Produtor francês ganhador do Festival de Berlim está na coprodução de “Bacurau”
Neste ano, nenhum longa-metragem brasileiro competiu pelo Urso de Ouro, o troféu mais importante do Festival de Berlim. O resultado da premiação, no entanto, pode indicar bons ventos na rota do Brasil. O grande vencedor foi “Synonyms”, dirigido pelo israelense Nadav Lapid, e a coprodução francesa de Saïd Ben Saïd nesse filme merece uma atenção especial, visto que o selo SBS também está nos créditos das obras mais recentes do brasileiro Kleber Mendonça Filho.
Como produtora, a SBS deu início às atividades em meados dos anos 2000 e vem expandindo a sua atuação, especialmente na coprodução e na venda de filmes estrangeiros para distribuidores do mundo todo. Junto aos festivais, é crescente também o número de obras selecionadas, sobretudo no Festival de Cannes. Agora, com o Urso de Ouro entregue nas mãos de Lapid e Saïd na Berlinale, a empresa igualmente se consolida como uma das mais renomadas e influentes da Europa.
Em 2016, Saïd Ben Saïd esteve ao lado de Kleber Mendonça Filho na famosa première internacional de “Aquarius”, no Festival de Cannes, quando o cineasta e a equipe fizeram um protesto contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O nome do produtor francês aparece na ficha técnica da obra, assim como o de Michel Merkt (coprodutor suíço associado), ambos liderados por Emilie Lesclaux (produtora na recifense CinemaScópio, responsável por todos os filmes de Kleber).
A participação de Saïd na arquitetura financeira de “Aquarius”, porém, não chegou a configurar uma coprodução oficial francesa pelos critérios do Centre National du Cinéma et de l’Image Animée. Para o CNC, a pontuação registrada ficou abaixo do mínimo que caracterizaria os 20% de responsabilidades artísticas e monetárias estabelecidas para o coprodutor minoritário no acordo oficial de coprodução entre o Brasil e a França. Sendo assim, ao pé da letra, o filme não tem nacionalidade francesa, apenas brasileira. Por outro lado, na prática, a contribuição da SBS fez toda a diferença na carreira internacional do filme.
Ter a SBS nos créditos certamente facilitou a seleção para o Festival de Cannes. Em seguida, a empresa apostou ainda mais no filme, assumindo as vendas para o mercado estrangeiro e a própria distribuição dentro da França. “Aquarius” foi lançado no dia 28 de setembro de 2016, apenas quatro meses depois do festival, o que ocorre mais frequentemente com os filmes franceses, e não com os estrangeiros. Por conta disso, foi possível aproveitar os ecos de Cannes e a boa recepção da crítica, resultando em 176.518 ingressos vendidos, segundo dados do CNC. Dentre os filmes brasileiros lançados na França, este é o terceiro melhor resultado desde a chamada “retomada” do cinema brasileiro, como já analisado aqui na coluna Cinema em Conexão.
Essa eficiência da SBS em lançar rapidamente um filme que acabou de ser apresentado ao mundo e premiado em um dos maiores festivais internacionais vai se repetir com “Synonyms”. Pelo calendário francês, o longa deve chegar ao circuito exibidor no próximo dia 27 de março, pouco mais de um mês depois, embalado pelo burburinho estridente da mostra alemã.
A boa perspectiva para o Brasil é que a SBS é coprodutora de “Bacurau”, codirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Além de Saïd, nos créditos também brilha a coprodução da ARTE France Cinéma, garantindo mais recursos, a chancela oficial francesa para o filme e a possibilidade de entrar nas cotas de tela da França e da União Europeia. Tudo isso indica que não será uma surpresa absoluta se o filme for confirmado para a competição oficial do próximo Festival de Cannes (ou ao menos para a Un Certain Regard, a segunda mostra mais importante) visto que, neste momento, o longa está em pós-produção. É aguardar para ver.
Por Belisa Figueiró, autora do livro “Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização”.