Fotógrafo de Bertolucci e Coppola acompanha exposição de sua obra na Oca paulistana

Vittorio Storaro, um dos maiores e mais premiados diretores de fotografia do mundo (ele prefere a designação “cinematógrafo”), está em São Paulo. Ele veio acompanhar os últimos dias da exposição “Storaro: Escrever com a Luz – Dupla Impressão entre Fotografia e Cinematografia”, na Oca paulistana, no Parque do Ibirapuera. A exposição, que tem curadoria do filho do fotógrafo, Giovanni Storaro, termina neste sábado, dia 4 de novembro.

Fotógrafo preferido de Bernardo Bertolucci, com quem realizou filmes da grandeza de “O Conformista”, “Último Tango em Paris”, “La Luna” e “O Último Imperador” (este lhe valeu um Oscar), Storaro ministrou, na noite da última terça-feira, 31, masterclass para 100 convidados. Depois de falar por uma hora sobre seus principais trabalhos, seus estudos de luzes, cores e dos quatro elementos, de seus livros e sua ação como professor, o mestre peninsular comandou visita guiada à exposição organizada por seu filho, que já passou por vários países da Europa e chega à América Latina pelo eixo Buenos Aires-São Paulo. O artista guiou os visitantes com raras alegria e disposição.

Durante a masterclass e a visita comentada, Storaro, de 77 anos, detalhou a relação (diálogo) da luz de seus filmes com quadros de Caravaggio e outros grandes mestres da pintura universal.

Diretor de fotografia de filmes de Francis Ford Coppola (“Apocalipse Now”, “No Fundo do Coração”, “Tucker” e “New York Stories” ) e de Carlos Saura (“Tango”, “Flamenco” e “Goya em Bourdeaux”), Vittorio Storaro contou que o pai, projecionista de cinema numa grande companhia, o estimulou a estudar fotografia desde cedo. Teve a sorte de frequentar o Centro Experimental de Cinematografia, “em momento muito especial”, lembrou. E acrescentou: “o CNC era uma referência na época. Por lá passaram nomes como Gabriel García Márquez (colega de Tomás Gutierrez Alea e Julio Garcia Espinoza) e outros alunos que fariam carreiras brilhantes”. E mais: “Coppola me contou que, quando jovem, o maior sonho dele era estudar no Centro Experimental, em Roma”.

Depois da fase de estudos, Storaro fotografou alguns curtas, mas rejeitou projetos de longa por não sentir-se “preparado para tamanho desafio”. Até que, em 1968, aceitou o convite de Franco Rossi, e assinou a fotografia de “Giovinezza, Giovinezza”. No ano seguinte, viria “Delitto al Circolo del Tennis”, de Franco Rossetti, e ele começaria sua fértil parceria com Bernardo Bertollucci, em “A Estratégia da Aranha”. E mais um filme (o terceiro de 1969) coroaria sua fase inicial como cinematógrafo, “O Pássaro das Plumas de Cristal”, de Dario Argento.

Storaro entende que “diretor, um filme só tem um: aquele o assina”. Por isto, prefere ser chamado de “cinematógrafo” (aquele que escreve com luz) e não de diretor de fotografia. A parceria com Bertolucci seguiria com “O Conformista”, com o sucesso e escândalo internacional “O Último Tango em Paris”, “Novecento”, “La Luna”, “O Último Imperador”, “O Céu que nos Protege”e “O Pequeno Buda”. Hoje, Storaro, que é professor na Academia de Cinema de Áquila, em sua Itália natal, tem-se dedicado ao registro cinematográfico de grandes óperas com nomes estelares do cinema peninsular (incluindo Marco Bellocchio, com quem realizou “Rigoletto a Mantova”, em 2010).

Em sua substantiva masterclass na Oca paulistana, o fotógrafo romano garantiu que o domínio técnico que conseguira em anos de estudo, mostrou-se insuficiente quando deparou-se com o quadro “Vocazione di San Matteo”, de Caravaggio.

“Um dia” – testemunhou – “ fui com minha esposa a uma igreja, em Roma. Uma igreja, temos que lembrar, é uma espécie de museu, por sua arquitetura, suas esculturas, suas pinturas e, muitas vezes, pela música que nelas ouvimos. A igreja estava silenciosa e concentrei minha atenção num quadro que já conhecia, mas que ali, naquele momento, me iluminou mais que nove anos de estudo e sete de exercício profissional. O que víamos naquele quadro? De um lado, Jesus, do outro, São Pedro e pessoas sentadas à mesa. Um raio de sol jogava luz sobre a mesa, dividindo as sombras em duas partes. Fiquei chocado e concluí que eu tinha muita técnica, mas era um ignorante no conhecimento da arte”.

Dali em diante, Storaro passou a estudar (e o faz até hoje) quadros de mestres (e de pintores populares, como Pelliza dal Volpedo, uma das fontes de inspiraração de “Novecento”) com dedicação infinita. A exposição que os paulistanos podem ver, até às 17h deste sábado, colocam imagens de seus muitos filmes (incluindo obras mais comerciais, como “O Feitiço de Áquila”) em diálogo com criadores da grandeza de Francis Bacon (com quem dialogou na criação das imagens de “O Último Tango em Paris”), entre muitos outros.

Depois de sua masterclass e da visita guiada pelos amplos espaços da Oca (Storaro definiu o espaço, criado por Niemeyer, como “maravilhoso” e prometeu trazer a São Paulo a segunda parte de seu trabalho e de suas novas reflexões), ele autografou o livro-álbum “Storaro – Scrivere con la Luce, i Colori, gli Elementi” (Mondadori, edição bilíngue em italiano e inglês, R$ 440,00).

Neste livro, ele condensou obra impressa em três volumes pela mesma Mondadori. Como complemento, a publicação (em grande formato, 320 páginas e reproduções de tirar o fôlego), traz CD com trailler de onze filmes fotografados por Storaro e trilha sonora de Ennio Morricone (“Romanzo”, na primeira faixa) e Ryuichi Sakamoto (as nove restantes).

 

Por Maria do Rosário Caetano

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