Festival paraibano realiza edição on-line e homenageia 60 anos de “Aruanda”

Por Maria do Rosário Caetano

“Os Quatro Paralamas”, novo documentário de Roberto Berliner, considerado “o quinto Paralama”, fará dobradinha com o sexagenário curta-metragem “Aruanda”, para dar início, em João Pessoa, à décima-quinta edição do Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro.

O evento paraibano terá abertura presencial (nesta quinta-feira, 10 de dezembro) e encerramento, idem, no dia 16, com o documentário “Me Chama que Eu Vou”, de Joana Mariani, sobre Sidney Magal. Estas duas sessões especiais acontecerão na Rede Cinépolis, no Shopping Manaíra. Mas a mostra competitiva e todos os debates acontecerão on-line.

“Aruanda”, de Linduarte Noronha, o mais famoso dos filmes paraibanos, foi lançado há exatos 60 anos. Por isso, além de sua exibição, o clássico nordestino será debatido por trinca de respeito: os veteranos Luiz Carlos Barreto, Vladimir Carvalho e Jorge Bodanzky. Os três vão refletir, virtualmente, sobre a “Permanência de ‘Aruanda’ na História do Cinema Brasileiro”.

Outros temas “da hora”, como “Cinema Negro e o Racismo Estrutural Brasileiro” e as fronteiras (cada vez mais tênues) entre o cinema documental e ficcional serão, também, discutidos no espaço virtual. Para debater o cinema black brasileiro, foram convocadas as diretoras Joyce Prado (do potente “Chico Rei Entre Nós”) e Kalyne Almeida (de “Aponta prá Fé”). Com elas, em mesa 100% feminina, estará a mestranda Carine Fiúza.

O time que debaterá o intrincado tema “Fronteiras e Bifurcações do Cinema de Não-Ficção na Contemporaneidade – Entre Narrativas Disruptivas e Novas Linguagens” é, também, 100% feminino (as cineastas Helena Solberg, Susanna Lira e Emília Silveira). O comando do Festival Aruanda se penitencia de falha verificada em sua edição de 2019, quando time de 15 diretoras promoveu justa rebelião contra o péssimo horário a que acabaram empurradas (hora do rango) no ciclo de debates aruandeiros.

Pela primeira vez em sua história (de 15 anos), a principal mostra do festival paraibano será composta só com documentários. Tal opção altera a configuração dos troféus (é dos mais bonitos, o Aruanda, único com nome de filme). Não haverá prêmios para atores, atrizes, diretores de arte etc. A festa dos laureados será, portanto, bem mais enxuta.

Os filmes que, este ano, competem são “Chico Rey Entre Nós”, de Joyce Prado (que fez bonito na Mostra SP), “Codinome Clemente”, de Isa Albuquerque, “Glauber Claro”, de Cesar Meneghetti (outro que brilhou na Mostra paulistana), “Tentehar – Arquitetura do Sensível”, de Paloma Rocha e Luis Abramo, “Todas Melodias”, de Marco Abujamra, Mariana Marinho e Viviane D’ Ávilla, “Nheengatu – A Língua da Amazônia”, do lusitano, apaixonado pelo Brasil, José Barahona, e “Libelu – Abaixo a Ditadura”, vencedor do Festival É Tudo Verdade”, de Diógenes Muniz.

É a primeira vez, na história do Aruanda (o ano de pandemia parece estar fragilizando os pilares curatoriais de vários festivais brasileiros), que um filme laureado com o prêmio principal entra na competição aruandeira. Tomara que, ano que vem, se a vacina der cabo do coronavírus, o festival pessoense volte ao rigor de suas edições anteriores.

Há quatro anos, o Aruanda criou a mostra competitiva Sob o Céu Nordestino, destinada por inteiro ao cinema produzido nos nove estados da região Nordeste. Em 2018, a seleção de filmes foi tão significativa, que ofuscou a principal competição, a nacional. A qualidade apresentada pela produção regional fez-se tão evidente, que o ensaísta e professor da USP, Jean-Claude Bernardet, sugeriu a criação de um Prêmio da Crítica para o melhor filme nordestino. O vencedor foi “Seu Amor de Volta (Mesmo que Ele Não Queira)”, de Bertrand Lira.

A competição desta décima-quinta edição nordestina compõe-se com cinco filmes: o inédito “Aponta prá Fé – Ou Todas as Músicas da minha Vida”, da paraibana Kalyne Almeida, os cearenses “A Jangada de Welles”, de Petrus Cariry e Firmino Holanda, que vem fazendo bela carreira em festivais nacionais e internacionais, e “Swingueira”, parceria com a Bahia, sob comando de jovem quarteto (Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula). A eles, se somarão o maranhense “As Órbitas da Água”, de Frederico Machado, e o pernambucano “King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalcante, este, o grande vencedor do Festival de Gramado.

Estará a produção ficcional brasileira em baixa (numérica e qualitativa) e a documental em alta? Esta pergunta se impõe nesse ano em que o Festival É Tudo Verdade teve edição histórica (com filmes da grandeza de “O Segredo de Putumayo”, de Aurélio Michiles), o Aruanda entregou sua competição nacional inteira ao gênero e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, pela primeira vez em 53 anos de história, exibirá apenas uma ficção na disputa do cobiçado Troféu Candango (e cinco longas documentais).

O documentário brasileiro vive, mesmo, um bom momento. Mas – tudo indica – há muitos filmes ficcionais prontos (caso de “A Paixão Segundo G.H.”, Luiz Fernando Carvalho, “Sol”, de Lô Politi, “Diário de Viagem”, de Paula Kim, “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio, “Clube dos Anjos”, de Ângelo Defanti) e seus produtores e diretores estão ressabiados. Preferem esperar momento oportuno para lançá-los nos festivais (ou circuito exibidor). Nossa produção ficcional está, pois, entrincheirada, aguardando a chegada da vacina.

Além da homenagem ao sexagenário curta “Aruanda”, que dá nome ao Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro, o evento paraibano prestará tributo a um de seus maiores incentivadores, o pesquisador, cineasta e agitador cultural Wills Leal, que faleceu em maio passado. Prestará, ainda, homenagem às cineastas Vânia Perazzo, diretora de “Por Trinta Dinheiros”, e Helena Solberg, autora de ficções como “Vida de Menina”, vencedora de Gramado, e de dezenas de documentários, realizados no Brasil, América Hispânica ou EUA, sendo o mais famoso deles, “Carmen Miranda – Bananas is my Business”.

Dois profissionais com grande folha de serviços prestados ao audiovisual brasileiro serão, também, festejados. O diretor de fotografia João Carlos Beltrão, responsável por parte substantiva das imagens do cinema paraibano, receberá um Troféu Aruanda especial por sua bem-sucedida trajetória. E o pesquisador de imagens de arquivo José Maria Lopes, da TV Cultura, será reconhecido por sua contribuição ao cinema documentário.

COMPETIÇÃO NACIONAL DE CURTAS-METRAGENS

“A Pontualidade dos Tubarões”, de Raysa Prado (ficção, PB)
“Pranto”, de Jaime Guimarães (ficção, PB)
“Remoinho”, de Tiago A. Neves (ficção, PB)
“Reinado Imaginário”, de Hipólito Lucena (ficção, PB)
“Sobre Nossas Cabeças”, de Susan Kalik e Thiago Gomes (ficção, BA)
“À Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente”, Bruna Barros/Bruna Castro (doc, BA)
“Filme_Urgência_Curte1”, de Paulo Silver (doc., AL)
“A Travessia”, de Otávio Almeida (doc., PI)
“Mãtãnãg – A Encantada”, Shawara Maxakali/Charles Bicalho (animação, MG)
“Piu Piu”, de Alexandre Figueirôa (doc., PE)
“Rasga Mortalha”, de Thiago Martins de Melo (animação, MA)
“Recôncavo”, de Pedro Henrique Chaves (ficção, DF)
“Vai Melhorar”, de Pedro Fiuza (ficção, RN)
“Construção”, de Leonardo da Rosa (doc., RS)
“A Profundidade da Areia”, de Hugo Reis (ficção, ES)

COMPETIÇÃO DE CURTAS PARAIBANOS

“Cura-Me, de Eduardo Varandas Araruna” (ficção)
“E Agora, Você”, de Edson Lemos Akatoy (ficção)
“Makinaria”, de Igor Tadeu (animação)
“Maracastelo Chegou”, de Angela Gaeta (doc)
“Marília e Arthur”, de Astrée Cleyet-Merle (ficção)
“Não Moro Mais em Mim”, Vitor Celso/Bruna Guido (ficção)
“Pranto”, de Jaime Guimarães (ficção)
“Reinado Imaginário”, de Hipólito Lucena (ficção)
“Remoinho”, de Tiago A. Neves (ficção)
“Pontualidade dos Tubarões”, Raysa Prado (ficção)

XV FESTIVAL ARUANDA DO AUDIOVISUAL BRASILEIRO
Data:
11 a 16 de dezembro
Sessões de abertura e encerramento serão presenciais
Todas as mostras competitivas terão exibição on-line e gratuita, para todo o país (plataforma Nuvem, de Curitiba, a mesma que assinou as qualificadas sessões do Festival Olhar de Cinema)
O acesso aos debates, seminários e à programação de curtas e longas da Competitiva Nacional e Sob o Céu Nordestino (total de 42 filmes) será feito pelo site www.festaruanda.com.br

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