Festival Aruanda homenageia Ruy Guerra, Elba Ramalho e Paulo César Peréio

O Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro, que acontece em João Pessoa, capital paraibana, a partir desta quinta-feira, 30 de novembro (até 6 de dezembro), vai exibir 45 filmes, em cinco mostras competitivas e informativas, e homenagear os cineastas Ruy Guerra, Paulo Caldas e Ivan Lhebarov, a cantora e atriz Elba Ramalho e os atores Paulo César Peréio e Servílio Gomes.

A competição de longas reúne seis ficções e dois documentários, os cariocas “Torquato Neto, Todas as Horas do Fim”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, e “Callado”, de Emília Silveira. Mais duas realizadoras marcam presença na disputa pelo Troféu Aruanda: a paulista Carolina Leone (com “Pela Janela”) e a pernambucana Renata Pinheiro (com “Açúcar”, realizado em parceria com Sérgio Oliveira).

As ficções “Abaixo a Gravidade”, do baiano Edgard Navarro, os paulistas “Antes do Fim”, de Cristiano Burlan, e “Legalize Já!, de Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, e o paraibano “Nó do Diabo” completam a lista.

“Nó do Diabo” é um filme de terror em episódios, produzido em Campina Grande, segundo polo econômico do Estado nordestino. Para realizá-lo, os campinenses Ramon Porto Mota, Ian Abé e Jhésus Tribuzi se uniram ao mineiro Gabriel Martins, do Coletivo Filmes de Plástico.

O longa documental “Clara Estrela”, sobre a trajetória da cantora Clara Nunes (1942-1983), dirigido por Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, será exibido em caráter hors concours na noite inaugural. Em mostras informativas, serão apresentados os longas “Saudade”, de Paulo Caldas, “10 Centavos para o Número da Besta”, de Guillermo Planel, “O que Seria deste Mundo sem a Paixão”, de Luiz Carlos Lacerda, “Lamparina da Aurora”, de Frederico Machado, e um programa dedicado às “Mulheres em Cena na Paraíba”. Haverá mostra competitiva de curtas nacionais (com 12 títulos) e mostra competitiva de curtas universitários. Um programa com curtas infanto-juvenis, fruto de parceria do Festival Aruanda com a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, será exibido no Aruandinha.

Homenagens

O moçambicano-brasileiro Ruy Guerra, de 86 anos, receberá Troféu Aruanda especial por sua trajetória, que será revisitada por seis de seus filmes (“Os Fuzis”, “Os Cafajestes”, “A Queda”, “Ópera do Malandro”, “Estorvo” e o inédito “Quase Memória”).

O cineasta, que é também ator (com papel importante em “Aguirre, a Cólera dos Deuses”, de Herzog) e professor de cinema, assistirá, com o público, à projeção de “O Homem que Matou John Wayne”. Este documentário de nome provocador revisita sua obra sob o olhar dos jovens Diogo Oliveira e Bruno Laet e traz, na produção e roteiro, a assinatura da professora Vavy Pacheco Borges, da Unicamp, autora da biografia “Ruy Guerra, Paixão Escancarada”, publicada este ano pela Boitempo Editorial. O livro será lançado e debatido no festival paraibano. O diretor de “Os Fuzis” ministrará, ainda, oficina para jovens profissionais de cinema na qual defenderá “Conceitos para um Olhar”.

A cantora e atriz paraibana Elba Ramalho, 66 anos, além de receber um Troféu Aruanda por sua contribuição ao cinema, teatro e TV brasileiros, assistirá, com Ruy Guerra, ao filme “Ópera do Malandro”. Afinal, foi neste musical anti-hollywoodiano, que ela interpretou seu melhor papel: a dançarina de cabaré, Margot. É antológica a cena em que ela duela, dançando, com a mocinha (nada ingênua) Ludmila, vivida por Cláudia Ohana. A cantriz, nascida em Conceição, iniciou-se no teatro no grupo de Luiz Mendonça e estreou no cinema em “Morte e Vida Severina”, de Zelito Viana, interpretando uma cigana. Somando ficções e documentários, Elba aparece em dez filmes.

O ator gaúcho-carioca Paulo César Pereio, 77 anos, trabalhou com Ruy Guerra em “Os Fuzis” e “A Queda”. Ele estará no festival paraibano para receber um Troféu Aruanda especial, mostrar e debater o documentário “10 Centavos para o Número da Besta”, de Guillermo Planel, que o tem como personagem central. Trata-se do segundo longa-metragem sobre o intérprete do caminhoneiro Tião Brasil Grande, coprotagonista de “Iracema, uma Transa Amazônica”. O primeiro – “Pereio Eu te Odeio”, direção de Allan Sieber – não teve a difusão merecida.

Famoso por suas idiossincrasias, o ator que, como poucos, cultivou tom cínico ao dar vida a seus personagens, soma em seu currículo filmes da importância de “Terra em Transe”, “O Bravo Guerreiro”, “Os Inconfidentes”, “Toda Nudez Será Castigada” e três blockbusters – “A Dama do Lotação”, de Neville d’Almeida (6,4 milhões de ingressos), “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, de Hector Babenco (5,4 milhões) e “Eu te Amo”, de Arnaldo Jabor (4 milhões), este protagonizado por ele e Sonia Braga.

Os três outros homenageados com o Troféu Aruanda especial são, como Elba Ramalho, paraibanos: o ator Servílio Holanda e os cineastas Paulo Caldas e Ivan Lhebarov (neste acaso, adotivo, pois ele nasceu na Europa Oriental).

Paulo Caldas, 53 anos, deixou sua João Pessoa natal muito cedo. Foi estudar no Recife e integrou o time que renovou o cinema pernambucano ao lado de Lírio Ferreira (seu parceiro em “Baile Perfumado”, 1996), Marcelo Gomes e Amin Stepple. Depois da festejada estreia com a saga do mascate libanês Benjamin Abrahão, que fotografou e filmou Lampião e bando, Caldas realizou mais um filme em dupla, o documentário “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas” (com Marcelo Luna). Seguiu, então, carreira solo com os longas “Deserto Feliz” e “O País do Desejo”. No Fest Aruanda, ele vai mostrar e debater seu quinto longa, o documentário “Saudade”, uma viagem pelo mundo de expressão lusitana, que fez deste sentimento, a saudade, elemento identificador.

Servílio Holanda, 41 anos, nasceu e vive em João Pessoa, embora já tenha corrido Brasis, seja em excursão com o Grupo de Teatro Piolim (na sublime e roseana montagem do “Vau da Sarapalha”, na qual interpretou um cachorro), seja para atuar em filmes de Walter Salles e Daniela Thomas (“O Primeiro Dia”), Alceu Valença (“A Luneta do Tempo”), Júlio Bressane (“São Jerônimo”), Ferreira e Caldas (“Baile Perfumado”), Francisco Ramalho Jr. (“Acorda Maria”), João Daniel Tikhmiroff (“Besouro”), seja para atuar na TV (“A Pedra do Reino”, na Globo). O ator, que ainda merece um papel no cinema à altura de seu talento, esteve, também, em “Abril Despedaçado”, de Walter Salles, e na peça “Woyzeck: o Brasileiro”, ao lado de Matheus Nachtergaele.

O festival prestará, ainda, tributo ao cineasta búlgaro-paraibano Ivan Lhebarov parceiro da realizadora paraibana Vânia Perazzo em vários projetos, inclusive no longa-metragem “Por 30 Dinheiros” (1998).

Por Maria do Rosário Caetano

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