Festival do Rio começa com Almodóvar e termina com Guillermo del Toro
Por Maria do Rosário Caetano
A Première Brasil, peça de resistência do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, será na verdade, uma “Première Carioca”, pois a maioria dos dez títulos selecionados para disputar o Troféu Redentor, já teve sua avant-première em outros festivais brasileiros. Mas a Cidade Maravilhosa e seu festival – apesar da crise econômica, da pandemia e de governos sofríveis – continuam irresistíveis. Muitos filmes se guardaram inéditos para estrear na mais fotogênica das cidades brasileiras.
Na noite dessa quinta-feira, 9 de dezembro, “Madres Paralelas”, o novo e emocionante filme de Pedro Almodóvar, um drama de afetos e dores políticas (sim, o manchego faz sua primeira incursão pela política explícita), abre o Festival do Rio. Dia 19, já perto do Natal, outro filme de diretor latino – “O Beco do Pesadelo”, de Guillermo del Toro – encerra a maratona de 90 filmes, programados em cinco cinemas.
Pode parecer pouco filme (e pouca sala de exibição) para um festival que já programou mais de 400 títulos distribuídos por 50 cinemas em tempos idos, de fartura econômica e delírios numéricos. Depois de ser obrigado a recorrer a “vaquinha camarada” em 2019 para garantir edição compacta e de não acontecer em 2020 (a era Crivella foi de amargar!), o Festival do Rio se recompõe aos poucos. Este ano, não contará com sua mais vistosa (e bela) vitrine, o Cine Odeon, na emblemática Cinelândia. Anda em contenda surda com o poderoso Grupo Severiano Ribeiro. Vida que segue.
O prestígio do Rio e de seu festival é tão grande, que seu comando, liderado por Ilda Santiago, ainda pode contabilizar, em seus vários segmentos, uma série de significativas estreias. Entre os estrangeiros, além das premières de Almodóvar e Del Toro, serão exibidos o novo Woody Allen (“Festival do Amor”), o novíssimo “Drive my Car”, da sensação planetária Ryusuke Hamaguchi, cotadíssimo para o Oscar internacional e que acaba de ganhar o prêmio de melhor filme dos associados da New Yorker Film Critics; o novíssimo Nanni Moretti (“Três Andares”, da seleção de Cannes); “Pequena Mamãe”, da francesa Céline Sciamma, e “Belfast”, de Kenneth Branagh.
No terreno brasileiro, há três premières nacionais: “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos, “Casa Vazia”, de Giovani Borba, e “Cora”, de Gustavo Rosa de Moura e Matias Mariani. A esses títulos ficcionais serão acrescidos outros sete (todos já conhecidos): “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky, “Sol”, de Lô Politi, “O Livro dos Prazeres”, de Marcela Lordy, “O Pai da Rita”, de Joel Zito Araújo, “Meu Tio José”, de Ducca Rios, e “Mundo Novo”, de Álvaro Campos.
Na categoria longa documental há, também, importantes premières. A começar por “Uma Baía”, do diretor de fotografia e realizador Murilo Salles. Até agora, só os alemães e convidados do Festival de Leipzig assistiram ao décimo-segundo longa do diretor de “Nunca Fomos Tão Felizes” e “Como Nascem os Anjos”. Outra novidade, o documentário “Cafí”, de Lírio Ferreira e Natara Ney. O diretor de “Árido Movie” (fotografado por Murilo Salles) garantiu à Revista de CINEMA que está muito feliz com o resultado de seu novo doc, dedicado à trajetória de seu conterrâneo, o fotógrafo e artista plástico Carlos Filho (1950-2019), que embalou mais de 300 discos de grandes nomes da música brasileira.
Há outros títulos inéditos na categoria longa documental: “BR Trans”, de Tatiana Issa e Rafael Alvarez, e “Manguebit, de Jura Capela. E apenas dois já exibidos em outros festivais: o híbrido “O Melhor Lugar do Mundo É Agora”, de Caco Ciocler, e o doc black-periférico “Rolé – Histórias de Rolezinhos”, de Vladimir Seixas.
Como sempre fez questão de promover o diálogo entre o cinema de empenho artístico e o cinema que busca o diálogo-com-o-público-sem-abastardar-se, o Festival do Rio – nascido da fusão da Mostra de Cinema do Rio de Janeiro e o RioCine (em 1999) – será a primeira vitrine de produções que chegarão aos cinemas nas próximas semanas e meses. Caso de “Turma da Mônica 2 – Lições”, de Daniel Rezende (do ótimo “Bingo, o Rei das Manhãs”), “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio, em nova incursão no universo musical de Renato Russo, “Alemão 2”, continuação do maior sucesso comercial de José Eduardo Belmonte (quase um milhão de espectadores), “A Suspeita”, de Pedro Peregrino, e “Papai é Pop”, de Caíto Ortiz.
Haverá, também, exibições especiais de filmes de invenção, como “Capitu e o Capítulo”, de Júlio Bressane, que teve sua première brasileira no Olhar de Cinema (Curitiba), e documentário de rara potência poética e política, “O Marinheiro da Montanha”, de Karim Aïnouz. Complementam o quadro de Sessões Hors Concours os filmes “O Circo Voltou”, de Paulo Caldas, “Meu Álbum de Amores”, de Rafael Gomes, e “Ela e Eu”, de Gustavo Rosa de Moura.
No terreno do curta-metragem, uma observação: ou a produção carioca de formato sintético vive sua primavera, ou o bairrismo deu o tom da seleção. Dos treze concorrentes, seis se fazem acompanhar da sigla RJ. Para o restante do país (mais de 20 estados e territórios) sobraram sete vagas.
Abaixo, as listas de selecionados pelas mostras competitivas e informativas da vigésima-segunda edição do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro:
Première Brasil/Première Rio (ficção)
. “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos
. “Casa Vazia”, de Giovani Borba
. “Cora”, de Gustavo R. de Moura e Matias Mariani
. “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira
. “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky
. “Sol”, de Lô Politi
. “O Livro dos Prazeres”, de Marcela Lordy
. “O Pai da Rita”, de Joel Zito Araújo
. “Meu Tio José”, de Ducca Rios
. “Mundo Novo”, de Álvaro Campos
Première Brasil/Première Rio (documentário)
. “Uma Baía”, de Murilo Salles
. “Cafí”, de Lírio Ferreira e Natara Ney
. “BR Trans”, de Tatiana Issa e Rafael Alvarez
. “Manguebit, de Jura Capela
. “O Melhor Lugar do Mundo É Agora”, de Caco Ciocler
. “Rolé- Histórias de Rolezinhos”, de Vladimir Seixas
Mostra Novos Rumos
. “Diário de Viagem”, de Paula Kim
. “Barragem”, de Eduardo Ades
. “Os Dragões”, de Gustavo Spolidoro
. “Os Grandes Vulcões”, de F. Kinas e T.B. Mendonça
. “Os Primeiros Soldados”, de Rodrigo de Oliveira
. “O Dia da Posse”, de Allan Ribeiro
. “Rio Doce”, de Fellipe Fernandes
Competição de Curtas Brasileiros
. “Masar – Caminhos à Mesa”, de Amina Nogueira e Ana Sanz (RJ)
. “Depois Quando”, de Johnny Massaro (RJ)
. “Fim do Dia”, de Rafael Raposo (RJ)
. “Tereza Josefa de Jesus”, de Samuel Costa (RJ)
. “Quando o Tempo de Lembrar Bastou”, de Felipe Quadra (RJ)
. “Tecido, Sigilo”, de Lúcio Jota (RJ)
. “VIVXS!”, de Schapira, Estrela D’Alva e Lohman (SP)
. “Jamary”, de Begê Muniz (AM)
. “Colmeia”, de Mauricio Chades (GO)
. “Da Janela Vejo o Mundo”, de Ana Lugarini (PR)
. “Modelo Vídeo”, de Leonardo Lacca (PE)
. “O Nascimento de Helena”, de Rodrigo Almeida (RN)
. “Solitude”, de Tami Martins e Aron Miranda (AP)
Novos Rumos (Curtas)
. “Centelha”, de Renato Vallone (RJ)
. “Ibeji Ibeji”, de Victor Rodrigues (RJ)
. “Lina”, de Melise Fremiot (RJ)
. “O Fundo dos nossos Corações”, de Letícia Leão (RJ)
. “Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui”, de Erika Sarmet (RJ)
. “Chão de Fábrica”, de Nina Kopko (SP)
. “Okofá”, de Caprine, Bispo, Martins, Rodrigues e Case (SP)
. “Meu Coração Já Não Aguenta Mais”, de Fabrício Brambatti (SP)
Hors Concours
. “Capitu e o Capítulo”, de Júlio Bressane
. “Alemão 2”, de José Eduardo Belmonte
. “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio
. “O Marinheiro da Montanhas”, de Karim Aïnouz
. “O Circo Voltou”, de Paulo Caldas
. “Meu Álbum de Amores”, de Rafael Gomes
. “Turma da Mônica 2 – Lições”, de Daniel Rezende
. “A Suspeita”, de Pedro Peregrino
. “Papai é Pop”, de Caíto Ortiz
. “Ela e Eu”, de Gustavo Rosa de Moura
O Estado das Coisas
. “Segredos do Putumayo”, de Aurélio Michiles
. “Saudade do Futuro”, Anna Azevedo
. “American Thief”, de Miguel Silveira
. “Antígona 442 a. C.”, de Maurício Farias
. “The Last Election and Other Love Stories”, de Miguel Silveira
. “Nuhu Mu Yõg Hãm – Essa Terra É Nossa”, de Maxakali, Canguçu e Romero
. “Você Não Sabia de Mim”, de Alan Min
Sessões Especiais
. “Já que Ninguém me Tira para Dançar”, de Ana Maria Magalhães
. “Ziraldo – Era uma Vez um Menino”, de Fabrizia Pinto
. “Nelson Filma o Rio”, de Luiz Carlos Lacerda
. “Chico Mário – A Melodia da Liberdade”, de Silvio Tendler
. “Tempo Ruy”, de Adilson Mendes
. “Terra Estrangeira”, de Walter Salles e Daniela Thomas
. “Dona Flor e seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto
Sessões Especiais (Curtas)
. “Romance”, de Karine Telles
. “Ato”, de Bárbara Paz
Panorama Internacional
. “Madres Paralelas”, de Pedro Almodóvar (abertura) – Espanha
. “Festival do Amor, Woody Allen (EUA)
. “Drive my Car”, de Ryusuke Hamaguchi (Japão)
. “Pequena Mamãe”, de Céline Sciamma (França)
. “Venice Beach”, de Marion Naccache (EUA/Brasil)
. “Três Andares”, de Nanni Moretti (Itália)
. “Cyrano”, de Joe Wright (EUA/Inglaterra)
. “Belfast”, de Kenneth Branagh (Irlanda do Norte)
. “Lágrimas de Sal”, de Phillipe Garrel (França)
. “A Chiara”, de Jonas Carpiagnano (Itália)
. “O Homem Ideal”, de Maria Schrader (Alemanha)
. “Um Herói”, de Asghar Farhadi (Irã)
. “Compartment No. 6”, de Juho Kuosmanen (Finlândia)
. “Cow”, de Andrea Arnold (Inglaterra)
. “Titane”, de Julia Ducournau (França)
. “Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental”, de Radu Jude (Romênia)
. “Benedetta”, de Paul Veroheven (França)
. “Memória”, de Apichatpong Weerasetathakul (Colômbia)
. “Undine”, Peter Petzold (Alemanha)
. “Nove Dias”, de Edson Oda (EUA)
. “Murina”, de Antoneta Alamat (Croácia/Brasil)
. “A Mulher que Fugiu”, de Hong Sang-soo (Coreia do Sul)
. “Encontros”, de Hong Sang-soo (Coréia do Sul)
. “ A Fratura”, de Catherine Corsini (França)
. “Diários de Otsoga”, de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes (Portugal)
. “Belle”, de Mamoru Hosoda (Japão)
. “O Beco do Pesadelo”, de Guillermo del Toro – encerramento – (EUA)