Cinema popular vence festival pernambucano

A premiação do Cine PE, que aconteceu em Recife, no final de abril, foi marcada pela divisão dos prêmios entre os filmes populares e os autorais. “À Beira do Caminho”, o melodrama estradeiro de Breno Silveira, ganhou os principais prêmios; melhor filme (pelo Júri Oficial e pelo Júri Popular), melhor ator (João Miguel), melhor roteiro (Patrícia Andrade), melhor ator coadjuvante (Vinícius Nascimento) e o Prêmio Gilberto Freire.

“Boca”, o “noir-nouvelle-vague-estilizado”, de Flávio Frederico, ganhou os “Calungas” de melhor direção, melhor atriz (Hermila Guedes), trilha sonora (Bid) e direção de arte (Alberto Grimaldi). Os outros prêmios de peso ficaram com “Paraísos Artificiais”, um filme que acende uma vela à transgressão e outra ao fashion: melhor fotografia (Lula Carvalho), atriz coadjuvante (Divana Brandão), montagem (Quito Ribeiro) e edição de som (Alessandro Laroca, Eduardo Virmond Lima e Armando Torres Jr.).

A seleção somou narrativas clássico-emocionais como “À Beira do Caminho”, de Breno Silveira, às ousadias poéticas de “Estradeiros”, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, o filme escolhido da crítica. E privilegiou grandes produções como “Paraísos Artificiais” (R$ 8 milhões), de Marcos Prado, sem esquecer filmes de baixíssimo orçamento (R$ 600 mil), como “Nas Quadradas das Águas Perdidas”, dos pernambucanos Wagner Miranda e Marcos Carvalho. Abriu espaço para a produção que buscou caminhos menos convencionais no filão “policial-noir”, com “Boca”, e para o documentário de recorte clássico “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto”, de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt.

Se destacaram nos curtas-metragens a superprodução internacional de Jorge Furtado, “Até a Vista” (filmado no Amazonas e no Uruguai), que ficou com o melhor filme; o divertidíssimo “Di Melo, o Imorrível”, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro (Prêmio Aquisição do Canal Brasil), o delicado “L”, de Thais Fujinaga (direção, atriz, fotografia, direção de arte e Prêmio ABD-PE), e “Poeta Urbano”, de Antônio Carrilho (melhor curta de Pernambuco). Duas pessoas do nordeste – o moleque Vinícius Nascimento que divide a cena com o craque João Miguel em “À Beira do Caminho”, e o cantor pernambucano radicado em SP, Di Melo – foram o destaque no festival. Vinícius, que estreou em “Opaió”, é esperto e muito inteligente. Di Mello, que gravou um disco na Odeon, em 1975, na onda da black music, não alcançou o sucesso e sumiu das paradas. Mas tornou-se cult. Foi resgatado por um filme que conjuga muito afeto, imagens poderosas e diálogos apimentadíssimos, mas nada apelativos. Merece transformar-se num longa-metragem.

O festival se orgulha de ter o maior auditório de festivais do Brasil, capaz de abrigar três mil pessoas em uma única noite (especialmente nos fins de semana). Teve problemas no ano passado com as chuvas torrenciais que transtornaram o bom andamento do festival. Este ano, a programação foi compactada e a seleção de filmes melhorou bastante, mas a projeção prejudicou dois grandes concorrentes filmes com problemas técnicos, como troca de rolos de “Boca”, que teve de se reprisado no dia seguinte, assim como o filme de Breno Silveira, causando uma longa e cansativa maratona de filmes. A plateia do Cine PE tem ficado reduzida nos últimos eventos, talvez em função dos ingressos que custam entre R$ 8,00 e R$ 14,00, que poderiam ser baixados. Afinal, não há prazer maior que ver três mil pessoas aplaudindo (ou até vaiando) um filme.

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