Não se Aceitam Devoluções

A produtora brasileira Walkíria Barbosa associou-se à produtora mexicana Mónica Lozano para, juntas, tentarem construir dois novos sucessos de bilheteria. Na verdade, dois remakes. O primeiro, realizado no Brasil, tem Leandro Hassum como protagonista, e estreia nesta quinta-feira, 31 de maio. Trata-se da terceira versão internacional do blockbuster mexicano “Não se Aceitam Devoluções”, dirigido e protagonizado por Eugénio Derbet. No México, Mónica comanda a recriação de “Se Eu Fosse Você”, sucesso de Daniel Filho.

O desafio brasileiro é imenso. Afinal, a comédia, com ingredientes melodramáticos, “Não Se Aceitam Devoluções”, vendeu 15 milhões de ingressos no México, 5 milhões nos EUA, transformou Eugénio Derbet em astro, já devidamente radicado nos EUA, e deu origem a dois filmes. O francês “Uma Família de Dois” (Hugo Gélin, 2017), com o ator black Omar Sy (de “Intocáveis”), vendeu 3 milhões de ingressos. Houve uma versão turca da qual pouco se sabe.

O desafio de Mónica Lozano tem proporções menores. “Se Eu Fosse Você 2” vendeu mais de 7 milhões de ingressos em nosso mercado, reafirmou o carisma de seus protagonistas (Glória Pires e Tony Ramos, já consagrados na TV), mas não correu o mundo. As duas produtoras, porém, acreditam no sucesso da versão mexicana da sedutora história do casal que troca de funções: ela passa a agir como homem, ele, como mulher. Acreditam, também, na “tropicalização” – termo defendido por Walkíria – de “Não se Aceitam Devoluções”.

A Total Entertainment, que soma Walkíria aos sócios Marcos Didonet e Vilma Barbosa, já havia recriado um blockbuster mexicano – “Sexo, Pudor e Lágrimas”, de Antônio Serrano, 1999 –, transformando-o em sucesso brasileiro (“Sexo, Amor e Traição”, de Jorge Fernando). Este remake, protagonizado por Fábio Assunção, Malu Mader e outros astros globais, vendeu, em 2004, mais de 2 milhões de ingressos em nosso circuito exibidor.

Quantos espectadores mobilizará o remake “tropicalizado” e “enxugado em 20 minutos” de “Não se Aceitam Devoluções”? Atores e produtores do filme não arriscam números. Walkíria abraçou o projeto com tamanho afinco, que até assinou a direção de arte. E fez questão de ter dois nomes no comando dos créditos do filme: o diretor brasiliense André Mores (“Entrando numa Roubada”), que ela conhece “desde que ele tinha 4 anos”, e o ator Leandro Hassum.

Ao cômico que mais leva público aos cinemas brasileiros, coube o papel de Juca Valente, um conquistador praieiro e medroso, que só pensa em mulher. Até que, num belo e inesperado dia, recebe um bebê das mãos de Brenda, namorada ianque e fugaz. Ela pede R$50,00 para o táxi e desaparece. Ele vai atrás da moça nos EUA, pois ela – uma foto dá a pista – atuava como professora de aeróbica em luxuoso resort californiano. Não a encontra e vai trabalhar, para sustentar a menina, como dublê em estúdio hollywoodiano dedicado a filmes de ação. O que virá depois será uma soma de ingredientes típicos do melodrama. Piadas e lágrimas.

Hassum, que perdeu o corpo roliço de outrora, contou em entrevista de produtores e elenco, no Shopping JK, em São Paulo, que estava ocupado com projeto na TV Globo, quando Walkíria disse que só ele poderia interpretar o protagonista de “Não se Aceitam Devoluções”. Leu o roteiro, gostou e topou a parada tão logo encontrou espaço em sua agenda. “Não havia como não topar” – brincou –, “pois Walkíria é insistente, não desiste, é a minha verdadeira bariátrica (referência à cirurgia que o fez perder dezenas de quilos)”.

Filmado, em maior parte, no Guarujá e em São Paulo, com sequências em Los Angeles, incluindo os Estúdios da Fox (parceira no projeto), a versão “tropicalizada” do blockbuster azteca conta com bom elenco. Destaque para Jarbas Homem de Mello, que interpreta Bob Gomez, produtor de cinema de origem latina. E, também, para a garota Manu Kfouri (a filha Emma, a quem o Dom Juan praieiro criará com imensa dedicação), a bela Laura Ramos, atriz cubana (como Brenda), e o divertido Zéu Brito, na pele de um surfista loiríssimo e tonto.

Leandro Hassum não sofre da síndrome do filme sério. Faz o que lhe dá na telha, sem querer se transformar, depois do sucesso com comédias ligeiras, em ator dramático. “Meu próximo filme a estrear – depois de “Não se Aceitam Devoluções” – é (mais um) “O Candidato Honesto”, comédia rasgada. Gostei de fazer a nova versão de “Dona Flor e seus Dois Maridos”, pois é um prazer interpretar um personagem de Jorge Amado. Mas não tenho a comédia como um gênero menor”. Avisa, porém, e sempre brincando: “se quiserem me chamar para interpretar um serial killer, eu topo”.

Quanto ao longa-metragem autobiográfico, no qual contará parte de sua própria história e a do seu pai, envolvido com a máfia italiana e preso quando Hassum tinha 21 anos, ele garante que o roteiro está chegando a bom termo e que deve ser filmado em 2019. No mais tardar, em 2020. Há que se lembrar que a família Hassum viveu em pleno dolce farniente. Ele estudou em ótimos colégios, andava em carros de último tipo e saía para “férias inesperadas” no meio do semestre letivo. Só não sabia que o pai estava “dando um tempo” nos negócios ilícitos. Ou melhor: fugindo da polícia. Até que a casa caiu de vez.

Laura Ramos, que faz seu quarto filme brasileiro (“Viva Zapato”, “A Ilha da Morte” e “Sangue Azul” são os anteriores), tem vivido entre Cuba, Colômbia e Espanha. E, quando é chamada, vem correndo para reencontrar o Brasil, país que a encanta e onde tem muitos amigos. Coube a ela interpretar a ex-namorada do bon vivant praieiro, aquela que entrega a ele a filhinha, ainda bebê, se arrepende e volta para reconquistá-la. Nem que seja nos tribunais.

Manuela Kfouri, a Manu – contou Walkíria – foi escolhida, porque queria mesmo interpretar o papel e, mais ainda, contracenar com Leandro Hassum. “Avisamos a ela e aos pais” – relembrou a produtora – “que a maratona seria pesada, o papel era enorme e ela teria que estar na locação às seis da manhã. Nada a desanimou. Tudo que exigíamos, a desafiava. Foi a escolhida”.

Não se Aceitam Devoluções
Brasil/México, 100 min., 2018
Direção: André Moraes
Elenco: Leandro Hassum, Manuela Kfouri, Laura Ramos, Jarbas Homem de Mello, Zéu Brito.
Fotografia: André Lavennère

 

Por Maria do Rosário Caetano

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