Filmes de Almodóvar e Javier Bardem duelam pelos Prêmios Goya

Por Maria do Rosário Caetano

Nunca se viu nada igual. Pela primeira vez na história dos Prêmios Goya, o Oscar espanhol, um filme disputará 20 estatuetas. O recordista é uma “comédia trabalhista” – “O Bom Patrão” – protagonizada por Javier Bardem e dirigida por Fernando León de Aranoa. A dupla encabeçou outro sucesso espanhol, “Lunes al Sol”, lançado no Brasil, com boa aceitação no circuito de arte (“Segunda-Feira ao Sol”, 2002).

Para conquistar o “cabeçudo” (nome afetuoso dado ao Goya), Bardem e Aranoa terão que derrotar “Madres Paralelas”, comovente drama familiar, com ingredientes políticos, dirigido por Pedro Almodóvar e protagonizado pela mulher do “bom patrão”, a atriz Penélope Cruz. As ‘mães paralelas’ do cineasta manchego só receberam oito indicações. O que não significa que não possam ganhar os dois mais cobiçados Goya: melhor filme e melhor direção. Há, porém, um dado preocupante: o roteiro do novo Almodóvar não sensibilizou os integrantes da Academia de Arte Cinematográfica da Espanha, responsável pela distribuição dos “cabeçudos”.

O roteiro que Fernando León de Aranoa escreveu para “O Bom Patrão” encabeça a lista de quatro concorrentes ao Goya, que prossegue com Icíar Bolaín e Isa Campo, por “Maixabel” (14 indicações no total), Clara Roquet, por “Libertad”, e Juanjo Peña e Pere Altimira, por “Tres”. Decerto a soma de tema familiar (a maternidade) à questão da busca de covas clandestinas (onde corpos republicanos foram enterrados por falangistas de Francisco Franco) não agradou aos acadêmicos. Ou quem sabe a Academia acha que Almodóvar já foi festejado demais, é conhecido e badalado no mundo inteiro devendo, portanto, abrir espaço a outros nomes. Vai saber o que se passa na cabeça de cada acadêmico.

Registre-se que a maré anda pouco favorável ao mais famoso dos cineastas espanhois da atualidade. “Madres Parelaleas” não foi indicado para a vaga espanhola ao Oscar. E sim seu concorrente no Goya: “O Bom Patrão”. E este filme, realmente, é uma ótima comédia social, com Bardem em estado de graça e elenco de apoio iluminado. Tão iluminado, que só na categoria ator coajuvante, recebeu três indicações ao Goya (Celso Bugallo, Fernando Albizu e Manolo Solo). A quarta vaga ficou com Urko Olazabal, por “Maixabel”.

Os ‘cabeçudos’ para o casal Penélope (“Madres Paralelas”) e Bardem (“O Bom Patrão”) parecem certos. Os dois devem ir dormir com seus Goya depositados em seus respectivos criados-mudos. No Festival de Veneza, Penélope ganhou a Coppa Volpi de melhor atriz. Suas chances de ser finalista ao Oscar são bem significativas. Javier Bardem pode, até, receber uma indicação por “Apresentando os Ricardos”, no qual contracena com Nicole Kidman, interpretando Desi Arnaz, o marido da comediante Lucille Ball (“I Love Lucy”). O casal espanhol goza de prestígio mundial.

A Academia Espanhola sabe que Almodóvar dirige atores – atrizes em especial – como ninguém. Além de sua protagonista, suas duas coadjuvantes – Milena Smit, a outra madre paralela (a jovem de cabelos oxigenados) e sua mãe, a belíssima Aitana Sánchez-Gijón – também disputam o Goya. A terceira e a quarta vaga sobraram para Sonia Almarcha, por “O Bom Patrão”, e Nora Navas, por “Libertad”.

“Madres Paralelas”, de Pedro Almodóvar

O Goya de melhor filme conta, além de “O Bom Patrão” e de “Madres Paralelas”, com mais três filmes, dois dirigidos por mulheres, “Maixabel”, de Icíar Bolaín, e “Libertad”, de Clara Roquet, e “Mediterrâneo”, de Marcel Barrena.

O Goya divide a categoria “filmes internacionais” entre produções de duas regiões: a Europa e a Ibero-América (na qual se inclui, claro, o Brasil, embora, raramente os filmes indicados por nosso país cheguem à condição de finalista. Esse ano, a regra não foi quebrada). Os escolhidos são “Canção sem Nome”, da peruana Melina León, “As Siamesas”, da argentina Paula Hernandez, “A Cordilheira dos Sonhos”, do chileno Patricio Guzmán, e “Los Lobos”, do mexicano Samuel Kishi.

A lista de concorrentes a melhor filme europeu traz um quê de “déjà vu” para os cinéfilos brasileiros: “Drunk – A Última Rodada ”, do dinamarquês Thomas Vinterberg, “Bela Vingança”, da inglesa Emerald Fennell, ambos do Oscar 2021, “Adeus, Idiotas”, do francês Albert Dupontel, do Cesar 2021, e “O Homem Perfeito”, da alemã Maria Schrader, esse sim, um filme mais recente.

Ano passado, a categoria animação, no Goya, fez feio, com mais vagas que concorrentes. Esse ano, em compensação, todas as vagas foram preenchidas. Cinco longas animados disputam o ‘cabeçudo’: “Valentina”, de Loureiro, De Brano, Da Matta, Baratech e Noa García, “Gora Automatikoa”, de Guerrero, Galindo, Torres Vásquez, Dharma e Pablo Vara, “Mironins”, de Cervantes, Coronado, Roebben, Goossens, Agenjo, Mas Bilbao e Oriol Roca, e “Salvar el Arbol (Zutik!”), de Vivanco, Rodríguez, Alonso, Guzmán e Botter.

A trigésima-sexta cerimônia de entrega do Goya acontecerá no Palácio de Les Arts, em Valência, no dia 12 de fevereiro. Se não houver contratempos (por causa da pandemia e da variante ômicron), a festa será presencial. O homenageado é o ator José Sacristán e serão encerradas as comemorações do Ano Berlanga, realizador cujo centenário foi lembrado em toda a Espanha. Valenciano, Luis García Berlanga (1921-2010), diretor de “Bem Vindo, Mr. Marshall” e do corrosivo “O Carrasco”, figura, ao lado de Luis Buñuel, como um dos esteios da melhor cinematografia castelhana.

Sacristán, ator de cinema, teatro e TV, de 84 anos, é um dos astros mais festejados da Espanha. Afinal, exerce seu ofício há 62 anos. Para a festa do Goya de número 36, ele gravou divertido clipe, que pode ser acessado na internet (ver endereço abaixo).

Prêmios Goya 2022 (Ano 36)
Data: 12 de fevereiro
Local: Palácio de Les Arts, em Valência, na Espanha
Com transmissão pela TV E, de Madri, e pela internet
Quem quiser acessar o spot gravado pelo ator José Sacristán, o homenageado, poderá fazê-lo pelo seguinte endereço: www.premiosgoya.com/2002/01/13/jose-sacristan-protagoniza-el-spot-de-los-premios-goya-2022

 

OS CANDIDATOS AO GOYA:

Melhor Filme

. “ O Bom Patrão”, de Fernando León de Aranoa
. “Madres Paralelas”, de Pedro Almodóvar
. “Maixabel”, de Icíar Bolaín
. “Libertad”, de Clara Roquet
. “Mediterrâneo”, de de Marcel Barrena

Melhor Filme documentário

. “El Retorno: La Vida Después del ISIS”, de Alba Sotorra, Carlos Torras e Vesna Cudic
. “Heróes. Silencio Y Rock & Roll”, de José Pastor, M.A. Lamata, Raul G. Medrano e Vanessa Monfort
. “Quién lo Impide”, de Javier Lafuente, Laura Renau, Lorena Tudela
. “Un Blues para Teherán”, de Alejandra M. Pérez e Luis Miñarro

Melhor Filme Ibero-Americano

. “Canção sem Nome”, de Melina León (Peru)
. “As Siamesas”, de Paula Hernandez ( Argentina)
. “A Cordilheira dos Sonhos”, de Patricio Guzmán (Chile)
. “Los Lobos”, de Samuel Kishi (México)

Melhor Filme Europeu

. “Adeus, Idiotas”, de Albert Dupontel (França)
. “O Homem Perfeito”, de Maria Schrader (Alemanha)
. “Bela Vingança”, de Emerald Fennell (Inglaterra)
. “Drunk – A Última Rodada ”, de Thomas Vinterberg (Dinamarca)

Melhor filme de Animação

. “Gora Automatikoa”, de Guerrero, Galindo, Torres Vásquez, Dharma e Pablo Vara
. “Mironins”, de Cervantes, Coronado, Roebben, Goossens, Agenjo, Mas bilbao e Oriol Roca
. “Salvar el Arbol (Zutik!”) – Vivanco, Rodríguez, Alonso, Guzmán e Botter
. “Valentina”, De Brano, Loureiro, Da Matta, Baratech e Noa García

Melhor Direção

. Icíar Bolaín, por “Maixabel”
. Fernando León de Aranoa, por “O Bom Patrão”
. Pedro Almodóvar, por “Madres Paralelas”
. Manuel Martín Cuenca, por “La Hija”

Melhor Direção de Estreante

. Clara Roquet, por “Libertad”
. Carol Rodríguez Colás, por “Chavalas”
. Javier Marco Rico, por “Josefina”
. David Martín de los Santos, por “La Vida es Esto”
. Bernabé Rico, por “El Inconveniente”

Melhor Atriz

. Penélope Cruz, por “Madres Paralelas”
. Emma Suárez, por “Josefina”
. Petra Martínez, por “Las Vida Era Eso”
. Blanca Portillo, por Maixabel”

Melhor Ator

. Javier Bardem, por “El Bom Patrón”
. Luis Tosar, por “Maixabel”
. Eduard Fernández, por “Mediterráneo”
. Javier Gutiérrez, por “La Hija”

Melhor Atriz Coadjuvante 

. Aitana Sánchez-Gijón, por “Madres Paralelas”
. Milena Smit, por “Madres Paralelas”
. Sonia Almarcha, por “ O Bom Patrão”
. Nora Navas, por “Libertad”

Melhor Ator Coadjuvante

. Celso Bugallo, por “O Bom Petrão”
. Fernando Albizu, por “O Bom Patrão”
. Manolo Solo, por “O Bom Patrão”
. Urko Olazabal, por “Maixabel”

Melhor Atriz Revelação

. Almudena Amor, por “O Bom Patrão”
. Angela Cervantes, por “Chavalas”
. Nicole García, por “Libertad”
. María Cerezuela, por “Maixabel”

Melhor Ator Revelação

. Oscar de la Fuente, por “O Bom Patrão”
. Tárik Rmili, por “O Bom Patrão”
. Jorge Motos, por “Lucas”
. Chechu Salgado, por “Las Leyes de la Frontera”

Melhor Roteiro Original

. Fernando León de Aranoa , por “O Bom Patrão”
. Icíar Bolaín e Isa Campo, por “Maixabel”
. Clara Roquet, por “Libertad”
. Juanjo G. Peña e Pere Altimira, , por “Tres”

Melhor Roteiro Adaptado

. Benito Zambrano e Cristina Campos, por “Pan de Limón com Semillas de Amapola”
. Júlia de Paz Solvas e Núria D. López, por “Ana”
. Augustí Villaronga, por “El Vientre del Mar”
. Daniel Monzón e Jorge Guerricaechevarría, por “Las Leyes de la Frontera”

Melhor Fotografia

. José Luis Alcaine, por “Madres Paralelas”
. Pau Esteve Birba, por “O Bom Patrão”
. Gris Jordana, por “Libertad”
. Kiko de la Rica, por “Mediterrâneo”

Melhor Montagem

. Vanessa Marimbert, por “O Bom Patrão”
. Antonio Frutos, por “Bajocero”
. Miguel Doblado, por “Josefina”
. Nacho Ruiz Capillas, por Maixabel”

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