Produtor internacional de cinema Paulo Branco é homenageado em mostra

Reconhecido como o produtor com o maior número de títulos exibidos nos festivais de Cannes e de Locarno, e responsável por mais de 200 filmes de diferentes diretores, o português Paulo Branco ganha retrospectiva de suas produções, de 27 de fevereiro a 16 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.

Além de 20 obras selecionadas de sua extensa carreira, a mostra Produção Criativa – O Cinema de Paulo Branco conta com a participação do aclamado produtor em um debate agendado para o dia 8 de março, sábado, às 17h00, no CCBB-SP, reúne, além de Paulo Branco, os curadores da mostra Beto Tibiriçá e Francisco Cesar Filho, além do professor e pesquisador Pedro Maciel Guimarães.

Com produção da Associação do Audiovisual, entidade responsável pelo Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, a mostra acontece também no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, de 19 de fevereiro a 9 de março. No dia 6 de março, o CCBB do Rio de Janeiro promove uma aula magna com o produtor.

Estão presentes filmes assinados por diretores de prestígio como Manoel de Oliveira, Wim Wenders, Raúl Ruiz, Philippe Garrel, Olivier Assayas, Luc Moullet, Pedro Costa, Alain Tanner, Chantal Akerman, Werner Schroeter, Robert Kramer, Sharunas Bartas, Jerzy Skolimowski, Teresa Villaverde, João César Monteiro e Valeria Sarmiento. E também longas-metragens dirigidos por atores reputados, como os franceses Michel Piccoli e Mathieu Amalric.

Presença assídua nos maiores festivais de cinema do mundo, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York, Toronto e Tóquio, Paulo Branco já integrou os júris dos festivais de Berlim, Veneza, Roterdã e Locarno. Entre as homenagens e premiações que recebeu, destacam-se o título de Protagonistas do Cinema Europeu, concedido pelo Festival de Lecce-2011; o Prêmio Taormina Arte de Excelência Cinematográfica (Festival de Taormina, 2004); o título de Oficial da Ordem das Artes e das Letras da República Francesa, em 2004; e o Prêmio Raimondo Rezzonico para o melhor produtor independente, concedido pelo Festival de Locarno em 2002.

Atualmente, Branco atua como distribuidor e exibidor em Portugal e na França, dando ao cinema independente uma enorme dinamização e visibilidade internacional ao longo das últimas duas décadas. É diretor da produtora portuguesa Alfama Filmes e da distribuidora Leopardo Filmes.

Entre as produções programadas para a mostra, destacam-se duas obras dirigidas por Manoel de Oliveira, o mais importante cineasta da história do cinema português, Palavra e Utopia, de 2000, que conta a trajetória do Padre Antonio Vieira e tem elenco liderado por Lima Duarte, e o vencedor do prêmio especial do júri do Festival de Veneza A Divina Comédia, de 1991, estrelado por Maria de Medeiros e definido como uma parábola sobre a civilização ocidental.

A capital portuguesa Lisboa é personagem de três expressivos longas-metragens. Dirigido pelo alemão Wim Wenders em 1994 e lançado pelo Festival de Cannes, O Céu de Lisboa é uma exploração sonora da cidade com participação de Manoel de Oliveira e de Teresa Salgueiro, então vocalista do grupo Madredeus. Em Na Cidade Branca (1983), do suíço Alain Tanner, um marinheiro vivido por Bruno Ganz desembarca em Lisboa e escreve cartas à sua namorada descrevendo a brancura da cidade, a solidão e o silêncio. O filme foi lançado pelo Festival de Berlim.

Já Mistérios de Lisboa (2010), do chileno radicado na França Raúl Ruiz (1941-2011), tem participação no elenco de Léa Seydoux e mostra uma metrópole cheia de intrigas e identidades ocultas, tendo sido premiado no Festival de San Sebastian com o troféu Concha de Prata de melhor realizador.

Ruiz está representado ainda por Genealogias de um Crime (1997), drama freudiano premiado com o Urso de Prata do Festival de Berlim em 1997, no qual uma advogada passa a defender o principal suspeito de assassinato de uma psicanalista. O desenvolvimento do caso mostrará que tal crime comprova uma teoria freudiana. Um dos destaques do longa é seu elenco, composto por Catherine Deneuve, Michel Piccoli e Mathieu Amalric.

Os consagrados atores Mathieu Amalric e Michel Piccoli assinam a direção, respectivamente, de O Estádio de Wimbledon (2001) e E Então (1997). No primeiro, selecionado para o Festival de Locarno, uma jovem parte à procura de pessoas que conheceram um homem recém-falecido, um “escritor que nunca escreveu”. Com E Então, Piccoli recebeu o prêmio da crítica no Festival de Veneza. A obra focaliza uma sistemática reunião familiar que se revela um pesadelo para todos os envolvidos.

Dois polêmicos realizadores franceses, Philippe Garrel e Olivier Assayas, também tiveram obras produzidas por Paulo Branco. Em O Coração Fantasma (1996), dirigido por Garrel e exibido no Festival de Locarno, um pintor de meia-idade reflete sobre o amor e nas relações com suas ex-amantes. O Menino do Inverno (1989), de Assayas, foi projetado no Festival de Berlim e aborda uma desgastada relação amorosa de um casal que entra em crise a partir da gravidez da mulher.

Pedro Costa, um dos talentos mais originais da cinematografia portuguesa contemporânea, tem na programação seu longa Ossos, drama premiado no Festival de Veneza e passado em Fontainhas, um subúrbio negro de Lisboa. Outros realizadores portugueses presentes na programação são João César Monteiro e Teresa Villaverde. De Monteiro é exibido Vai e Vem (2003), uma de suas obras mais marcantes, uma espécie de autorretrato fantasiado. Já Transe (2006), de Teresa Villaverde, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e explora o tema da imigração dos países de leste para a Europa, segundo a dolorosa experiência de uma jovem que procura em vão uma vida mais digna.

Nome conhecido como um dos representantes do cinema de contra-cultura nos anos 1960, no momento da guerra do Vietnã, com preocupações políticas e sociais, o norte-americano Robert Kramer (1939-1999) assina O Reino de Doc (1988), no qual um médico vive uma existência dolorosa nos subúrbios de Lisboa. Um dos pilares, ao lado de Roman Polanski, do chamado Novo Cinema Polonês da década de 1960, Jerzy Skolimowski teve Quatro Noites com Anna (2008) saudado no Festival de Cannes como um retorno à sua melhor forma. A ação do filme acontece em um crematório de hospital, numa pequena cidade da Polônia.

Do alemão homenageado com um prêmio pela carreira no Festival de Veneza Werner Schroeter (1945-2010), a programação traz O Rei das Rosas (1986), uma abordagem sobre relações de posse e domínio, na qual a rosa enreda os destinos dos personagens.

Sharunas Bartas, nome importante do cinema da Lituânia que mereceu premiações nos festivais de Berlim e Veneza, confirma sua visão contemplativa, intimista e sensorial em A Casa (1997), projetado na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes. No elenco estão Valeria Bruni Tedeschi (também diretora e ex-mulher de Philippe Garrel) e o cineasta Leos Carax (de Holy Motors).

Um dos expoentes da Nouvelle Vague francesa, conhecido por sua obra bem-humorada, antiautoritária e criativa, Luc Moullet focaliza uma região desértica em Náufragos da D17 (2002). Lá, uma equipe de filmagem está em greve por falta de almoço, um homem ganha a vida abrindo buracos para ficar com os carros que caem neles e um grupo militar quer impedir a invasão de Saddam Hussein.

Nascida na Bélgica e radicada na França, Chantal Akerman é reconhecida como uma das mais importantes cineastas européias de sua geração. Seu filme de 2004, Amanhã Mudamos de Casa, mostra o pesadelo que toma conta da vida de uma mulher quando sua mão passa a morar com ela.

Selecionado para o Festival de Veneza, Linhas de Wellington (2012) conta com elenco estrelar: John Malkovich, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Mathieu Amalric, Vincent Pérez, Marisa Paredes, Chiara Mastroianni, Melvil Poupaud e Michel Piccoli. A trama passa-se em 1810, quando as tropas francesas comandadas pelo marechal Massena são derrotadas na serra do Buçaco pelo exército anglo-português do general Wellington. Dedicado a Raúl Ruiz, que preparou o filme, mas faleceu antes das filmagens, Linhas de Wellington foi dirigido pela viúva do diretor, a cineasta chilena Valeria Sarmiento, também montadora de muitos dos seus filmes.

 

Produção Criativa – O Cinema de Paulo Branco
Data:
de 27 de fevereiro a 16 de março
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo – Rua Álvares Penteado 112, Centro, São Paulo – (11) 3113.3651

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