Brasil brilha nas principais categorias do Platino
Por Maria do Rosário Caetano
O Brasil está presente nas principais categorias dos Prêmios Platino atribuídos anualmente aos melhores do cinema ibero-americano. “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, é finalista a melhor longa de ficção, “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, a melhor longa documental, e “A Cidade dos Piratas”, de Otto Guerra, a melhor animação.
As maiores chances de triunfo são de Petra Costa e seu polêmico documentário sobre o impeachment da presidenta Dilma Roussef. Já Aïnouz e Guerra enfrentarão dura batalha, pois o ano se anuncia espanhol. Quem vai derrotar “Dor e Glória”, seu diretor Pedro Almodóvar e seu protagonista, Antonio Banderas?
No campo da animação, a Espanha tem um candidato irresistível – “Buñuel no Labirinto das Tartarugas”, na verdade um mix de documentário e animação, criado a partir de premiada graphic novel. O longa de Salvador Simó, que triunfou na cerimônia dos Goya, em fevereiro último, evoca as filmagens de “Las Hurdes” (“Terra Sem Pão”, 1933), um dos primeiros filmes do jovem Luis Buñuel (1900-1983), realizado na região mais pobre e esquecida da Espanha.
O filme de Otto Guerra, baseado na obra “Piratas do Tietê”, da cartunista Laerte, é inventivo, anárquico, corrosivo. Mas como resistir às investidas do bruxo espanhol e à potência da graphic novel de Fermín Solís? “Buñuel no Labirinto das Tartarugas” é uma bem-sucedida e fascinante soma de documentário e animação, território cada dia mais explorado pelo cinema contemporâneo.
Os Prêmios Platino foram criados, há sete anos, pela Fipca e Egeda, duas instituições de produtores e arrecadadores de direitos autorais cinematográficos, sediadas, ambas, em Madri. Mas que ninguém as acuse de “castelhanismo”. Até hoje, dois países latino-americanos (Chile e Argentina) sagraram-se bicampeões. O Chile com “Glória”, de Sebastián Lelio, na edição inaugural, em 2014, e “Uma Mulher Fantástica”, do mesmo Lelio, em 2018. A Argentina com “Relatos Selvagens”, de Damián Szifron, em 2015, e “O Cidadão Ilustre”, de Gastón Duprat e Mariano Cohn, em 2017. A Colômbia venceu em 2016, com o poderoso “O Abraço da Serpente”, de Ciro Guerra, e o México, com o belíssimo “Roma”, de Alfonso Cuarón, ano passado.
O Brasil e a Espanha já venceram em categorias como documentário e animação, mas nunca conquistaram a estatueta mais cobiçada, a de melhor longa ficcional. A hora da Espanha parece chegada. E a hora do Brasil, maior e mais populoso dos países ibero-americanos, quando chegará?
“A Vida Invisível”, premiado na mostra Un Certain Regard, em Cannes, recebeu três indicações platinas, todas de peso (filme, atriz e roteiro) e teria significativas chances se não houvesse uma pedra em seu caminho. E esta pedra é “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar. O filme espanhol, com muito de autobiográfico, encantou o mundo. Foi premiado em Cannes (melhor ator para Antonio Banderas), ganhou uma carrada de “cabeçudos” (o Goya espanhol) e foi finalista ao Oscar internacional (e de melhor ator, com Banderas). Além de ter rendido críticas consagradoras em publicações dos cinco continentes.
Chegou, não há como negar, a hora da Espanha. A lista dos finalistas (abaixo) mostra a hegemonia da pátria de Buñuel-Saura-Erice em praticamente todas as categorias. Em animação, os três concorrentes de Otto Guerra são espanhóis. Além de “Buñuel no Labirinto das Tartarugas”, há dois longas de grande apelo, um deles foi finalista ao Oscar: “Klaus”, de Sergio Pablos (embora falado em inglês) e “Elcano y Magallanes, la Primera Vuelta al Mundo”, de Ángel Alonso. Este, um filme de aventuras sobre os navegadores que deram a volta ao mundo e provaram que a terra é redonda.
Quem acompanhou a poderosa edição dos Prêmios Goya 2020 pôde constatar que todos os finalistas a melhor longa ficcional tinham qualidades para brilhar também no Platino. Três deles são os que mais receberam indicações platinadas: “A Trincheira Infinita”, de Garaño, Arregi e Goenaga, é o recordista (8), seguido por “Dor e Glória” e “Mientras Dure la Guerra”, este um épico histórico de Alejandro Almenábar (com sete indicações cada um).
No terreno do documentário, no qual a Espanha triunfou nos dois últimos anos (com o delicioso “Muitos Filhos, um Macaco e um Castelo” e o necessário “O Silêncio dos Outros”), só dá filme castelhano. O brasileiro “Democracia em Vertigem” vai enfrentar “El Cuadro”, sobre “As Meninas”, obra-prima de Velázquez, glória da cultura ibérica e planetária, “Ara Malikian, una Vida entre las Cuerdas”, sobre músico de origem armênia que adotou a Espanha como pátria (vencedor do Goya), e “Historias de Nuestro de Cine”. Este filme empreende passeio panorâmico pelas imagens produzidas no país ibérico, mas fica aquém de suas potencialidades e é um “cabeças-falantes” de formato tradicional. Sem nenhum bairrismo, nesta categoria, dá para cravar o filme de Petra Costa como o franco favorito. É bem mais elaborado e complexo que seus três concorrentes. Ter sido escolhido, entre mais de 150 produções internacionais, como finalista ao Oscar confirma a potência de “Democracia em Vertigem”.
A cerimônia de entrega dos Prêmios Platino estava agendada para o dia 3 de maio próximo, no complexo turístico Xcaret, na Riviera Maya, mas – por causa da pandemia do coronavírus – foi adiada. A Fipca e Egeda, em parceria com Academias de Cinema da Península Ibérica e América Latina, anunciarão a nova data quando for possível. Mas o México segue, pelo terceiro ano consecutivo, como palco do Platino. A primeira edição aconteceu em Ciudad Panamá, a segunda em Marbela, na Espanha, a terceira em Punta del Este, no Uruguai, a quarta em Madri, e as duas últimas, na Riviera Maya.
FINALISTAS AO PLATINO – CINEMA
Melhor filme (ficção)
. A Vida Invisível (Brasil)
. “Dor e Glória” (Espanha)
.”A Trincheira Infinita”(Espanha)
.“Monos”(Colômbia)
Melhor documentário
. “Democracia em Vertigem” (Brasil)
. “Ara Malikian, una Vida entre las Cuerdas” (Espanha)
. “El Cuadro” (Espanha)
. “Historias de Nuestro de Cine” (Espanha)
Melhor animação
. “A Cidade dos Piratas” (Brasil)
. “Buñuel no Labirinto das Tartarugas” (Espanha)
. “Elcano y Magallanes, la Primera Vuelta al Mundo” (Espanha)
. “Klaus” (Espanha/Inglaterra)
Melhor filme de diretor estreante
. “A Camareira” (México)
. “O Despertar das Formigas” (Costa Rica)
. “La Hija de un Ladrón” (Espanha)
. “Ventajes de Viajar Viajar em Tren” (Espanha)
Melhor filme “Educación en Valores”
. “Elisa y Marcela” (Espanha)
. “Diecisiete” (Espanha)
. “Araña” (Chile)
. “O Despertar das Formigas” (Costa Rica)
Melhor Direção
. Pedro Almodóvar (Dor e Glória) – Espanha
. Jon Garaño, Aitor Arregi e Jose Mari Goenaga (A Trincheira Infinita) – Espanha
. Alejandro Amenábar (Mientras Dure la Guerra) – Espanha
. Juan José Campanella (A Grande Dama do Cinema/El Cuento de las Comadrejas) – Argentina
Melhor Atriz
. Carol Duarte (A Vida Invisível) – Brasil
. Graciela Borges (Grande Dama do Cinema) – Argentina
. Belén Cuesta (La Trinchera Infinita) – Espanha
. Ilse Salas (Las Niñas de Bien) – México
Melhor Ator
. Antonio Banderas (Dor e Glória) – Espanha
. Antonio de la Torre (La Trinchera Infinita)- Espanha
. Karra Elejalde (Mientras Dure la Guerra) – Espanha
. Ricardo Darín (A Odisseia dos Tontos) – Argentina
Melhor roteiro
. Karim Aïnouz, Murilo Hauser e Inês Bortagaray (A Vida Invisível) – Brasil
. Pedro Almodóvar (Dor e Glória) – Espanha
. Amenábar e Alejandro Hernández (Mietras Dure la Guerra) – Espanha
. José Maria Goenaga e Luiso Berdejo (La Trinchera Infinita) – Espanha
Melhor fotografia
. Jasper Wolf (Monos) – Colômbia
. Daniela Ludlow (Las Niñas de Bien) – México
. Javi Aguirre Erauso (La Trinchera Infinita) – Espanha
. Alex Catalán (Mientras Dure la Guerra) – Espanha
Melhor direção de Arte
. Juan Pedro de Gaspar (Mientras Dure la Guerra) – Espanha
. Alexis Alvarez (Insumisas) – Cuba
. Claudio Ramirez Castelli (Las Niñas de Bien) – México
. Pedro Domínguez (La Trinchera Infinita) – Espanha
Melhor música original
. Alberto Iglesias (Dor e Glória) Espanha
. Alejandro Amenábar (Mientras Dure la Guerra)
. Mica Levi (Monos) – Colômbia
. Emilio Kauderer (A Grande Dama do Cinema) – Argentina
Melhor Montagem
. Teresa Font (Dor e Glória) Espanha
. Andrea Chignoli (Araña) – Chile
. Alejandro Carrillo (Odisseia dos Tontos) – Argentina
. Laurent Dufreche e Raúl Lopes (La Trinchera Infinita) – Espanha
Melhor som
. Sérgio Burman, Pelayo Gutiérrez e Marc Orts (Dor e Glória) – Espanha
. Aitor Berenger e Gabriel Gutierrez (Mientras Dure la Guerra) – Espanha
. Lena Esquenazi (Monos) – Colômbia
. José Luis Diaz (A Grande Dama do Cinema) – Argentina
PREMIOS PLATINO – TELEVISÃO
Melhor minissérie ou telefilme
. “A Casa de Papel” (Espanha)
. “Monzón” (Argentina)
. “El Marginal III” (Argentina)
. “Distrito Salvage” (Colômbia)
Melhor atriz (minissérie ou telefilme)
. Cecília Suárez (La Casa de las Flores) – México
. Úrsula Corberó (A Casa de Papel) – Espanha
. Candela Peña (Hierro) – Espanha
. Leticia Dolera (Vida Perfecta) – Espanha
Melhor ator (minissérie ou telefilme)
. Javier Cámara (Vota Juan) – Espanha
. Óscar Jaenada (Hernán) – México
. Álvaro Morte (A Casa de Papel) – Espanha
. Jorge Román (Monzón) – Argentina
Melhor atriz coadjuvante (minissérie ou telefilme)
. Alba Flores (La Casa de Papel) – Espanha
. Belén Cuesta (Paquita Salas) – Espanha
. Florencia Raggi (Monzón) – Argentina
. Mariana Treviño (La Casa de las Flores) – México
Melhor ator coadjuvante (minissérie ou telefilme)
. Gerardo Romano (El Marginal III) – Argentina
. Gustavo Garzón (Monzón) – Argentina
. Juan Pablo Medina (La Casa de las Flores) – México
. Cristian Tappan (Distrito Salvage) – Colômbia