Raio-x do sistema penitenciário brasileiro, “O Grito” estreia na Netflix
O Brasil é o terceiro país com a maior população carcerária do mundo, com mais de 800 mil pessoas aprisionadas pelo país. O documentário “O Grito – Regime Disciplinar Diferenciado” aborda um dos temas mais impopulares da sociedade brasileira com um raio-x do sistema penitenciário que, em sua precariedade, impulsiona justamente o que tenta evitar: o crescimento das facções criminosas. Inédito no circuito comercial, o filme estreia no próximo dia 29 de setembro, na plataforma de streaming Netflix.
“O Grito” conta de forma sensível e pungente as histórias das famílias de prisioneiros que foram afetadas pela portaria 157/2019. Esta proibiu o contato físico e privou detentos nos presídios federais de segurança máxima de manter seus laços sociais e afetivos. Hoje, sofrem não só os presos e suas famílias, mas também funcionários públicos, como agentes penais e diretores de presídios. Também é afetada a sociedade como um todo, cujo posicionamento em si é um dos grandes debates que permeiam o documentário.
Com produção da Real Filmes, o longa tem direção de Rodrigo Giannetto (“No Limite”/TV Globo), ganhador do Emmy 2023, para programa de entretenimento sem roteiro, por “The Bridge Brasil” da HBO Max. A narrativa intercala o olhar dos familiares, especialistas e autoridades, para revelar a extensão do impacto desta portaria nas camadas jurídicas, psicológicas e socioculturais no processo de reabilitação e ressocialização dos detentos.
O filme reúne participações de Luís Roberto Barroso (presidente do STF), Anielle Franco (Ministra da Igualdade Racial), Padre Júlio Lancelotti, Dr. Alberto Toron, o rapper Oruam (filho de Marcinho VP), Siro Darlan, Luís Valois, Kenarik Boujikian, Erica Kokay, a influenciadora, Dudu Ribeiro, Orlando Zaccone, o rapper Dexter, entre outros. Também traz entrevistas inéditas de familiares de presos como Marcola, Marcinho VP, Paulinho Neblina, entre outros.
Mesmo com leis estabelecendo direitos aos detentos, as visitas sociais ou íntimas não vêm sendo seguidas desde 2019, quando entrou em vigor a portaria 157, assinada pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro. A proposta foi reforçada em 2020 com a pandemia de Covid-19. Em outubro de 2023, o STF reconheceu a medida como violação massiva dos direitos fundamentais dos detentos e solicitou mudanças significativas e urgentes.
Em seu circuito de festivais, o “Grito” recebeu menção honrosa no Festival International de Cinéma et Mémoire Commune, no Marrocos. Também esteve na seleção oficial de eventos internacionais como o Internazionale Nebrodi Cinema (Itália), Anticensura Film Festival e LA Film & Documentary Award (EUA) e CinemaKing International Film Festival, em Bangladesh. O filme está na programação do FIDBA (Argentina), que acontece em outubro deste ano.