Os planos de expansão do setor audiovisual
A Ancine e a Secretaria do Audiovisual (SAv) divulgaram o que devem ser seus planos para os próximos anos, visando a expansão do setor audiovisual. Os planejamentos da Ancine encontram-se no Plano de Diretrizes e Metas, um conjunto de tarefas a ser alcançadas até 2020. As normas, elaboradas pela agência reguladora, ainda serão discutidas e deliberadas pelo Conselho Superior de Cinema (CSC). As metas incluem o lançamento anual de 150 filmes brasileiros de longa-metragem no mercado nacional e a participação em 27% da bilheteria de cinema no país, algo em torno de 60 milhões de ingressos vendidos.
Tais metas podem ser bastante ousadas, levando-se em conta que o Brasil lançou em 2011 por volta de 100 filmes e vendeu 18 milhões de ingressos (equivalente a 13%). “Acho tais metas ambiciosas, mas não impossíveis de serem atingidas. No entanto, entre a realidade do mercado e metas escritas em documentos existe um grande abismo a ser ultrapassado”, afirma o cineasta Roberto Moreira, membro do CSC. “Dos 100 filmes produzidos no Brasil, 50% são documentários. Portanto, com capacidade de disputar efetivamente temos apenas 50 filmes. Precisaríamos de pelos menos 120 filmes de ficção. Não tenho nada contra o documentário. Temos excelentes documentaristas e é fundamental que a produção deles tenha continuidade. Se queremos público para nossos filmes, precisamos de títulos pensados para atender à demanda dos espectadores. Por isso, é fundamental que o distribuidor esteja presente desde a origem do projeto pensando seu mercado junto com o produtor e o diretor”, complementa.
Ancine e SAv têm programas diferentes
Para o presidente da Ancine, Manoel Rangel, entre as medidas para se alcançar tais números, estão a manutenção das diversas linhas de investimento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), de ações como o PAR e o PAQ, e a continuidade do programa Cinema Perto de Você e outras linhas de aumento de salas de cinema – a previsão é que haja um salto de 3.000 salas hoje para 4.550. “Vejo um quadro um pouco mais complicado, quanto ao market share brasileiro, já que mesmo que consigamos ampliar o número de salas conforme previsto, acredito que sem que tenhamos a coragem necessária de praticar uma política de quotas mais agressiva ampliando o percentual garantido através da obrigatoriedade da exibição das produções nacionais, não atingiremos esta meta”, pontua João Baptista Pimentel, presidente do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC).
Já a SAv/MinC tem outras metas, também a serem alcançadas até 2020, que envolvem formação, difusão e pesquisa, como a disponibilização de conteúdos audiovisuais licenciados ou em domínio público, pela internet; a implantação de núcleos de produção digital em todos os estados; o incremento em 100% do número de beneficiados por ações de fomento à pesquisa; incentivo à formação; desenvolvimento permanente de atividades de arte e cultura nas escolas públicas de educação básica; e o aumento em 70% das atividades de difusão e intercâmbios culturais, tanto no Brasil como no exterior.
“Planos de Metas geralmente são ambiciosos e assim devem ser. Existe muita lacuna no mercado de produtos audiovisuais brasileiros por conta de anos de dominação do produto global internacional, tanto no cinema como na TV. Mas o Brasil mudou. Existe uma nova classe C consumidora e populosa capaz de transformar as tendências de consumo para aqueles produtos que tenham maior diálogo com esse público, conteúdos brasileiros. As atividades de pesquisa, difusão junto às escolas e comunidades são fundamentais para a construção desse nova plateia”, conclui o presidente da ABPITV e membro do CSC, Marco Altberg.
Por Gabriel Carneiro