Mostra traça um panorama dos filmes portugueses de 2000 a 2012

A programação cultural do Ano de Portugal no Brasil possibilitou um intenso contato de espectadores brasileiros com a produção artística portuguesa contemporânea. De 12 a 19 de dezembro, os brasilienses terão oportunidade de conhecer a mais recente safra da cinematografia lusa na 2ª Mostra Cinema Português Contemporâneo, no Cine Brasília, com entrada franca.

Sob curadoria de Carolina Dias e José Barahona, a mostra traça um panorama da produção recente de Portugal, através da exibição de 10 filmes, realizados entre os anos de 2000 e 2012, entre curtas e longas-metragens premiados em diversos festivais internacionais, que enfatizam ainda mais uma característica fundamental da cinematografia portuguesa: a diversidade e liberdade criativa, que foge às concessões e convenções comerciais estéticas, formais e até temáticas. Serão exibidos documentários, filmes de ficção, animação e experimentais, de cineastas consagrados e também de jovens cineastas.

Os filmes pretendem apresentar ao público brasileiro obras contemporâneas, menos conhecidas destes autores. Primeiras obras ou filmes que marcaram definitivamente a história do cinema português recente, como O Manuscrito Perdido, de José Barahona, que reflete sobre o processo de colonização portuguesa e conquistou vários prêmios em Portugal e no exterior. O documentário A nossa Forma de Vida, de Pedro Felipe Marques, que depois de vencer o primeiro prêmio no DocLisboa de 2011, conquistou vários outros em festivais europeus. Além de O Fantasma, primeiro longa-metragem de João Pedro Rodrigues, sobre o afeto numa relação entre dois homens, premiado em Nova York, e A Cara que Mereces, também o primeiro longa de Miguel Gomes, que fala da desilusão da geração que chega aos 30 anos de idade, entre outros.

A programação inclui ainda curtas-metragens premiados, como Rafa, de João Salaviza, premiado com o Urso de Ouro em Berlim de 2012, e Directo, de Luís Alvarães e Luís Mário Lopes, que conquistou o Grande Prêmio do Júri Amadis, em Montpellier, na França, em 2011, dentre vários outros.

Veja abaixo os filmes da programação:

Longas-metragens 

A ARCA DO ÉDENDoc., 80 min, 2011, Livre
Dir: Marcelo Félix
Uma viagem em vários tempos. Uma viagem de salvamento (de uma floresta com todas as plantas existentes, ameaçada de extinção; de um conhecimento do mundo e das maneiras de o lembrar; de imagens quase perdidas que têm de ser descobertas e restauradas), cuja imensidão os seus protagonistas vão percebendo à medida que enfrentam a sua complexidade. Uma viagem feita de presente e de memórias: onde relances de histórias esquecidas e precárias visões contemporâneas participam de uma mesma luta contra o tempo.
Prêmios: Melhor Filme Sobre Arte – Festival TEMPS D’IMAGES, Lisboa, 2011; Melhor Filme – MOVE CINE ARTE, Monte Verde, Brasil, 2012

A CARA QUE MERECES, Ficção, 108’, 2004, 10 anos
Dir. Miguel Gomes
Francisco, comporta-te! Bem sei que hoje fazes 30 anos, que é carnaval e que vestes de cowboy na festa do colégio, cercado por miúdos que detestas. Controla-te, rapaz…! Não vês que assim já não te aturam? E depois, como é que é? Partes a cabeça, vais para o hospital, ficas com sarampo e já não tens ninguém para tratar de ti… Como à Branca de Neve, davam-te jeito sete anões… Francisco, repete comigo: “Até aos trinta anos tens a cara que Deus te deu, depois tens a cara que mereces”.
Prêmios: Prêmio de Melhor Fotografia para um filme português, Prêmio da Crítica – IndieLisboa 2004; Menção Honrosa – Festival de Cinema da Covilhã 2004

A NOSSA FORMA DE VIDA, Doc., 91min, 2011, 10 anos
Dir: Pedro Filipe Marques
Na cauda da Europa, oito andares acima d’água, o casamento entre o eterno proletário Armando e a dona de casa Maria Fernanda sobrevive há 60 anos. Como parceiros do mesmo crime, a partilha das suas visões do mundo transforma o quotidiano de um país em decadência econômica numa breve comédia da vida. Num filme com a forma de iglu, estes guardiões do passado, deixam o mundo dos mass media inundar a sua torre de controle, desenhando um retrato no presente da experiência da classe trabalhadora portuguesa.
Prêmios: Melhor Primeira Obra – DocLisboa 2011; Menção Especial do Júri do Prêmio Joris Ivens – Cinéma du Réel 2012; Menção Especial do Júri – Documenta Madrid 2012; Grande Prêmio do Festival, Cidade de Coimbra; Prêmio para o Melhor Realizador; Prêmio D. Quijote, FICC/IFSS do Júri Internacional e dos Cineclubes – Caminhos do Cinema Português 2012; Extra Muros Award – 7th PRAVO LJUDSKI Film festival 2012 (Sarajevo, Bosnia Hersegovina)

A VINGANÇA DE UMA MULHERFicção, 2011, 100min, 16 anos
Dir: Rita Azevedo Gomes
Roberto é um dandy! É um ser impassível, indecifrável e daí, enigmático. Goza do prazer aristocrático de causar espanto. Das mulheres, que conhece em todas as variedades da sua espécie e raça,  já nada o pode espantar. A verdade é que Roberto sente o profundo tédio de quem esgotou todos os prazeres e encantos desta vida. No entanto… Uma certa noite, deixa-se tentar por uma mulher que o intriga e lhe lembra alguém… Nessa noite, de descida aos céus e de subida aos infernos, essa mulher escancara-lhe  o suplício da vida que é agora a sua. E, no meio de terríveis prazeres, Roberto entrevê o sublime do horror em que, obstinadamente, aquela mulher mergulhou. Sai dali fechado sobre si mesmo, marcado pela visão de um certo amor que, afinal nunca viveu.
Prêmios: Melhor Filme de Ficção – XIX Cinesul Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo Rio de Janeiro, 2012; Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor  Figurino – Caminhos do Cinema Português Coimbra, Potugal, 2012

ANGSTDocumentário, 53′, 2010, 10 anos
Dir: Graça Castanheira
Optando por uma narrativa extremamente pessoal, a cineasta portuguesa Graça Castanheira elabora uma reflexão sobre o estágio atual da humanidade. Analisa os impasses do desenvolvimento humano, da superpopulação ao risco de esgotamento do espaço disponível para a ocupação do planeta e dos estoques de energia disponíveis para o funcionamento da civilização como a conhecemos. Explora, ainda, as contradições de uma espécie sem predadores que se impôs sem conseguir até agora afirmar sua superioridade com um equilíbrio sustentável.
Prêmios: Prêmio Ulisse Melhor Documentário – Festival francês CINEMED; Menção Honrosa CineEco 2011 e o Prêmio da Juventude Universidade Lusófona; Prêmio de Melhor Documentário Troféu Andorinha Curta – Festival Cineport 2011

É NA TERRA NÃO É NA LUA, Doc, 185min, 2011, 10 anos
Dir: Gonçalo Tocha
Um homem-câmara e um homem-som chegam à Ilha do Corvo, um rochedo de 17km2, uma cratera de vulcão e uma única vila de 440 pessoas. Gradualmente a equipa de rodagem é aceite como habitante, mais duas pessoas a juntar a uma civilização com quase 500 anos de vida mas com poucos registos e memória escrita.
Prêmios: Menção Especial do Júri na Competição Cineastas do Presente  – Festival de Locarno (Suíça); Grande Prêmio para melhor filme na competição internacional  – Doclisboa (Portugal); Prêmio Melhor Filme na competição “Cine del Futuro”  – BAFICI (Argentina); Prêmio “Golden Gate award for Best Documentary” – San Francisco International Film Festival (USA); Prêmio Melhor Filme na competição “Documentários de Creaccion” – Documenta Madrid (Espanha) 

EMBARGO, Portugal/Espanha/Brasil, ficção, 83’, 2010, 12 anos
Dir: António Ferreira
A partir da obra homônima de José Saramago. Nuno é um homem que trabalha numa roulotte de bifanas (carro que vende comida típica portuguesa), mas que inventou uma máquina que promete revolucionar a indústria do calçado – um digitalizador de pés. No meio de um embargo petrolífero e deparando-se com uma estranha dificuldade, Nuno tenta obstinadamente vender a máquina, obcecado por um sucesso que o fará descurar algumas das coisas essenciais da sua vida. Quando Nuno fica estranhamente enclausurado no seu próprio carro e perde uma oportunidade única de finalmente produzir o seu invento, vê subitamente a sua vida embargada…
Prêmios: Menção Honrosa do Júri Internacional, Fantasporto, Portugal, 2010

KUDURO, FOGO NO MUSEKE, Documentário, 52min, 2007, 16 anos
Dir: Jorge António
Desde a sua independência, nunca Angola tinha assistido a um movimento cultural tão dinâmico e tão polêmico como o Kuduro. Nenhum outro gênero musical ultrapassou tão rapidamente as fronteiras e se tornou um fenômeno internacional. Kuduro, Fogo no Museke é o retrato social e cultural de uma nova geração, que quer acima de tudo ser a voz de uma nova Angola. 

LUANDA A FÁBRICA DA MÚSICA, Documentário, 56 min, 2009, 14 anos
Dir: Kiluanje Liberdade e Inês Gonçalves
“Fábrica da Música”é um hino. Pode-se dizer que é um filme épico, pois mostra de ponta a ponta uma cadeia de produção: como os angolanos são capazes de criar, produzir, vender e consumir o seu próprio produto, neste caso a música. Um verdadeiro grito de independência. 

O BARÃO, Ficção, 88min, 2011, 14 anos
Dir: Edgar Pêra
O barão, inspirado na obra de Branquinho da Fonseca, é um remake neuro-gótico dum filme fantasma, realizado durante a II Guerra Mundial. Proibido pelo Ditador por retratar um tiranete, um vampiro marialva que aterrorizava os habitantes duma região montanhosa. A narrativa, expressionisticamente hipnótica, conduz o Inspector-Narrador-Espectador por uma natureza insólita até ao castelo do Barão. O Barão é um camaleão emocional. Ora se apresenta dócil, ou irascível, um homem-javali, “uma pura besta”. Vive um amor aprisionado, dentro e fora de si. Um amor inatingível. Um ideal corrompido. Idalina, criada aristocrata paira pelo castelo. A sua esguia e esquiva figura perturba o Inspector. E o Barão. O Inspector é arrastado para uma noite sem contornos definidos. Figuras mitológicas irrompem no intervalo: uma Tuna escravizada, músicos encapuçados liderados por um maestro ciclope. Terror Castiço. Tudo se precipita.

FANTASMA, Ficção, 90’, 2000, 18 anos
Dir: João Pedro Rodrigues
Sérgio passa os dias entre um quarto alugado num hotel barato, sexo anônimo e o seu trabalho na recolha do lixo do setor norte de Lisboa. Ma suma noite os seus olhos se deparam com o fantasma dos seus sonhos, e ele acorda na obsessão do amor…
Prêmios: Melhor Filme Estrangeiro, Festival de Belfort – Entrevues; Melhor Filme – New Festival, Nova York; Seleção oficial do Festival de Veneza

O MANUSCRITO PERDIDOPortugal/Brasil, documentário, 81min, 2010, 10 anos
Dir: José Barahona
Através da busca pelo manuscrito perdido de Fradique Mendes, um poeta e aventureiro português do século XIX, o filme nos faz refletir sobre a colonização portuguesa, as origens da sociedade brasileira e algumas questões sociais contemporâneas como a luta pela terra.
Prêmios: Prêmio TV Brasil Melhor Longa Metragem, 15ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, RJ, 2011; Prêmio Connecticut College 2012, Connecticut College Research Film Festival; Menção Honrosa, Festival Internacional Diáspora, Cultura e Cidadania, Lyon 2012

Curtas-metragens

DIRECTO, Portugal, 13min, 2010, 14 anos
Dir: Luís Alvarães e Luís Mário Lopes
Enquanto a empregada põe a mesa para jantar, um casal assiste em direto, pela televisão, a um assalto a um banco. Os assaltantes fizeram dois reféns e estão na mira dos snipers. Na sala, os celulares não param de tocar. O marido revela que é ele quem tem de dar a ordem para matar os assaltantes. Já nada pode travar a execução…
Prêmios: Prêmios de Melhor Filme  – Festival de Cinema de Arouca, 2012; Grande Prêmio do Júri AMADIS – Fest’Afilm, Festival Intern. du Film Lusophone et Francophone de Montpellier – França, 2011; Prêmio Andorinha Curta-metragem – Melhor Ficção – Cineport, Brasil, 2011

HOPE, Portugal / Experimental, 10min, 2010,  14 anos
Dir: Pedro Sena Nunes
O encontro animal entre homem e mulher concebe a prisão aquática do desejo. A mulher entrega-se a uma existência sutil, graciosa. A fusão com aquilo que a natureza em si desperta fá-la desdobrar-se em novos mundos, de fome, sobrevivência, lassidão; sublime realidade. Gera-se uma nova vida; move-se, respira, subsiste num lugar de ecos embrionários. O acordar do toque na matéria densa fá-la-á por fim confrontar-se com a sua própria efemeridade e o poder destrutivo da criação. O homem a aparecer e a desaparecer.
Prêmios: Vencedor Prêmio APMP – Prêmio Nacional Multimédia, Portugal, 2010; 1º Prêmio Ensaio Multimédia – Festival Curtas Sadinas, 2010; 1º Prêmio Mostra Cinema Português  – Fantasporto, Portugal, 2011

JONGO, Portugal, ficção15min, 2013, Livre
Dir: Tiago Souza
Armindo e Helena celebram o aniversário de casamento.

POSFÁCIO NAS CONFECÇÕES CANHÕES, Portugal, ficção, 30min, 2012, Livre
Dir: António Ferreira
Posfácio trabalha na fábrica de confecções da Madame Canhão e namora com a sua filha Claudete. Tudo parece correr lindamente para o Posfácio não fossem os planos de terrorismo dos seus colegas da fábrica Marques e Mendes.

RAFA, ficção, 20min, 2012, 12 anos
Dir: João Salaviza
Às seis da manhã, Rafa descobre que a mãe está detida pela polícia. Na moto de um amigo, cruza a ponte e vai a uma esquadra no centro de Lisboa para visitá-la e esperar pela sua libertação. As horas passam. E Rafa não quer voltar para casa sozinho.
Prêmios: Prêmios: Urso de Ouro Curtas – Festival de Berlim 2012; Prêmio Uppsala em Memória de Ingmar Bergman – Uppsala Int. Film Festival 2012; The Small Camera – 33rd Manaki Brothers Film Festival 2012; Melhor Curta Metragem Estrangeira – FIC Luanda 2012; Melhor Som – Janela Int. de Cinema de Recife, Brasil 2012. 

SUPER VODKA, Portugal, ficção, 20min, 2012, 14 anos
Dir: Leandro Silva
Três homens decidem tentar ser de novo “homens”. O escritorário, o vendedor de santas e o dono de casa fazem as malas e decidem viajar… para um bar. A mal ou a bem, esta vai ser a “noite-zero” para eles. Este é um filme sem palavras onde a comunicação acontece através do olhar. E alguma violência também…

VAZANTE, Portugal, ficção, 14min, 2012, Livre
Dir: Pedro Flores
Rita vive num universo de silêncio e fantasia. Todos os dias retorna aos mesmos lugares e aguarda o regresso de quem partiu. Mas como sabem os mais velhos: o que o mar leva, o vento não traz.

Mais informações em www.facebook.com/pages/Mostra-Cinema-Português-Contemporâneo/211523098951427.

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