Mostra O Negro no Cinema Brasileiro percorre 50 anos de história

No Dia da Consciência Negra, o Museu Nacional dos Correios, em Brasília, abre uma mostra que promete revelar como a população afrodescendente tem sido retratada pelo cinema nacional ao longo dos últimos 50 anos. O Negro no Cinema Brasileiro acontece de 20 de novembro a 2 de dezembro, sob a curadoria do cineasta, professor e crítico de cinema Sérgio Moriconi.

Ao longo de duas semanas, serão promovidas 24 sessões, em horários alternativos. De terça a sexta-feira, as exibições acontecem às 12h30 e às 19h, visando oferecer uma oportunidade de unir descanso e informação para quem trabalha nas proximidades do Setor Comercial Sul (onde está o Museu Nacional dos Correios). Aos sábados e domingos, sessões às 15h e às 17h. A entrada é franca.

O Negro no Cinema Brasileiro pretende estimular uma reflexão sobre a história e a importância da presença dos afrodescendentes na constituição cultural, econômica e socioeconômica do país, além de permitir um debate sobre a situação atual.

A mostra vai exibir títulos que percorrem a história do cinema no Brasil. A começar por Amei um bicheiro, de 1952, policial inspirado nos filmes noir, sobre o jogo do bicho e que contém a cena em que o lendário ator Grande Otelo considerava a melhor de toda sua carreira: a morte de seu personagem, Passarinho. O passeio continua com o clássico Orfeu Negro, 1959, de Marcel Camus, que venceu em Cannes e recebeu o Globo de Ouro ao transpor para o carnaval carioca da década de 50 o mito de Orfeu e Eurídice.

Um dos mais importantes filmes do cinema brasileiro, Assalto ao Trem Pagador, de 1962, dirigido por Roberto Farias, tinha como protagonistas os atores Eliezer Gomes, Grande Otelo, Ruth de Souza e Luíza Maranhão. Na tela, a encenação de um fato real: o assalto ao trem da Central do Brasil, em 1960. Um título emblemático, A Rainha Diaba, 1974, de Antonio Carlos Fontoura, afirmou o imenso talento do ator Milton Gonçalves. Na pele de um homossexual que dominava o tráfico de drogas na Lapa, no Rio de Janeiro, Milton arrebatou o Brasil. O filme foi premiado no Festival de Brasília.

Em 1998, o cineasta Renato Barbieri e o pesquisador Victor Leonardi percorreram o caminho trilhado pelos africanos feitos escravos no Brasil e conceberam o premiado Atlântico Negro – na rota dos Orixás, que mostra as afinidades existentes entre comunidades separadas pelo Oceano Atlântico.

Mas foi nos anos 2000 que se assistiu a um boom da presença do negro no cinema brasileiro. Títulos como Uma onda no ar, de Helvécio Ratton, e Madame Satã, de Karim Aïnouz, de 2002, apresentavam diferentes aspectos da realidade social da população afrodescendente no País. Com seu filme sobre a criação de uma Rádio Comunitária numa favela de Belo Horizonte e da repressão policial que seus criadores vieram a sofrer, Ratton mostrou pessoas que tentam romper a rotina de tráfico e violência. Karim Aïnouz em seu longa de estreia, Madame Satã, magnificamente protagonizado por Lázaro Ramos, retrata a vida do malandro homossexual que comandava a vida boêmia na Lapa. O filme recebeu prêmios no Brasil, em Havana, Cartagena e Buenos Aires, dentre outros.

Quase dois irmãos, 2004, de Lúcia Murat, revela o encontro de ex-companheiros de infância que seguiram rumos distintos – um se tornou senador da República e outro chefe do tráfico de drogas numa comunidade carioca. No elenco, Flávio Buraqui e Antonio Pompêo, dentre outros. Do mesmo ano de 2004, Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo, traz um elenco estelar: Ruth de Souza, Léa Garcia, Milton Gonçalves, Taís Araújo, Thalma de Freitas, Rocco Pitanga. Em cena, a história de duas irmãs que após muitos anos se encontram numa pequena cidade mineira onde ainda vivem os fantasmas da escravidão e do racismo.

Longe da ficção e apresentando um artista que está entre os mais importantes da música brasileira, o documentário Paulinho da viola – meu tempo é hoje, 2004, revela a vida simples do artista que é o mais sofisticado do samba. Também na linguagem do documentário e concentrado numa personagem negra, Estamira, 2005, de Marcos Prado, arrebata as plateias por onde passa. Estamira Gomes de Sousa foi uma catadora de lixo do aterro Jardim Gramacho, do Rio de Janeiro que sofria de doença mental. Seu discurso filosófico misturava momentos de extrema lucidez e rasgos de loucura. Foi premiado no Rio de Janeiro, em São Paulo, Marseille, Viena, Havana e transformou-se em espetáculo teatral.

Pouco visto no circuito comercial, Besouro, 2005, de João Daniel Tikhomiroff, recupera para os dias atuais a figura lendária de Besouro Mangangá, que viveu no Recôncavo Baiano, no início do século XX, e é considerado o maior capoeirista de todos os tempos. A Bahia também é palco da comédia musical Ó Paí, Ó, de 2007, direção de Monique Gardenberg, que leva para as telas o clima e o frescor do carnaval baiano, num casarão em pleno Pelourinho de Salvador. E fechando o passeio pelo cinema nacional, o filme mais recente da mostra, A falta que me faz, documentário de 2009, assinado por Marília Rocha, vai à Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais, para mostrar o cotidiano de quatro meninas. O filme nasceu de uma pesquisa sobre as coletoras de flores de Diamantina.

No sábado, dia 24 de novembro, haverá palestra do professor Rafael Sanzio dos Anjos, graduado em geografia, mestre em planejamento urbano, doutor em informações espaciais e com pós-doutorado em Cartografia Étnica no Museu Real da África Central em Tervuren – Bélgica. Rafael Sanzio dos Anjos é Professor do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília e Diretor do Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (CIGA), onde coordena os Projetos Geografia Afro-Brasileira: Educação e Planejamento do Território e Instrumentação Geográfica, Educação Espacial e Dinâmica Territorial e Coordenador também do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UnB e do Centro de Documentação Geográfica Milton Santos (CDGMS).

Suas publicações mais recentes são as seguintes: “Dinâmica Territorial: Cartografia-Modelagem-Monitoramento, 2007”, “Cartografia & Educação – Vol I, 2008”, “Quilombos: Geografia Africana – Cartografia Ética – Territórios Tradicionais, 2009” e “Territorialidade Quilombola: Fotos & Mapas / Quilombola Territoriality: Photos& Maps, 2011.

PROGRAMAÇÃO

TERÇA-FEIRA, 20.11

12h30 – Ó, pai, ó – 96’
19h – Besouro – 94’ 

QUARTA-FEIRA, 21.11

12h30 – Atlântico Negro – 54’
19h – Paulinho da Viola – meu tempo é hoje – 83’ 

QUINTA-FEIRA, 22.11

12h30 – Amei um Bicheiro – 90’
19h – Madame Satã – 99’ 

SEXTA-FEIRA, 23.11

12h30 – Quase dois irmãos – 104’
19h – Ó, pai, ó – 96’

SÁBADO, 24.11

15h – A Falta que me faz – 85’
17h – Orfeu Negro – 90’

SESSÃO SEGUIDA DE PALESTRA COM O PROFESSOR RAFAEL SANZIO DOS ANJOS

DOMINGO, 25.11

15h – Atlântico Negro – 54’
17h – Besouro – 94’

TERÇA-FEIRA, 27.11

12h30 – Filhas do Vento – 85’
19h – Paulinho da Viola – meu tempo é hoje – 83’

QUARTA-FEIRA , 28.11

12h30 – Assalto ao Trem Pagador – 103’
19h – Quase Dois Irmãos – 104’ 

QUINTA-FEIRA , 29.11

12h30 – Uma Onda no ar – 92’
19h – Rainha Diaba – 99’ 

SEXTA-FEIRA , 30.11

12h30 – Madame Satã – 99’
19h – Uma Onda no ar – 92’

SÁBADO, 1º.12

15h – Rainha Diaba – 99’
17h – Amei um Bicheiro – 90’

DOMINGO, 2.12

15h – Filhas do Vento – 85’
17h – Estamira – 121’

 

O NEGRO NO CINEMA BRASILEIRO
Local: Museu Nacional dos Correios (Setor Comercial Sul, Qd. 4, Bl A, nº 256 – Brasília – DF)
Data: 20 de novembro a 2 de dezembro de 2012
Horário: terça a sexta às 12h30 e 19h; sábados, domingos e feriados às 15 e 17h
Entrada Franca

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