Um time inesquecível
Por que alguns acontecimentos são impressos na memória de pessoas espalhadas pelo mundo inteiro e ali permanecem pelos tempos afora? No caso do Brasil, o que de nossa produção cultural ganhou relevo internacional? O carnaval? Sim, esta festa popular é um dos clichês que nos identificam e nos associam às curvas de mulatas com suingue nos quadris. O outro, claro, é o futebol. No terreno negativo, há a violência urbana. Nosso país seria o cenário de um terrível faroeste cotidiano. O caso do futebol é o mais rico e complexo de nossos componentes culturais. E ganha positividade jamais alcançada com a Seleção de 1970, que reuniu Pelé, Tostão, Jairzinho, Carlos Alberto, Rivelino e Gérson. Até monges budistas sabem que o Brasil alcançou espaço de excelência no futebol. E deixaram isto claro no filme “A Copa” (de Khyentse Narbu). Mas o caso da Copa de 70 é extraordinário. Ken Loach fez questão de declarar seu amor pelo selecionado tricampeão do mundo no filme “Meu Nome é Joe”, no qual o protagonista aparecia com uma modesta cópia da camisa da Seleção Brasileira. E olha que Loach é inglês, ou seja, um cidadão do país que inventou o futebol e suas regras. Outro inglês – o escritor black, Alex Whealte, de origem jamaicana – foi mais longe que o diretor de “Terra e Liberdade”. Confessou a um jornal britânico que, quando criança pobre num orfanato, sentia-se humilhado e inferiorizado pelos castigos permanentes. Ao assistir ao show de bola dos negros e mestiços, matizes dominantes no nosso escrete, compreendeu que poderia, sim, ser alguém longe daquele triste educandário de crianças órfãs ou pobres. Outro inglês, Alex Bellos, além de crônicas antológicas, dedicou um livro ao esporte bretão praticado por brasileiros: “Futebol, o Brasil em Campo”. Com espaço até para o Peladão, de Manaus. Um italiano, Pier Paolo Pasolini, também se apaixonou por nosso jeito de jogar, qualificando-o de futebol-poesia, em contraponto ao futebol-prosa dos europeus.