Sonho de um Sonhador

O filme “O Sonho de um Sonhador – A Vida de Frank Aguiar” foi concebido como mix de “Dois Filhos de Francisco” e “Lula, o Filho do Brasil”. Afinal, o cantor e tecladista, conhecido como “o cãozinho do forró”, tornara-se deputado federal (pelo PTB) e acabou eleito vice-prefeito de São Bernardo do Campo (na chapa do petista Luiz Marinho).

Quem assistiu ao filme, no Cine PE, concluiu que o projeto, comandado por Caco Milano, não chega nem aos pés do ótimo “2FF”, de Breno Silveira (5,3 milhões de espectadores). Nem tem as qualidades (pelo menos técnicas) de “Lula, o Filho do Brasil” (850 mil ingressos e 22 milhões de telespectadores na Rede Globo).

O filme de Milano só tem dois trunfos: bela fotografia de Uli Burtin e Chico Anísio em seu último trabalho no cinema, na pele do empresário de Frank, de nome Alemão, que faz o que quer e rouba todas as cenas em que aparece (são muitas). O restante é sofrível: roteiro raso (tudo se resolve na maior facilidade), belos cartões postais do Piauí que nada acrescentam à trama, música descartável e mershandisings descarados (como o filme não pode recorrer às leis de incentivo, pela condição de político de Frank, o jeito foi seduzir várias empresas e inseri-las na narrativa rala).

“O Sonho de um Sonhador” deve fazer sucesso no Piauí, terra de Frank, e em SBC, onde ele é vice-prefeito. Já no resto do país, vai ser difícil. Para distribuir o filme, Milano convocou o cineasta Deni Cavalcanti, profissional da era de ouro da Boca do Lixo paulistana, autor de “Alugam-se Moças” 1 (com Gretchen) e 2 (com Rita Cadillac). Deni garante que o primeiro “Alugam-se Moças” (1981) vendeu 9 milhões de ingressos. Dados oficiais do Concine registram bem menos (2.981.044).

Naquele tempo, as pornochanchadas mantinham significativo diálogo com públicos populares. Detalhe importante: o filme de Frank Aguiar é bastante pudico. Hoje, com os cinemas enclausurados dentro de sofisticados shoppings centers, resta-nos perguntar: quem, das classes A e B, conhece Frank Aguiar, mesmo que ele tenha “vendido 10 milhões de discos”? Este público vai se interessar por “O Sonho de um Sonhador”?

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