Cidadão rebelde

O fotógrafo e cineasta norte-americano Haskell Wexler (1922-2015), detentor de dois Oscar (de melhor fotografia) por seu trabalho nos filmes “Quem Tem Medo de Virgínia Wolf?” e “Essa Terra é Minha”, ganhou vigoroso retrato assinado por Pamela Yates no documentário “Cidadão Rebelde”.

Sua longa e bem-sucedida trajetória (ele viveu lúcido por 93 anos) tem muito a ver com a América Latina. Suas andanças e os muitos anos dedicados ao cinema documental colocaram o Brasil – via Chile – em sua vida. Em 1971, com Saul Landau, ele dirigiu o documentário “Brasil, Reportagem da Tortura”, composto por testemunhos de brasileiros banidos pelo Governo Militar e asilados por Allende. Ligado profundamente aos movimentos contestatórios dos anos 1960 (Luta pelos Direitos Civis, Guerra do Vietnã, Panteras Negras), Wexler registrou em “The Bus” a marcha black rumo a Washington.

O longa “Cidadão Rebelde” prioriza a carreira documental do artista e não aborda um dos temas mais controvertidos de sua atuação. Ou seja, seu trabalho em “Cinzas no Paraíso”, de Terrence Malick. Quem conhece este belo filme sabe que sua fotografia (premiada com o Oscar) traz a assinatura do cubano (nascido na Espanha) Nestor Almendros (1930-1992). Como o fotógrafo titular teve que ausentar-se, pois estava escalado para fotografar “O Quarto Verde”, de Truf­faut, coube a Haskell substitui-lo. Porém, na hora de definir o crédito de direção de fotografia, só o nome de Almendros foi registrado.

Em debate, em São Paulo, durante o festival É Tudo Verdade, Pamela contou que manteve longas conversas com Haskell sobre o assunto e que ele se sentia coautor da fotografia de “Cinzas no Paraíso” (1976), já que captara a maior parte de suas imagens. O fotógrafo brasileiro Lauro Escorel, que assistiu ao debate, externou sua opinião sobre este assunto para a Revista de CINEMA: “acho correta a assinatura única de Almendros, pois foi ele quem concebeu o projeto visual do filme. Foi ele quem adotou a ideia essencial de filmar na hora mágica”.

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