Com força nos documentários, Festival de Brasília seleciona 30 filmes
A 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) tem rosto e personalidade traçados. É fortemente documental, descentralizada com produções das cinco regiões brasileiras e tem uma presença equilibrada feminina e de criadores negros. O desenho dessa face nasceu do trabalho intenso dos 13 jurados da Comissão de Seleção, sob a orientação do curador e diretor artístico, o cineasta Silvio Tendler.
“Temos um recorte sincero de um Brasil que faz cinema com muita bravura, diante das adversidades impostas ao setor pelo desmonte da cultura em âmbito nacional. Foram quase 700 filmes que se apresentaram às comissões de Seleção do Festival de Brasília. Isso demostra uma produtividade intensa num momento de crise. O Brasil por meio do cinema quer mostrar sua verdadeira cara, e o Festival de Brasília será sua vitrine”, aponta o cineasta Silvio Tendler.
Após duas semanas de avaliações, nas quais prevaleceram o bom senso, a troca de ideias e de impressões, o amor ao audiovisual nacional e muita sensibilidade em jogo, as três comissões de seleção escolheram os 30 filmes dos 698 que participarão da 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), que será transmitido de 15 a 20 de dezembro, pelo Canal Brasil e streaming Play Brasil.
O resultado, que foi divulgado na terça-feira (24/11), pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), e publicado no Diário Oficial do Distrito Federal, é considerado provisório, pois cabe recurso em até 5 (cinco) dias.
Dos seis filmes selecionados para a Mostra Oficial de longa-metragem, cinco são documentários, dando vazão a homenagens viscerais ao cinema nacional e ao diálogo com figuras emblemáticas da cultura nacional.
Conheça os longas da Mostra Oficial:
• Espero que Esta te Encontre e que Esteja Bem (Natara Ney, Documentário, PE/RJ/MS, 83 min)
• Por Onde Anda Makunaíma? (Rodrigo Séllos, Documentário, RO, 84 min)
• A Luz de Mario Carneiro (Betse de Paula, Documentário, RJ, 73 min)
• Longe do Paraíso (Orlando Senna, Ficção, BA, 106 min)
• Entre Nós Talvez Estejam Multidões (Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, Documentário, MG/PE, 92 min)
• Ivan, o Terrível (Mario Abbade, Documentário, RJ, 103 min)
Presidente da Comissão de Seleção de longas, o cineasta e músico André Luiz Oliveira conta que foram levados em conta aspectos como o tradicional ineditismo e o atual panorama político, social e epidemiológico. “Vivemos esse momento difícil tanto por conta da pandemia, quanto pela situação do audiovisual brasileiro que, a partir do atual governo federal, praticamente se encontra na UTI, com projetos estacionados”, reflete André Luiz Oliveira. “Não existe mais recurso, não existe mais política de audiovisual, estamos em processo de destruição e renascimento, porque o cinema brasileiro já renasceu várias vezes e não é dessa vez que ele vai ser destruído”, aponta.
Os documentários vieram de regiões como Rio de Janeiro, Roraima, Mina Gerais (em coprodução com Pernambuco), Pernambuco (em parceria com Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul). O único representado do gênero ficção é baiano, “Longe do Paraíso”, dirigido por Orlando Senna, um ícone da velha guarda do cinema brasileiro.
“Esse tipo de seleção faz parte de um contexto que coloca o audiovisual na linha de frente da luta por sua sobrevivência. Escolhemos três filmes sobre o cinema, como forma de chamar atenção para o que estamos passando, para a importância da arte e da cultura, para a importância da luta política por um audiovisual forte, expansivo”, defende.