Cinemateca Brasileira apresenta em mostra 300 anos de cinema
A mostra 300 Anos de Cinema é um acontecimento que reúne momentos da história da sétima arte para compor novas constelações cinematográficas: cinema antigo, moderno, clássico, de vanguarda, sonoro, falado, calado, mudo, gritado, vociferado, pulsante, vivo e em transformação constante na sua relação com as artes, com o teatro, o circo, a música e as artes plásticas. Da lanterna mágica ao cinema digital, do teatro à performance, do circo à vanguarda. Obras fundamentais da história do cinema, restauradas e preservadas pela Cinemateca Brasileira.
Inspirado no trabalho de Henri Langlois (1914-1977), esse conceito de difusão audiovisual procura fortalecer o debate sobre os novos caminhos da cultura cinematográfica. Não basta simplesmente restaurar filmes. Não basta simplesmente apresentar filmes se eles não podem testemunhar a favor de uma nova ideia dos rumos da história do cinema e da própria situação das cinematecas. Para que as transformações recentes do cinema sejam melhor discutidas é preciso novas formas de história, novos enquadramentos que o revitalizem. Para isso, 300 Anos de Cinema encadeia filmes de épocas diferentes, espetáculos teatrais e circenses com conferências científicas, projetando no presente lições aprendidas em diferentes fases da história do cinema.
A mostra é uma homenagem a Henri Langlois, o notável fundador da Cinemateca Francesa, que revolucionou a história do cinema ao difundir filmes de diferentes períodos sem conexões evidentes. Personalidade marcada pelas batalhas que empreendeu em favor do patrimônio audiovisual mundial, Langlois é o emblema da luta pela legitimidade das cinematecas como instituições de cultura. Para recuperar o legado dessa personalidade vulcânica, a Cinemateca Brasileira exibe obras do próprio acervo, preservadas e restauradas ao longo dos últimos anos, reafirmando o lema de Langlois, para quem a missão fundamental de uma Cinemateca era “restaurar o filme na cabeça das pessoas”. Ao exibir obras-primas do cinema mundial em relação com momentos do cinema brasileiro restaurado, a mostra festeja o nonagésimo aniversário do mais convicto dos guardadores de filmes.
Dividida em temas, a mostra traz filmes cômicos do acervo da Fundação Armando Alvares Penteado, com palestra inaugural de Máximo Barro, que discorre sobre a evolução do gênero cômico no cinema. Evocação da era de ouro do cinema cômico norte-americano, quando Mack Sennett, Ben Turpin, Harold Lloyd, Harry Langdon, Roscoe “Fatty” Arbuckle, Charles Chaplin e Buster Keaton desfrutavam de extrema liberdade criativa e, artistas múltiplos, praticavam a acrobacia, a dança, o circo, a mímica, a poesia.
Séries estatais e privadas destacam imagens de homens públicos, acontecimentos que marcaram a história política e social, assim como as emoções do esporte e as ações de caridade para com os necessitados. Merece destaque o experimento radical dos Noticieros Icaic, cinejornal capitaneado pelo cineasta Santiago Alvarez em prol da Revolução. A comunicação de massa e o experimento estético em sintonia a transformação social, permitiram o desenvolvimento estético da forma do cinejornal, esse gênero tão rebaixado e significativo da história do cinema.
A mostra filme-poema trata-se de um conjunto de filmes que se destaca da produção média e constituem novas propostas para a experiência da poesia cinematográfica. Isolados em momentos diversos no fim da década de 1920, em contextos ainda mais diversos, esses filmes, vistos em conjuntos, se iluminam de forma surpreendente. Como marca, essa tradição prega o abandono da narrativa linear, em prol do rigor formal e da expressão da individualidade do cineasta-poeta, que reconstrói o mundo por meio signos rigorosamente compostos, que compõe versos com imagens, lançando mão da lógica tradicional estabelecida pela narrativa. Para homenagear Saulo Pereira e seu trabalho de restauro de Limite, a mostra traz grandes clássicos do cinema mundial, como Terra (1930), de Dovjenko, e A Paixão de Joana D’Arc (1928), de Theodor Dreyer. Ao recuperar o filme de Mário Peixoto, Saulo penetrou como ninguém nos mistérios de Limite e seus ensaios constituem o que há de mais significativo sobre o filme emblema brasileiro.
Para acompanhar os primórdios da história da indústria cinematográfica em contextos nacionais diferentes, a mostra sobre o advento do cinema na França e nos Estados Unidos, de 1905 a 1914, traz títulos raros do chamado primeiro cinema. Filmes que definiram os caminhos do cinema e ajudaram a formar gêneros que se consagrariam no cinema narrativo. Para discutir as culturas, as economias e as sociedades que esses filmes trazem, a Cinemateca Brasileira convidou o historiador Richard Abel, professor da Universidade de Michigan. Autor de livros indispensáveis ao estudioso do cinema antigo, como The Red Rooster Scare (Berkeley, 1999), Abel renova a história tradicional ao relacionar a história cultural com a história do cinema, descrevendo um contexto amplo através de fontes praticamente intactas. Como complemento ao curso, a Cinemateca Brasileira publicará o livro Americanizando o filme-ensaios de história social e cultural do cinema, que reúne ensaios de Richard Abel, organizados neste volume por Adilson Mendes.
A programação completa dos filmes que serão exibidos está disponível no site www.cinemateca.gov.br/mostra300.
300 Anos de Cinema
Data: até 22 de Setembro
Local: Cinemateca Brasileira – Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino – São Paulo/SP
Entrada Gratuita