“Chef Jack” constrói aventura culinária em ilha exótica

Por Maria do Rosário Caetano

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mantém festejado curso de Cinema de Animação e Artes Digitais em sua estrutura acadêmica. De seus quadros saiu Artur Costa, argumentista, roteirista e “alma criativa” de “Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro”, estreia dessa quinta-feira, 19 de janeiro, em quase 500 salas. Esta, pelo menos, é a promessa das distribuidoras Sony Pictures e Cineart.

O filme, dirigido por Guilherme Fiúza Zenha e produzido pela dupla Luiz Fernando de Alencar e Giordano Becheleni, já chega fazendo história no cinema mineiro. Afinal, trata-se do primeiro longa-metragem de animação produzido no estado. E, registre-se, com ótimo resultado.

A equipe – Guilherme faz questão de lembrar a parceria com Artur, Luiz Fernando e Giordano – trabalhou incansavelmente ao longo de três anos e meio, primeiro, com dezenas de profissionais reunidos presencialmente nos Immagini Animation Studios, em Belo Horizonte, depois — por causa da pandemia —, de forma remota.

A trama é bem urdida e deve agradar a crianças e adultos. Um concurso culinário (a XII Convergência de Sabores) pode não entusiasmar os pequeninos, pois receitas elaboradas são paixão de adultos. Mas os criadores de “Chef Jack” não negligenciaram seu público-alvo. Rechearam a construção de enxutos 80 minutos com muita ação e frenesi, cenários deslumbrantes, ritmo envolvente e músicas compostas especialmente para o filme.

“O Cozinheiro Aventureiro” abraça a movimentação incessante já no título. Há sequências animadíssimas, como a escalada de perigosa montanha (só com utensílios de cozinha), numa das provas previstas pela disputa. O ambiente que envolve os principais personagens é uma exótica ilha, composta em cores vivas e chamativas. O local é habitado pelos “bistecas”, cujo visual evoca maravilhas patrimoniais (pirâmides e outros símbolos) da cultura Azteca. Há, também, diálogo soft com o cinema de terror (nada que apavore as criancinhas!), pois importante sequência se desenrolará num pântano. Surgirá até um monstro disposto a tudo para resguardar tesouro ilhenho.

“Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro” é uma história de amizade, de disputa pelo prêmio da Convenção dos Sabores e de representatividade. Uma das duplas embarcadas num transatlântico para participar do concurso culinário é comandada pela linda Alice (voz de Tásia D’Paula), jovem afro-brasileira, cheia de atitudes e talentos. Há um par (chef e assistente) oriental, outro árabe (Adaeze, com voz de Rejane Faria, e Nazzar, por Carlos Magno Ribeiro). E, como não poderia faltar, um par oriundo da capital culinária do mundo, Paris (Jeremy/Desmond).

Jack (voz de Danton Mello) já triunfou em um concurso culinário. Mas o fez na companhia do pai, o titular da competição. Ele era apenas o assistente. Agora, disputará o prêmio como Chef Jack. Sua empresária, Bárbara (voz de Cecília Fernandes), providencia, de última hora, um assistente dos mais improvisados. Que não conseguirá cumprir sua missão.

A solução virá com o engajamento do menino Leonard, o Leo (voz de Rodrigo Waschburger), que sonha em cozinhar um “Baião de Dois” dos deuses. Mas sempre se atrapalha. Ele é filho de Bárbara, que não quer o garotinho envolvido no concurso. Mas tudo se acertará. Depois de alguns sobressaltos, Jack e Leo estabelecerão a necessária sintonia.

A inusitada dupla prosseguirá em sua agitada aventura, que terá provações bem mais complexas que as de natureza culinária. Haverá castores irados, desfiladeiros, envenenamento, busca de iguaria sagrada, etc., etc. E muita TV e internet.

A apresentadora Dominica Manjerona (voz de Cíntia Ferrer) estará sempre dando notícias do que se passa na Convergência de Sabores. E será acompanhada até pelos sultões do Gordistão.

Guilherme Fiuza Azenha diz com franqueza desconcertante que “Chef Jack” é “um filme de produtor, fruto do árduo trabalho dos estúdios Immagini Animation, aqui de Belo Horizonte”. E acrescenta: “ele não existiria, também, sem a criação do roteirista Artur Costa, nosso codiretor ao lado de Carlos ‘CD’ Daniel e Rodrigo Guimarães”.

O realizador e produtor mineiro, que foi assistente de direção de Helvécio Ratton (de quem herdou paixão e preocupação com o público infanto-juvenil), trabalhou também com Tizuka Yamasaki, Nelson Pereira dos Santos, Sylvio Back, Roberto Bomtempo e Sérgio Machado. Registre-se que o diretor de “Cidade Baixa” também é outro cineasta preocupado com a formação de público e está cuidando da finalização de aguardada aventura animada – “Arca de Noé”, com texto e composições de Vinícius de Morais e parceiros.

Guilherme conta que, ao ser convidado para dirigir “Chef Jack”, aceitou a missão, em estado de “plena felicidade”. Ele sabe, como ninguém, depois de empreender aventura cinematográfica de três anos e meio de duração, que “cinema, em especial o de animação, é trabalho de equipe”. Por isso, fez questão de dividir suas respostas à Revista de CINEMA, com seus parceiros de estrada, Artur Costa e os produtores, Luiz Fernando Alencar e Giordano Becheleni”.

O que o motivou a aventurar-se na animação e ser o diretor do primeiro longa animado mineiro?

Guilherme — Eu já vinha produzindo animação desde 2010. E, desde então, a ideia já me perseguia, e quando fui convidado pelos produtores adorei o convite, principalmente porque eles buscavam um diretor com “olhar” de ‘live action’ (captura real) para dirigir o filme. Acho que este “olhar” influenciou muito a estética de montagem e decupagem do “Chef Jack”. Além do fato de ser uma realização voltada ao público infanto-juvenil para o qual eu mais gosto de trabalhar.

Como se mobilizou a equipe do “Chef Jack”? Vocês encontraram todos os profissionais necessários em Minas, ou precisaram recorrer a outros estados?                    

Alencar e Becheleni – Aqui em Minas a produção de longa de animação é rara, tanto é que o “Chef Jack” é o primeiro longa de animação do estado. Mesmo assim, conseguimos montar na Immagini uma boa estrutura para todos. Esses foram os principais pontos facilitadores para conseguirmos contratar um bom número de profissionais talentosos. O filme contou com 90% dos profissionais de Minas, o restante foram profissionais oriundos de outros estados.

A trama traz elementos aztecas (“bistecas”), diversidade (a chef Aline, é afro-brasileira, há uma dupla oriental, outra árabe, etc.). A riqueza étnica e cultural foi motivo de reflexão da equipe técnica e artística desde o começo?

Guilherme – Quando entrei no projeto este universo já estava definido, o que eu adorei, pois Artur e os roteiristas-parceiros (Matheus B. Oliveira e Roger Kesse) preencheram o máximo possível com brincadeiras e trocadilhos, que sempre nos levam ao universo do filme. Ou seja, à culinária e à cozinha. E há algo mais mineiro que o lugar de afeto representado pela Cozinha?

Artur Costa – Com total certeza, nós nos preocupamos muito com a representatividade! Como criador do projeto, na fase inicial, dez anos atrás, com uma cabeça até atrasada, admito que criei uma história que tinha muitos personagens homens como figuras centrais (Jack e Leo, Jeremy e Desmond). À medida em que o projeto foi evoluindo (e minha cabeça também), isso passou a me incomodar profundamente e o assunto foi pauta de diversas reuniões e discussões sobre os personagens. Alguns quesitos mudaram, mexemos no núcleo central para mostrar essa nossa preocupação. Fizemos, então, questão de colocar muitas mulheres como chefes aventureiras, além de trazer outras etnias e corpos para o filme. Nas descrições de personagens no roteiro, nas reuniões com a direção (Guilherme Fiuza Zenha), com a direção de arte (Sarah Guedes) e com os designers de personagem (Rafa Gandine e Rafaela Miyai), reiteramos essa necessidade que foi abertamente aceita por todos os envolvidos. Ficamos muito contentes com o resultado alcançado e esperamos que o público não só goste do filme, mas também se sinta representado.

Quantos profissionais foram mobilizados por “Chef Jack”? Um filme de animação necessita mesmo de mais tempo de produção que um ‘live action’? Quanto tempo consumiram nesse projeto (da concepção à finalização)? 

Alencar e Becheleni — A produção de um filme de animação é mais demorada pois todos os cenários, objetos e personagens têm que ser pensados e ilustrados um a um por ângulos e planos de cena. Já na fase de animação cada profissional anima em média de dois a cinco segundos do filme por dia, o que demanda uma grande equipe e por um período longo, diferentemente do ‘live action‘ em que as cenas são gravadas em tempo real nas locações por algumas semanas. A produção do filme levou três anos e meio para ser finalizada. Mas a se contar desde a concepção (pelo Artur Costa), são mais de dez anos.

As distribuidoras (Sony e Cineart) prevêem de 400 a 500 salas para o circuito do filme. Vocês acreditam em circuito tão grande? Se ele se materializar e o filme for bem aceito, vocês acreditam que “Chef Jack” ultrapassará a 500 mil espectadores???            

Alencar e Becheleni – Sim, estamos muito confiantes e felizes com todo trabalho realizado pela Sony Pictures e a Cineart Filmes, tanto na divulgação de nosso longa quanto no número de salas projetadas. Estamos torcendo para que isso aconteça e que o filme seja bem-recebido pelo público, afinal foi feito com todo cuidado e carinho. E com o pensamento direcionado a ele.

Guilherme – Pela primeira vez temos a possibilidade de alcance de um grande público, uma vez que teremos acesso a bom número de salas, pois contamos com distribuidoras fortes. Por outro lado, é fato que o consumo do cinema vinha passando por grandes transformações desde o advento do Video por Demanda (VOD/Streaming), e tudo isso foi bem radicalizado pela pandemia, refletindo muito nas bilheterias de 2022. Agora vamos avaliar como o quadro se desenhará nesse ano de 2023.

 

Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro
Brasil, 80 minutos, 2023
Direção: Guilherme Fiuza Zenha
Criação, roteiro e codireção: Artur Costa
Produção: Luiz Fernando de Alencar e Giordano Becheleni
Consultoria culinária: Chef Edson Puiati
Storyboard: David Mussel, Flávio R. Moura, Leandro Siqueira
Produção musical: Kiko Ferraz
Trilha sonora: Bruno Mad (com samples e scratches do DJ Anderson)
Vozes: Danton Mello, Rejane Faria, Tásia D’Paula, Cecília Fernandes, Álvaro Rosacosta, Ana Laura Salles, Carlos Magno Ribeiro, Cíntia Ferrer, Cecília Fernandes, Guilherme Briggs, Renata Corrêa, Rodrigo Washburger, entre outros
Distribuição: Sony Pictures e Cineart

 

FILMOGRAFIA
Guilherme Fiuza Zenha
Diretor e produtor mineiro

Cinema:

2023 – “Chef Jack – O Cozinheiro Aventureiro”
2014 – “O Menino no Espelho” (baseado em Fernando Sabino
2007 – “Cinco Frações de Uma Quase História” – longa em episódios dirigidos por Cristiano Abud, Cris Azzi, Thales Bahia, Lucas Gontijo, Amando Mendz e Guilherme Fiuza Azenha

Televisão:

. “Cientistas Brasileiros” (série)
. “Minha Família” (série)
. “Cosmo, o Cosmonauta” (série em animação, em fase de produção)

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