Bio – Construindo uma Vida
Por Maria do Rosário Caetano
“Bio – Construindo uma Vida”, oitavo longa-metragem do cineasta, músico e professor da PUC gaúcha Carlos Gerbase, chega aos cinemas nesta quinta-feira, 4 de abril.
O filme conquistou três troféus Kikito no Festival de Gramado 2017 (Júri Popular, Prêmio Especial do Júri pela direção de atores e melhor desenho de som) e estreia, agora, escorado em elenco estelar, no qual destacam-se Maria Fernanda Cândido, Marco Ricca, Rosane Mulholland, Sharon Menezzes, Maitê Proença e Bruno Torres. A eles, soma-se a nata do cinema gaúcho: Tainá Müller, Werner Schünemann, Zé Victor Castiel, Fernanda Carvalho Leite, Felippe Kannenberg, entre muitos outros, já que no total, há 39 personagens em cena. A fotografia é de Bruno Polidoro, a montagem de Milton do Prado e o som, premiado em Gramado, de Augusto Stern e Fernando Efron.
Definir “Bio – Construindo uma Vida” não é tarefa fácil. Trata-se, afinal, de um híbrido de ficção científica com cinema documental. Estas duas linguagens se somam para narrar a história de um cientista de 111 anos (sua trajetória, do nascimento, em 1959, até 2070).
A narrativa ficcional, estruturada como falso documentário, recorre a depoimentos de familiares, professores, colegas, amantes e amigos do cientista. Enfim, de pessoas que conviveram e influenciaram este homem de tão longa vida. Tudo acompanhado de breves cenas, que ilustram momentos marcantes de tal trajetória.
Gerbase se colocou, na gênese do filme, frente a uma indagação: “o que aconteceria se um documentarista pudesse viajar no tempo e captar depoimentos sobre a vida de alguém, no calor dos acontecimentos, e não com aquele teor nostálgico de quem relembra fatos enterrados há muitos anos no passado?”
Sua resposta o levou ao futuro (2070) e transformou-se em roteiro (que ele escreveu sozinho), gerando um filme que propõe ao espectador “uma narrativa fragmentada, mas muito emocional, sobre a longa e atribulada existência de um biólogo na segunda metade do século 20 e primeiros 70 anos do século 21, vivida com imensa sede de conhecimento”.
O cineasta acredita que “Bio – Construindo uma Vida” é um filme que sequencia e radicaliza o principal tema de seus longas anteriores (desde “Sal de Prata”): “a imaginação como a mola propulsora do ser humano”.
“Em ‘Bio’, o desafio de imaginar fica com o público: cada espectador deve criar em sua mente o personagem principal. Não é uma neurose (como em “Sal de Prata”), nem uma necessidade (como em “3 Efes”), nem uma psicose (como em “Menos que Nada”). É um exercício de narrativa para o outro, a quem não conheço, mas em quem confio”, conta o diretor.
A história de Carlos Gerbase no cinema gaúcho e brasileiro é marcada por momentos dos mais significativos. Além de fundar a Casa de Cinema de Porto Alegre com Jorge Furtado e mais oito sócios, ele participou ativamente do movimento superoitista (destaque para o longa “Inverno”) e dirigiu, com Giba Assis Brasil (em 35 milímetros), o seminal “Verdes Anos”, fonte de revitalização da produção audiovisual na terra de Teixeirinha.
A geração da qual Gerbase e seus amigos da Casa de Cinema fizeram parte pretendia mostrar (e mostrou) um Rio Grande do Sul urbano. Os oito sócios daquele influente coletivo audiovisual oitentista, sem exceção, queriam distância do chamado “cinema de bombacha”.
Embora curtas e longas-metragens sejam a “praia” preferida do diretor de “Bio”, ele integrou, por duas décadas, a banda punk rock Replicantes. Hoje, longe da Casa de Cinema (e dos músicos replicantes), Gerbase dedica-se a fazer filmes na Prana, sua produtora (ao lado de sua mulher e sócia, a ex-vocalista replicante Luciana Tomasi) e ao magistério, como professor do curso de Cinema da PUC gaúcha.
Aos 60 anos, recém-completados, ele soma oito longas-metragens em seu currículo. E muitos curtas, sendo o mais famoso, “Deus Ex-Macchina”.
“Saí dos Replicantes em 2002”, rememora. Mas “sigo fazendo algumas brincadeiras roqueiras públicas com meus amigos músicos, que são vários e me ajudam a voltar no tempo”. E, como bom gaúcho, ele leva a sério sua vida acadêmica: “continuo firme na PUC (em agosto, completo 38 anos como professor universitário), tenho publicado, em revistas acadêmicas, artigos sobre fotografia, séries de TV e cinema”. E mais: “escrevo uma crônica quinzenal no jornal ‘Zero Hora’”. Uma seleta de seus textos foi publicada no livro “Anarquia é Utopia: Faça uma Todo Dia”, que concorre ao Prêmio Açorianos de Literatura (o mais importante do Estado).
A Prana Filmes produzirá, em maio, “Nuvem Rosa”, primeiro longa de Iuli Gerbase, filha do casal Tomasi Gerbase. Neste momento, em que o setor audiovisual brasileiro vive em transe (sem saber quais serão as consequências dos acontecimentos que abalam a Ancine – Agência Nacional de Cinema) e depara-se com sucessivos cortes de orçamento na área cultural, o cineasta externa sua preocupação: “nossa produtora prepara-se para começar os trabalhos de um Núcleo Criativo (ganhamos o edital), mas tememos que esse trabalho seja paralisado”. E arremata: “como sempre, tenho alguns roteiros prontos para filmar. Um dia, eles saem do papel!”.
Bio – Construindo uma Vida
Brasil, 103 minutos, 2019
Direção: Carlos Gerbase
Elenco: Maria Fernanda Cândido, Marco Ricca e mais 37 atores.
O filme participou dos festivais de Gramado, Rio, São Paulo e Punta del Este
Distribuição: Bretz Filmes
Filmografia de Carlos Gerbase
2017 – “Bio – Construindo uma Vida”
2012 – “Menos que Nada”
2009 – “1983, o Ano Azul” (doc sobre o Grêmio, parceria com Augusto Mallmann)
2007 – “3 Efes”
2005 – “Sal de Prata”
2000 – “Tolerância”
1984 – “Verdes Anos” (parceria com Giba Assis Brasil)
1983 – “Inverno” (longa em super-8)
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