Chico Bento e amigos se unem para defender a goiabeira e enfrentar a “Agripino Road”
Por Maria do Rosário Caetano
“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, de Fernando Fraiha, é mais um fruto da frondosa árvore cinematográfica plantada por Mauricio de Sousa, o Midas do quadrinho e da animação brasileira.
O primeiro longa-metragem inspirado em HQ dedicada ao caipira Chico Bento e amigos, também roceiros, chega aos cinemas nessa quinta-feira, 9 de janeiro, disposto a conquistar o público infantil. E, se possível, surfar na onda de boas bilheterias do final de 2024 (“Ainda Estou Aqui”, com mais de 3 milhões de ingressos, “O Auto da Compadecida 2”, rumo aos dois milhões, e “Arca de Noé”, 360 mil).
À frente do elenco de “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” está uma verdadeira força da natureza, o moleque Isaac Amendoim, mineirinho de Cana Verde, hoje com 11 anos e quatro milhões de seguidores no Instagram.
Em seu primeiro trabalho como ator, o “influencer caipira” se sai muito bem. Aliás, todo o elenco infantil mostra-se desenvolto e cativante. Rosinha, a menina que mexe com o coração de Chico, e sua amiga Tábata são ótimas e muito bonitas. O trapalhão Zé Lelé segura o tranco. Zé da Roça e o japinha Hiro têm atuações eficientes e discretas. O “mauricinho” Genésio, o Genesinho, filho do fazendeiro-empreendedor Dotô Agripino, forma ótima dupla com o pai.
O elenco adulto, muito tarimbado, chega para desempenhar papéis coadjuvantes e brilhar. Em especial, Luis Lobianco, como Nhô Lau, o dono da goiabeira, e a encantadora Vó Dita (Thaïs Garayp). Também dão seus recados, com a costumeira eficiência, Augusto Madeira, na pele do Dotô Agripino, esperto como ele só e empenhado em construir a “Agripino Road”; Débora Falabella, a gentil professora Marocas, e Taís Araújo, que dá vida a uma árvore, no caso a frondosa goiabeira maraviosa.
O filme começa caipira demais e em ritmo lento. Será que vai segurar as crianças nas poltronas? Trata-se, é preciso reafirmar, de narrativa destinada aos pequenos. Os pais e demais acompanhantes não encontrarão um filme “para todas as idades”.
As crianças, pelo menos as que tiverem um pouco mais de paciência, serão recompensadas. Apesar de falado em demasia (os filmes infanto-juvenis brasileiros andam amaziados com a stand up comedy), o longa de Frahia ganhará ritmo quando sua singela trama mergulhar em folguedos populares (matriz dos disfarces da molecada, lindos e coloridíssimos) e dialogar com o cinema de animação. E isto acontecerá quando Chico Bento e uma árvore (Taís Araújo) saírem da ‘live action’ rumo ao mundo dos desenhos.
A trama da “Goiabeira Maraviosa” é muito simples. Chico e seu amigo Zé Lelé costumam pular a cerca para roubar goiabas da frondosa árvore do sítio de Nhô Lau. Esse antagonismo entre o rabugento dono da goiabeira e os meninos dará o tom da parte inicial do filme.
A turma de amigos de Chico Bento vive pacata e rotineira existência. Até que a linda Rosinha induz Chico Bento a acreditar que ela está interessada pelo almofadinha Genésio. O garoto rico parece ter conquistado as atenções da menina.
Os acontecimentos ganharão alguma temperatura quando o pai de Genesinho, o rico Dotô Agripino, seduzir todos os moradores do vilarejo para seu novo empreendimento – uma estrada asfaltada, que passará pela porta de todas as casas de Vila Abobrinha.
O astuto agro-empresário receberá apoio unânine de todos os caipiras adultos, inclusive dos pais de Chico Bento. Mas não dobrará a incansável turminha do adepto de suculentas goiabas. Unidos, eles bolarão diversos planos para salvar a Goiabeira Maraviosa. Ela está condenada, pois encontra-se no caminho do projeto da Agripino Road.
Mauricio de Sousa, que se aproxima dos 90 anos, criou a Turma de Chico Bento em 1961, para dar vazão à sua alma caipira e, assim, recriar memórias de um Brasil rural e ingênuo. Hoje, as crianças que vivem em grandes cidades, aquelas dotadas de cinemas comerciais (menos de 10% dos municípios brasileiros), se divertem com jogos eletrônicos e seus inseparáveis celulares. Será que irão se interessar pelo mundo idílico de Chico Bento e seus amigos?
Pode ser que sim. Afinal, Isaac Amendoim conquistou milhões de seguidores, no espaço digital, com suas brincadeiras interioranas. E ele as difunde de sua base residencial, na pequena Cana Verde (6 mil habitantes), onde convive com galinhas, cabras e outros pequenos animais domésticos.
O filme, como as HQs de Mauricio de Sousa, traz mensagens edificantes. Por sorte, elas pontuam a narrativa sem didatismo tatibitate. Chico e seus amigos defendem a natureza contra o espírito predatório, sinuoso e mirabolante do Dotô Agripino, mas sem lições de moral explícitas.
Falta ao filme uma trilha sonora mais viva e mobilizadora. Como, porém, ele é muito dialogado, não sobra espaço para intervenções melódicas ou versos cantados. Só nos créditos finais um grande sucesso de Renato Teixeira se fará ouvir.
Quando, passados 90 minutos, tudo se resolve (com finais felizes, claro!), concluímos que Frahia e equipe podem se orgulhar de seu inesquecível elenco infantil.
A garotada – Isaac Amendoim à frente – jogou um bolão. Isto porque a produtora Bianca Vilar, que vem de dois sucessos mauricianos – “Turma da Mônica – Licões” e “Turma da Mônica – Laços”, ambos dirigidos por Daniel Rezende e com ótimas bilheterias (2 milhões, o primeiro, e 800 mil, o segundo), permitiu que os infantes fossem preparados no tempo necessário (mais de três meses de ensaios).
Se “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” mantiver boa relação com o público infantil, o mais famoso dos quadrinistas brasileiros viverá, no ano em curso, dias de glória. No segundo semestre (27 de outubro), ele completará 90 anos. Quatro dias antes, chegará aos cinemas a cinebiografia “Mauricio de Sousa – O Filme”, dirigida pela dupla Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado. Para representar o pai da Turma da Mônica, foi escalado o filho de Mauricio, Mauro Sousa, que contracenará com Elizabeth Savala, Natália Lage, Thati Lopes, Emilio Orciollo Netto, Fernando Eiras, Zezé Motta, Bruce Gomlevsky e Othon Bastos.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa
Brasil, 2025, 90 minutos
Direção: Fernando Fraiha
Roteiro: Elena Altheman, Fernando Fraiha e Raul Chequer
Elenco: Isaac Amendoim (Chico), Pedro Dantas (Zé Lelé), Anna Julia Dias (Rosinha), Lorena de Oliveira (Tabata), Guilherme Tavares (Zé da Roça) e Davi Okabe (Hiro), Enzo Henrique (Genesinho), Luis Lobianco (Nhô Lau), Vó Dita (Thaïs Garayp), Augusto Madeira (Dotô Agripino), Débora Falabella (Professora Marocas), Taís Araujo (Árvore), Lívia La Gatto (Dona Cotinha) e Guga Coelho (Nhô Bento)
Fotografia: Gustavo Hadba
Direção de arte: Marinês Mencio
Figurinos: Letícia Barbieri
Montagem: Daniel Weber
Produção: Biônica Filmes (Bianca Villar e parceiros)
Distribuição: Paris Filmes
MAURICIO NO CINEMA
Mauricio de Sousa (Santa Isabel/SP, 27 de outubro de 1935)
1982 – “As Aventuras da Turma da Mônica”
1983 – “A Princesa e o Robô”
1986 – “As Novas Aventuras da Turma da Mônica”
1987 – “Mônica e a Sereia do Rio”
1987 – “A Turma da Mônica em O Bicho Papão e Outras Histórias”
2004 – “Cine Gibi”
2019 – “Turma da Mônica – Licões”
2021 – “Turma da Mônica – Laços”
2024 – “Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo”
2025 – “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”
2025 – “Mauricio de Sousa – O Filme”
FILMOGRAFIA
Fernando Fraiha (São Paulo/SP, 3 de outubro de 1978)
Filmes:
2016 – “La Vingança”, road movie Brasil-Argentina
2022 – “Bem-Vinda, Violeta” (baseado no romance “Cordilheira”, de Daniel Galera, Brasil-Argentina)
2025 – “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”
Séries:
2018 – “Choque de Cultura”
2020 – “Ninguém Tá Olhando”
2024 – “Franjinha e Milena em Busca da Ciência” (idealizador)
Produtor ou coprodutor (Biônica Filmes):
2016 – “TOC” (Paulinho Caruso)
2016 – “Reza a Lenda” (Homero Olivetto)
2018 – “Uma Quase Dupla” (Marcus Baldini)
2019 – “Outubro” (Maria Ribeiro e Loiro Cunha)
2019 – “Turma da Mônica – Laços” (Daniel Rezende)
2021- “Turma da Mônica – Lições” (Daniel Rezende)