ferro)
. “Joel” (Argentina) – melhor roteiro (Carlos Sorín), Prêmio Dom Quixote do Conselho de Cineclubes.
. “Retábulo” (Peru) melhor filme de diretor estreante (ópera prima)
. “Tito e os Pássaros” (Brasil) – melhor longa de animação
. “Ciro y Yo” (Colômbia) – melhor longa documentário
Por Maria do Rosário Caetano