Bafta promove triunfo avassalador de “1917”
Por Maria do Rosário Caetano
“1917”, o épico que o inglês Sam Mendes realizou, inspirado nas memórias do avô, combatente da Primeira Guerra Mundial, foi o grande vencedor do Bafta, o “Oscar britânico”.
Além de ser escolhido como o melhor filme, derrotando produções comandadas por estrelas como Martin Scorsese (“O Irlandês”), Quentin Tarantino (“Era uma Vez… em Hollywood”) e Todd Phillips (“Coringa”), “1917” sagrou-se a melhor produção britânica, derrotando filmes de Ken Loach (“Você Não Estava Aqui”) e Fernando Meirelles (“Dois Papas”). Das nove estatuetas disputadas pelo longa de Mendes, sete foram conquistadas, incluindo a de melhor direção.
“Coringa” era o recordista de indicações (onze), mas só levou três. E só uma de primeira grandeza – melhor ator para o talentoso, vegano e anticonsumista Joaquin Phoenix, que vai somando triunfos por onde passa.
O sul-coreano “Parasita” também fez bonito. Além de melhor filme estrangeiro, teve reconhecido seu surpreendente e fascinante roteiro, assinado pelo diretor Bhong Jong-ho, em parceria com Han Jin Won. O governo da Coreia do Sul está em estado de graça com o feito de seu cineasta. No Brasil, autoridades diplomáticas receberão convidados para comemorar o desempenho do filme, ganhe ou não as estatuetas possíveis pelas seis indicações recebidas da Academia de Hollywood. Afinal, não é todo dia que uma produção falada em coreano, com história e atores do país asiático, chega tão longe.
Se Renée Zellweger é a franca favorita ao Oscar de melhor atriz, imagine se não seria premiada com a “máscara teatral” do Bafta? Afinal, sua Judy Garland envelhecida, viciada em álcool e barbitúricos foi talhada para tocar até os corações mais duros. O filme, ainda por cima, é uma produção britânica e mostra a cantriz norte-americana, a Dorothy de “O Mágico do Oz”, tentando, em uma casa de espetáculos londrina, superar adversidades e ganhar dinheiro para pagar dívidas.
Previsível, também, a premiação de “Klaus” como melhor longa-metragem de animação do Bafta. Além de muito bem-feito e divertido, o filme, dirigido pelo ibérico Sergio Pablos, resultou da soma de esforços de produtores da Inglaterra e Espanha.
O melhor documentário (vale lembrar que os ingleses ignoraram o macedônio “Honeyland”, um dos favoritos ao Oscar), segundo os integrante do Bafta, foi o britânico-sírio “For Sama”, dirigido pelo londrino Edward Watts, em parceria com sua protagonista (e câmera das principais sequências), a jovem Waad al-Khateb.
No próximo domingo, 9 de fevereiro, a Academia de Hollywood promoverá sua edição de número 92. Deve consagrar com sua estatueta dourada, muitos dos filmes que triunfaram no Bafta, em especial o de Sam Mendes. Quanto ao quarteto de atores (principais e coadjuvantes), com tantos prêmios prévios, tornou-se barbada (adeus suspense, o Oscar fica cada dia mais previsível) apostar em Renée Zellwegger, Joaquin Phoenix, Laura Dern e Brad Pitt.
Quem há tirar o Oscar destes quatro intérpretes? Aliás – vale perguntar – como definir Brad Pitt como coadjuvante, se seu personagem, um dublê bonitão e descolado, ocupa espaço imenso e essencial à trama de Tarantino, tanto quanto o ator decadente de Leonardo DiCaprio?
Outro nome que vai solidificando-se em premiações prévias ao Oscar é o da islandesa Hildur Gudnadóttir, autora da trilha sonora de “Coringa”. E, entre os derrotados, estão os filmes produzidos pela Netflix, caso de “O Irlandês”, o novo e poderoso mergulho de Martin Scorsese na violência exacerbada, o generoso “Dois Papas”, de Fernando Meirelles, e o superestimado “História de um Casamento”, de Noam Baunbach.
Scorsese até vem recebendo muitas e importantes indicações, mas na hora do prêmio propriamente dito, acaba preterido. A relação da indústria do cinema com o poderosa rede de streaming é, ainda, muito conflituosa. Se não fosse assim, o mediano “Green Book” jamais teria derrotado o poderoso “Roma”, de Alfonso Cuarón, ano passado. Afinal, se “Parasita” tornou-se o “filme do ano” (aquele capaz de somar qualidade artística e poder de diálogo com o grande público), quem desempenhou tal papel, ano passado, foram o mexicano Cuarón e seu longa-metragem, detentor de mais de 150 troféus, conquistados mundo afora.
No mais, no tocante ao Bafta, resta torcer para que a Academia Britânica diversifique seu quadro de sócios e não repita o desdém, gritante este ano, por profissionais não-anglo-saxôes.
Confira os vencedores do Bafta:
. “1917” (Inglaterra/EUA) – melhor filme, melhor filme britânico, diretor (Sam Mendes), fotografia (Roger Deakins), design de produção (Gassi & Sandales), som (Millan, Tarney, Tate, Taylor & Wilson), efeitos visuais (Butler, Rocheron & Tushy)
. “Coringa” (EUA) – melhor ator (Joaquin Phoenix), direção de elenco (Shyana Markowitz), trilha sonora (Hildur Gudnadóttir)
. “Parasita” (Coreia do Sul) – melhor filme estrangeiro, melhor roteiro original (de Bhong Joon-ho e Han Jin Won)
. “Klaus” (Espanha/Inglaterra): melhor filme de animação (de Sérgio Pablos)
. “For Sama”(Inglaterra/Síria): melhor longa documental (de Waad al-Khateb e Edward Watts)
. “Judy: Muito Além do Arco-Iris”(Inglaterra) – melhor atriz (Rennée Zellweger)
. “Jojo Rabbit” (Nova Zelândia/EUA) – melhor roteiro adaptado (Taika Waititi)
. História de um Casamento” (EUA) – melhor atriz coadjuvante (Laura Dern)
. “Era uma Vez… em Hollywood” (EUA) – melhor ator coadjuvante (Brad Pitt)
. “Ford x Ferrari” (Inglaterra/EUA) – melhor edição de som
. “Adoráveis Mulheres”(EUA) – melhor figurino (Jacqueline Durran)
. “O Escândalo”(EUA) – melhor cabelo e maquiagem (Vivian Baker, Kazu Hiro e Anne Morgan)
. “Bait”— melhor estreia britânica para Mark Jenkin (diretor e roteirista) e Byers & Waite (produtores)