Festival do Rio abre mão do ineditismo radical para realizar edição com 84 filmes
O Festival do Rio, um dos maiores do país, enfrentou recente e grave adversidade financeira e, por isto, trocou sua data, início de setembro, para novembro (de primeiro a onze). Como último grande festival do ano, perdeu sua condição de primeira vitrine dos mais importantes filmes brasileiros. Nesta edição, a Première Brasil transforma-se, na prática, em Première Rio. Afinal, vários dos 84 filmes selecionados (60 longas e 20 curtas) já passaram por outros festivais brasileiros.
Das três principais mostras, as que atribuirão o Troféu Redentor, láurea máxima do evento, participam nove ficções (competição principal), um documentário e seis ficções (Novos Rumos) e seis documentários (competição principal).
O longa ganhador do Redentor de melhor ficção receberá, da Petrobras, R$ 200 mil, que deverão ser aplicados em sua distribuição no circuito comercial. Já o vencedor da Mostra Novos Rumos, de filmes mais experimentais (que podem ser documentário ou ficção), receberá R$ 100 mil (também como apoio à distribuição).
Da mostra principal destinada aos filmes ficcionais, participam o drama memorialista “Deslembro”, de Flávia Castro, o horror “Morto Não Fala”,de Dennison Ramalho, “Nóis por Nóis”, de Aly Muritiba e Jandir Santin (Muritiba venceu recentemente Gramado com “Ferrugem”), o híbrido “Azougue Nazaré”, do pernambucano Tiago Melo, “A Terra Negra dos Kawa”, do amazonense Sérgio Andrade, o gaúcho “Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, o mineiro “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, de João Salaviza e Renée Messora, o drama “Domingo”, de Clara Linhart e Fellipe Barbosa, que abriu, hors concours, o Festival de Brasília, e “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida, que participou da competição brasiliense.
A mostra “Novos Rumos” soma um documentário (o goiano “El Último País”, de Gretel Marín Palácio) a seis ficções, quatro delas exibidas em Brasília ou Gramado: o baiano “Ilha”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, o cearense “Inferninho”, de Pedro Diogenes e Guto Parente, o mineiro “Luna”, de Cris Azzi, e o carioca “Mormaço”, de Marina Meliande. Os paulistas “Para’i”, de Vinicius Toro, e “Sócrates”, de Alex Moratto, completam a lista. Pondere-se que, cada vez mais, as fronteiras entre a ficção e o documentário se apagam.
Na competição destinada ao longa documental, estão os cariocas “Clementina”, de Ana Rieper, e “Relatos do Front”, de Renato Martins, e o capixaba “Gilda Brasileiro – Contra o Esquecimento”, de Roberto Reis e Viola Scheuerer. Eles se somarão ao mobilizador “Torre das Donzelas”, de Susana Lira, Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília, ao alto-astral “Meu Nome é Daniel”, de Daniel Gonçalves, exibido, hors concours, na noite de encerramento do Festival Olhar de Cinema, em Curitiba, e ao paulista “Eleições”, de Alice Riff (mostrado em paralela de Brasília).
Às três mostras nobres do festival, que acontece em diversos cinemas espalhados pela capital fluminense, se somam mais sete secções (Curtas-Metragens, Première Latina, Retratos, Hors Concours, Expectativa, Midnight Fic & Doc e Panorama).
No segmento “Hors Concours”, um filme muito esperado pelos que desejam saber se Jorge Furtado voltou aos seus bons e criativos tempos (depois do frustrante “Real Beleza”): “Rasga Coração”, baseado em peça homônima de Oduvaldo Viana Filho. À frente do elenco, Marco Ricca, Drica Moraes, Chay Sued e Luiza Arraes. Outro título promissor: “Aconteceu na Quarta-Feira”, mais um exercício de síntese (apenas 70 minutos) do veterano e prolífico Domingos Oliveira.
Completam esta secção especial: “Sequestro Relâmpago”, de Tata Amaral, “Cine Holliudy 2 – A Chibata Sideral”, do cearense gente-boa Halder Gomes, “Correndo Atrás”, comédia black de Jeferson De, o hilário “Diamantino”, ficção luso-brasileira, dirigida por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt (que passou pelo Cine Ceará), “Intimidade entre Estranhos”, de José Alvarenga Jr (que teve boa participação em Gramado com “10 Minutos para Vencer”), “Simonal”, de Leandro Domingues (outro com boa presença em Gramado), “Los Silencios”, que rendeu a Beatriz Seigner o Candango de melhor diretora em Brasília, “Sueño Florianópolis”, da argentina Ana Katz, com elenco estelar e brasileiríssimo (comandado por Andréa Beltrão e Marco Ricca) e “Uma Noite Não É Nada”, de Alain Fresnot.
Há que se notar que o segundo longa ficcional de Paulo Sacramento – “O Olho e a Faca”, rodado em plataforma de petróleo e com elenco liderado por Rodrigo Lombardi e Maria Luíza Mendonça – está perdido em sessão na esvaziada Panorama. O cineasta, também grande montador e produtor ousado, iniciou sua carreira com ótimos curtas e longa documental notável (“O Prisioneiro da Grade de Ferro”, vencedor nacional e internacional do Festival É Tudo Verdade). Mas, desta vez, já anuncia o prematuro lançamento de seu novo filme para o dia seis de dezembro. Ou seja, sem buscar novas vitrines.
Entre os filmes do segmento “Retratos”, destacam-se perfis cinematográficos de Zuza Homem de Mello (“Zuza Homem de Jazz”, de Janaína Dalri, Ziraldo (“A Turma do Pererê.Doc”,de Ricardo Favilla), Angel Viana (“Voando com os Pés no Chão”, de Cristina Leal), Hugo Carvana (“Carvana”, de Lulu Corrêa), Rogéria (“Senhor Astolfo Barroso Pinto”, de Pedro Gui), “Marcia Haydée”, de Daniela Kallmann, e “Paulo Casé”, de Paula Fiuza. A eles, somam-se “Filme Ensaio”, estreia na direção da atriz Maria Flor, “Meu Samba É meu Dom”, de Cristiano Abud, e “Rindo à Toa: Humor sem Limites”, de Cláudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga.
Quatro documentários terão exibição hors concours: “Humberto Mauro”, cinebiografia poética dirigida e coeditada (com Renato Vallone) pelo sobrinho-neto André Di Mauro, o longuíssimo (como uma boa edição faria bem a este filme!) “Excelentíssimos”, de Douglas Duarte, “Amazônia, o Despertar da Florestania”, de Christiane Torloni e Miguel Przewodowski, e “THF: Aeroporto Central”, produção germano-brasileira, do cearense Karim Aïnouz.
Na secção “Clássicos e Cults”, serão homenageados dois realizadores brasileiros, perdas dos últimos anos: Nélson Pereira dos Santos (1928-2018), com os seminais “Rio 40 Graus” e “Rio Zona Norte” (este homenageará, ainda, Ângela Maria, que nos deixou há uma semana), e Hector Babenco (1946-2016), com “Pixote, a Lei do Mais Fraco”. Para completar, será exibida cópia nova de “Central do Brasil”, de Walter Salles, lançado há 20 anos.
O filme de abertura do Festival do Rio, que contará também com grande panorama da produção internacional, será “As Viúvas”, de Steve McQueen. Já o filme escolhido para o encerramento é “O Grande Circo Místico”, de Carlos Diegues, que abriu Gramado.
Abaixo, os filmes que compõem todas as mostras especiais brasileiras e a Première Latina:
CURTA-METRAGEM (Competição Principal): “A Retirada para um Coração Bruto”, de Marco Antônio Pereira, “À Tona”, de Daniella Cronemberger, “Antes que o Tempo me Esqueça”, de Leo Goodgod e Paulo Rodrigues, “Boi”, de Lucas Bettim e Renan Carvalho, “Gopi”, de Viviane D’Avilla e Paulo Dimantas, “Mais Triste que Chuva num Recreio de Colégio”, de Lobo Mauro, “Nomes que Importam”, de Muriel Alves e Angela Donini, “O Órfão”, de Carolina Markowicz, “Preciso Dizer que te Amo”, de Ariel Nobre, “Princesa Morta do Jacuí”, de Marcela Ilha Bordin, “Universo Preto Paralelo”, de Rubens Pássaro, “Você não me Conhece”, de Rodrigo Séllos. + Sessão extra: “O Mundo é Redondo para Ninguém se Esconder nos Cantos – Parte I: Refúgio”, de Leandro Goddinho.
CURTA-METRAGEM (Competição Novos Rumos): “Cadelas”, de Rita Toledo, “Cascudos”, de Igor Barradas, “Invasão Drag”, de Rafael Ribeiro, “Jéssika”, de Galba Gogóia, “Lembra”, de Leonardo Martinelli, “Sempre Verei Cores no seu Cinza”, de Anabela Roque, “Vigia”, de João Victor Borges.
PREMIÈRE LATINA: “Família Submersa”, de María Alché, “Happy Hour”, de Eduardo Albergaria, “La Cama”, de Mónica Lairana, “Rojo”, de Benjamin Naishtat, “Tarde para Morir Joven”, de Dominga Sotomayor.
EXPECTATIVA: “Palace II – 3 Quartos com Vista para o Mar”, de Rafael Machado e Gabriel Corrêa e Castro, e “Pedro e Inês” , de António Ferreira.
MIDNIGHT: “Personas Humanas”, de Frank Spano (ficção), ”Amazônia Groove”, de Bruno Murtinho, “The Cleaners”, de Hans Block e Moritz Riesewieck (documentário)
Por Maria do Rosário Caetano
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