Produtores brasileiros fecham distribuição internacional no Festival de Berlim
O Festival de Berlim ainda não terminou, mas os produtores brasileiros já têm motivos para comemorar. Além da exibição de onze longas-metragens nas mostras paralelas e um curta na competição principal, as vendas para os distribuidores internacionais estão ocorrendo no European Film Market (EFM, mercado que acontece durante a Berlinale) com bons resultados.
“Divino Amor”, terceiro longa de ficção do diretor Gabriel Mascaro, teve première internacional no Festival de Sundance, em janeiro, e chegou à mostra Panorama do Festival de Berlim carregado de críticas elogiosas e agenciado por uma das maiores empresas de vendas internacionais: a francesa Memento Films.
Rachel Ellis, produtora brasileira do filme, confirma que, até o momento, “Divino Amor” foi vendido para distribuidores que atuam em Portugal, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Itália, República Tcheca, Eslováquia, Noruega e Rússia. Nos próximos dias, o número de territórios pode aumentar ainda mais, especialmente se houver algum prêmio ou menção especial concedidos pelo júri. Em todo caso, vale destacar que nove países, em tão pouco tempo (desde a primeira exibição nos Estados Unidos), é um feito e tanto, e demonstra o potencial que a obra tem para alcançar outros continentes, para além do europeu.
A produtora Carnaval Filmes, de João Vieira Jr. e Nara Aragão, também deve celebrar as vendas internacionais muito em breve. “Greta”, de Armando Praça, e “Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar”, de Marcelo Gomes, foram selecionados para a mostra Panorama e já contam com agentes de vendas internacionais.
Muito elogiado pela imprensa brasileira e estrangeira – especialmente pela The Hollywood Reporter, revista norte-americana especializada na cobertura do mercado audiovisual –, “Greta” entrou para o catálogo da M-Appeal, agente de vendas com base em Berlim e que já está atuando no próprio EFM para difundir o filme pelo mundo. Para o documentário de Gomes, a produtora assinou com a empresa Cinephil, sediada em Israel.
A O2 Play, braço de distribuição da produtora O2 Filmes, desembarcou no mercado de Berlim com alguns filmes ainda inéditos no Brasil e que estão recebendo uma boa acolhida internacional. Segundo Igor Kupstas, diretor da distribuidora, alguns deles estão em negociações avançadas para vários territórios.
Na lista, lideram as vendas “Sócrates”, de Alex Moratto (que recebeu três indicações para o Independent Spirit Awards); “Meu Amigo Fela”, de Joel Zito Araújo; e “Copa 181”, de Dannon Lacerda. Os distribuidores que demonstraram interesse são dos Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e Polônia. Kupstas diz que ainda não pode revelar o nome das empresas, porém garante que o contrato será assinado ainda nesta semana.
“Marighella”, produzido pela O2 Filmes, é uma das promessas brasileiras para esta edição do Festival de Berlim. Embora esteja fora de concurso, será exibido no Berlinale Palast, o palácio da competição oficial, nesta sexta-feira, dia 15 de fevereiro. Ou seja, mesmo que a “opera prima” de Wagner Moura, na direção, não esteja habilitada para receber o Urso de Ouro, o filme é esperado com grande expectativa pelos críticos e deve reverberar substancialmente no mercado internacional pós-Berlinale.
Assim como ocorre após o Festival de Cannes, a distribuição e a circulação dos filmes exibidos agora em Berlim terão frutos mais consistentes ao logo dos próximos meses e até mesmo em 2020. A Berlinale é o evento que dá o pontapé inicial no calendário dos festivais considerados de categoria A, seguido por Cannes, Veneza e vários outros. Não raras vezes, os longas-metragens apresentados na mostra alemã acabam repercutindo inclusive no Oscar do ano seguinte, a exemplo de “Central do Brasil”, de Walter Salles. Em 1998, o filme ganhou o primeiro Urso de Ouro concedido a um filme brasileiro na Berlinale e, em 1999, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, perdendo para “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni.
Por Belisa Figueiró, autora do livro “Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização”.