Amigos de Risco
Após ser extraviado em 2008 e uma longa batalha travada para obter nova cópia, Amigos de Risco, filme dirigido e roteirizado pelo pernambucano Daniel Bandeira, em 2007, enfim, entra em circuito nacional, na quinta-feira, 19 de maio.
Amigos de Risco surge a partir de elementos da realidade vivenciada pelo próprio diretor, como a vida na periferia, o submundo recifense, as noitadas no Recife Antigo, a efervescência do movimento Manguebeat, a necessidade de atravessar a cidade para voltar para casa de bacurau (ônibus da madrugada) ou de metrô.
O longa nos convida a refletir e digerir sobre a máxima de que, segundo Bandeira, “amizade tem um peso (e um preço)”. O filme relata o tenso encontro de amigos que, após uma noitada, atravessam a cidade e a madrugada – sendo tomados por vários sustos ao longo desse trajeto – para levar um deles ao hospital, após um mal súbito.
A narrativa do filme se comunica muito com a própria história do longa, também recheada de sobressaltos. Rodado no final de 2005 e montado e finalizado em 2007, Amigos de Risco teve sua primeira exibição naquele ano no 40º Festival de Brasília.
Em 2008, no dia da exibição na Mostra de São Paulo, e pouco antes de entrar em salas comerciais, a cópia-zero do filme, finalizado em 35mm, foi extraviada por uma companhia aérea. Só restou a versão rascunho, do laboratório, não finalizada, que salvou a exibição na Mostra. Contudo, sem recursos para refazer outra cópia, a partir deste momento, o filme entrava num moroso litígio jurídico, cujo custo maior, além de prejudicar um lançamento comercial, foi o tempo e energia dispendidos.
Somente em 2015, após toda a luta em torno do extravio e dada causa favorável ao filme, uma nova cópia foi feita, dessa vez em masterização digital, enquanto a cópia-zero, em película, foi encaminhada para a Cinemateca Pernambucana. Enfim, naquele ano, o longa era reexibido finalizado no VIII Janela Internacional de Cinema do Recife.
Amigos de Risco surge a partir da ideia de um curta-metragem e com baixíssimo orçamento. É o primeiro longa-metragem de Bandeira que, em início de carreira, havia realizado alguns curtas experimentais com coletivos e trabalhado, sobretudo, como montador. À época, havia corroteirizado, codirigido e montado, junto a Kléber Mendonça Filho, os curtas Menina de Algodão e Vinil Verde.
Um tanto visionário, Daniel soube escolher bem os ‘amigos’ para a equipe que realizaria este longa. Todos começando a trilhar suas carreiras em cinema, os colegas, que hoje se destacam em grandes festivais, como Kleber Mendonça Filho, Pedro Sotero, Kika Latache, Juliano Dornelles, Marcelo Pedroso, Marcelo Lordello, eram parceiros em diversos trabalhos e, assim, entraram em Amigos de Risco, como no caso de Sotero, que assina a Direção de Fotografia, Dornelles, que dividiu a Direção de Arte com Ananias de Caldas, e Kika Latache, que produziu.
Já à frente das câmeras Irandhir Santos (Joca), que havia trabalhado em apenas um longa (Cinema, Aspirinas e Urubus, 2005) e foi selecionado para Amigos de Risco pouco antes de brilhar em Baixio das Bestas (Claudio Assis, 2007).
Apesar da ironia de passar grande parte do filme desacordado, o personagem de Irandhir se sobressai a cada momento, atuando seja acordado ou simplesmente sendo carregado. Destaque também para Rodrigo Riszla (O Céu de Suely, Som ao Redor, Aquarius) que, no papel de Benito, levou o prêmio de Melhor Ator do Festival de Cinema de Triunfo. A preparação de elenco é de Amanda Gabriel, que mais tarde também viria a desenvolver uma trajetória sólida, preparando elencos de filmes como Amor, Plástico e Barulho, Tatuagem e Bacurau.
O longa chega às telas de cinema graças ao trabalho perseverante da Vilarejo Filmes e suas sócias, Kika Latache e Livia de Melo, em parceria com a distribuidora Inquieta Cine, de Mariana Jacob, todas responsáveis pela captação de recursos para que o projeto se concretizasse. As mesmas assinam também a produção e lançamento de Propriedade, próximo filme dirigido por Daniel Bandeira, que já está em fase de finalização.