Cine Ceará festeja “Filha do Palhaço”, Ednardo, Camila Pitanga e “Big Bang”

Por Maria do Rosário Caetano

O Cine Ceará (Festival de Cinema Ibero-Americano de Fortaleza) inaugura na noite desta sexta-feira, 7 de outubro, sua trigésima-segunda edição com a prata-da-casa – um longa-metragem cem por cento cearense. Trata-se da ficção “A Filha do Palhaço” (foto), de Pedro Diógenes, originário do Coletivo Alumbramento. À frente do elenco, o mais cearense dos cearenses, o ator Démick Lopes, par de Marco Nanini no festejado “Greta”. Com ele, a estreante Lis Sutter, de 14 anos, e o ator Jesuíta Barbosa, do estelar elenco de “Pantanal”.

Pedro Diógenes, diretor de “Inferninho” e “Pajeú”,  inspirou-se em um primo, o ator e humorista Paulo Diógenes, criador de Raimundinha, hilária personagem que há 30 anos diverte plateias nordestinas, para compor Silvanelly. Ou seja, similar da “Raimundinha” que garante o sustento de Renato, pai de Joana, interpretado por Démick Lopes. Ele trabalha em churrascarias, bares e nas mais diversificadas casas noturnas. A filha, já adolescente, vive distante do pai. Quando resolve visitá-lo, tem que conviver com a figura paterna e com Silvanelly.

O cineasta, que escreveu o roteiro com Amanda Pontes e Michelline Helena, conta que “elaborou impulso inicial de trazer personagem duplo para o centro da trama”. E pôde, assim, “inspirar-se em parente, um dos precursores desse tipo de humor no Ceará”. Nunca é demais lembrar que o Estado é berço de Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcanti, Falcão, Edimilson Filho e muitos mais.

Diógenes, pôde, ainda, “retratar o impacto de um (Renato) na vida do outro (Joana) através do amor e da convivência, dos pequenos gestos passados de pai para filha. E “nas lições tomadas pelo pai através da filha”, já que nosso desejo era mostrar a influência que uma adolescente pode exercer sobre um pai, mesmo estando ela em processo de formação e descoberta, apesar da idade e experiência”.

“A Filha do Palhaço” vai disputar o Troféu Mucuripe com mais sete concorrentes, sendo seis de língua espanhola (o argentino “Inseparáveis”, o cubano “Vicente B.”, o equatoriano “O Invisível”, o venezuelano “Meninos das Brisas”, o chileno “Green Gras” e o espanhol-argentino “A Piedade”)  e um brasileiro (a ficção “O Acidente”, de Bruno Carboni).

No campo do curta-metragem, serão exibidos dez títulos brasileiros. Um deles chega recomendado pelo Leopardo de Ouro de Locarno. Trata-se de “Big Bang”, do paulista-mineiro-potiguar Carlos Segundo. Ele já recebeu diversos prêmios no Cine Ceará com seu curta anterior, “Sideral”. Desta vez, não poderá visitar a cidade, pois está com a vida de ponta-cabeça. Neste exato momento, Carlos Segundo, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, está na França. De lá segue para o Canadá, onde apresentará “Big Bang” no 51º Festival du Nouveau Cinéma e participará do Nouveau Marché com projeto do seu próximo longa-metragem (o segundo, já que ele estreou com o longa experimental “Fendas”).

Depois de estrear em solo brasileiro no Cine Ceará, na quarta-feira (dia 12), “Big Bang” será exibido na competição de curtas do Festival do Rio (dois dias depois), do qual o cineasta também estará ausente. Do Canadá, Carlos Segundo deve rumar para os EUA, para dedicar-se, na medida do possível,   à divulgação de “Sideral”, já que encontra-se, com seus parceiros franceses, em plena campanha para (se possível) integrar a “short list” do Oscar (melhor curta ficcional). Para tanto, habilitou-se ao vencer, ano passado, o Festival de Chicago, nos EUA. Recebeu prêmios também em Palm Springs e Los Angeles.

Big Bang

O novíssimo “Big Bang” se fará representar, no Cine Ceará, pela atriz Aryadne Amâncio. E no Rio, pelo ator Giovanni Venturini. O curta, um drama incendiário, conta a história de eletricista solitário (Venturini, do elenco do longa “O Maior do Mundo”, baseado em romance de Reinaldo Moraes), que conserta fogões em lares alheios e envolve-se em trágico acidente.

Na noite inaugural do Cine Ceará, a atriz Camila Pitanga, de 45 anos, receberá o Troféu Eusélio Oliveira por sua trajetória no cinema, teatro e TV. Além de atuar em filmes como “Bendito Fruto”, “Sal de Prata”, “Mulheres do Brasil”, “Saneamento Básico”, “Noel, o Poeta da Vila” e “Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios”, Camila dirigiu o documentário “Pitanga” em parceria com Beto Brant. A festa inaugural contará, também, com apresentação especial da Camerata da Universidade Federal do Ceará e com exibição do curta “Se Liga ou se Choque”, realizado por alunos do Projeto Compartilha Animação.

Este ano, o Festival do Cinema Ibero-Americano de Fortaleza homenageará, também, o compositor Ednardo, um dos integrantes do coletivo musical Pessoal do Ceará, que na década de 1970 exportou para o Sul talentos como Belchior, Fagner, Chico Pontes e o próprio Ednardo. Um dos maiores sucessos do movimento – “Pavão Misterioso” – embalou a trilha da novela “Saramandaia”. Em breve, Ednardo aparecerá como um dos principais personagens do documentário “Pessoal do Ceará Lado A Lado B”, no qual Nirton Venâncio dá os arremates finais. A atriz e produtora Teta Maia também receberá o Troféu Eusélio Oliveira.

Na noite de entrega dos Troféus Mucuripe, será exibido o longa documental “Saravá, meu Avô”, de Gabriela Oliveira e Eusélio G. Oliveira, o Xuxu. Juntos, neta e filho revisitam a trajetória de um dos mais relevantes nomes da vida cultural cearense, Eusélio Oliveira, por meio de relatos de pessoas que conviveram com ele, familiares e amigos de militância partidária (no velho PCB). Eusélio foi assassinado em desentendimento de trânsito, no auge de suas potencialidades criativas.

Confira a programação do festival:

. Sexta-feira (dia 7) – “A Filha do Palhaço” (Pedro Diógenes, ficção. 104’)

. Sábado (dia 8) – “Vicenta B.” (Carlos Lechuga. ficção, 77’. Cuba-França-EUA-Colômbia-Noruega) e “Lo Invisible – O Invisível” (Javier Andrade, ficção, 85’, Equador-França)

. Domingo (dia 9) – “Las Cercanas – Inseparáveis” (María Álvarez, documentário. 81’, Argentina) e “O Acidente” (Bruno Carboni, ficção. 95’, Brasil)

. Segunda-feira (dia 10) – “Niños de las Brisas – Meninos das Brisas” (Marianela Maldonado, documentário. 84’, Venezuela-Reino Unido-França)

. Terça-feira (dia 11) – “Green Grass” (Ignacio Ruiz, ficção, 100’, Chile-Japão)

. Quarta-feira (dia 12) – “La Piedad – A Piedade” (Eduardo Casanova, ficção. 80’, Espanha-Argentina)

Competição de Curta Brasileiro

. Segunda-feira (dia 10) – “Camaco” (Breno Alvarenga, doc., 14’. MG), “Filhos da Noite” (Henrique Arruda, doc., 15’, PE) e “Elusão” (Taís Augusto, fic., 22’, CE)

. Terça-feira (dia 11) – “Contragolpe” (Victor Uchôa, doc., 16’. BA), “Cemitério de Flores” (Rafael Toledo, suspense/terror. 19’. MG) e “Infantaria” (Laís Santos Araújo, ficção, 24’, AL)

. Quarta-feira (dia 12) – “Alexandrina – Um Relâmpago” (Keila Sankofa, doc. 11’. AM), “Celeste (Natália Araújo, ficção, 19’, PE), “Último Domingo” (Joana Claude e Renan Barbosa Brandão, ficção. 17’. RJ) e “Big Bang” (Carlos Segundo, ficção,13’. MG-RN)

Mostra Olhar do Ceará

Longas-metragens:

. Sexta-feira (dia 7) – “A Colônia” (Virgínia Pinho e Mozart Freire, doc., 73’. CE)

. Sábado (dia 8) – “Todo Mundo Já Foi Para Marte” (Telmo Carvalho. Anim. 72’. CE)

. Domingo (dia 9) – “Escuridão na Terra da Luz (Popy Ribeiro, doc. 96’. CE)

. Segunda-feira (dia 10) – “Afeminadas” (Wesley Gondim, doc., 95’. CE)

Curtas-metragens:

. Terça-feira (dia 11): “Na Margem de um Rio em que Correm meus Ancestrais” (Iago Barreto Soares. Doc. 13’), “Aluá” (Felipe Camilo. Doc. 15’), “Aquele que Veio do Oeste” (Wesjley Maria. Ficção. 19’), “Ópera Sem Ingresso” (Andreia Pires. Musical. 24’), “Rosa Negra” (Sabina Colares e Marieta Rios. Doc. 23’) e “Mulheres Árvore” (Wara. Exp. 17’)

. Quarta-feira (dia 12): “Bege Euforia” (Anália Alencar, ficção/exp. 20’), “Fio de Ariadne” (Mozart Freire e Ton Martins. Ficção. 16’), “Na Estrada Sem Fim Há Lampejos de Esplendor” (Liv Costa e Sunny Maia. Ficção. 11’) e “Pedro” (Leo Silva. Ficção. 11’)

(*) Oito dos dez curtas da Mostra Olhar do Ceará serão também exibidos na plataforma de streaming Itaú Cultural Play, de 12 a 20 de outubro.

Mostras Sociais

. Mostra Melhor Idade: dia 10, às 9h, no Cinema do Dragão – “Benzinho”, de  Gustavo Pizzi

. Mostra Acessibilidade – Dia 11, às 9h, no Cinema do Dragão, “Currais”, de Sabina Colares e David Aguiar

.  Mostra O Primeiro Filme a Gente Nunca Esquece – Dia 12, no Cineteatro São Luiz, às 9h30 e às 14h30 – “Pluft, o Fantasminha”, de Rosane Svartman

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