América Latina valorizada no Ceará

A 22ª edição do Cine Ceará será lembrada pela reunião do mundo latino, nossos vizinhos, e os nordestinos, com sua cultura especial, que precisa do cinema para resgatá-la para a mídia, como foi a saga cinematográfica do Cego Aderaldo, fonte de inspiração do saudoso Baden Powell, que chegou às telas pelas mãos de Rosemberg Cariry. E pelo justo prêmio atribuído ao filme chileno “Violeta Foi para o Céu”, biografia da mulher que cantou a liberdade contra as ditaduras, e pela euforia do público cearense com o humor ingênuo e sincero de “Cine Holliúdy”, do cineasta cearense e praticante de artes marciais, Halder Gomes. Será lembrado também, pelo belo desempenho da atriz Nataly Rocha em “Rânia”.

O cinema chileno vive uma boa fase, e o triunfo da fragmentada cinebiografia de Violeta Parra (1917-1967), que conquistou o prêmio de melhor filme no Ceará, também foi vencedora no Sundance Festival, nos EUA, com o prêmio de melhor filme da Mostra Mundo, com a trágica história da compositora suicida. Ela morreu aos 49 anos, depois de deixar sucessos como “Gracias a la Vida” (gravada por Elis Regina) e “Volver a los 17” (por Milton Nascimento e Mercedes Sosa). Neste mesmo festival, também brilhou outro filme chileno, “Jovem e Selvagem”, que ganhou o prêmio de “melhor roteiro”. Em maio, outro triunfo: “Não” (Plebiscito), de Pablo Larraín, venceu a Quinzena dos Realizadores, em Cannes. A protagonista de “Violeta”, Francisca Gavilán (uma espécie de Marion Cotillard chilena) foi eleita a “melhor intérprete” nos festivais de Guadalajara, no México, e Huelva, na Espanha.

O júri formado pelo grego Aléxis Grivas, a brasileria Ana Maria Bahiana, o peruano Alberto “Chicho” Durant, a holandesa Irmã Dulmers e o uruguaio Nelson Wainstein Knaster, apostaram numa promessa ao optar pela jovem cearense Graziele Felix, a “Rânia”, como melhor atriz, do longa cearense-holandês, de Roberta Marques. O prêmio de melhor ator foi para o argentino Luis Ziembrowski, pela comédia romântica “Um Amor”. A melhor direção ficou com o pernambucano Cláudio Assis, figura carimbada no festival do Ceará, um dos mais fiéis, com seu filme “Febre do Rato”.

Destacaram-se os curtas “Os Lados da Rua”, do capixaba Diego Zon, as animações “Dia Estrelado” (PE) e “Realejo” (SP), “Santas”, do Rio, “A Galinha que Burlou o Sistema”, de Quico Meirelles (filho do diretor de “Cidade de Deus”) e os cearenses “Querença”, mais um “nordestern” para a lista dos que gostam da temática cangaceira, e “Jus”, documentário sobre a forte presença do jumento na economia e cultura do Estado. Um filme (“Dizem que os Cães Vêem Coisas”, uma produção Alumbramento), também cearense, merecia figurar na lista dos premiados, mas foi esquecido.

O festival ainda será lembrado pela vibrante homenagem a Fernando Meirelles “pelos dez anos de Cidade de Deus”. E pelo – pasmem – cavalheirismo de Cláudio Assis. O pernambucano trocou seu famoso palavrão, com o qual se expressa em público para chocar, pela cortesia. Assis foi eleito o novo presidente da APCNN (Associação dos Produtores de Cinema do Norte e Nordeste) para mandato de dois anos.

E será lembrado também pela irreverência de André Abujamra, figura central do filme “Tropicalismo Now”, da simpatia do diretor Ninho Morais, da inteligência da produtora argentina Verônica Cura (de “Um Amor” e “Las Acácias”), da maluquice de dois cubanos alucinados por zumbis (o diretor Alejandro Brugués e o ator Jorge Molina, de “Juan de los Muertos”) e pelas animadas festas nos jardins do Teatro José de Alencar e a presença das belas Fiorella Mattheis, Miriam Freeland, Isabel Fillardis, Virgínia Cavendish e o torpedo cubano, Laura Ramos.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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