Gramado anuncia seleção de curtas e troféus-homenagem a cinco mulheres
Por Maria do Rosário Caetano
O Festival de Cinema de Gramado, que realizará sua quinquagésima-primeira edição na Serra Gaúcha, de 11 a 19 de agosto, anunciou em festa no Rio de Janeiro, sua seleção de curtas-metragens brasileiros e os nomes de mais duas homenageadas com seus prêmios especiais – a produtora Lucy Barreto (foto), que receberá o Troféu Eduardo Abelin, e a atriz Ingrid Guimarães, o Cidade de Gramado.
Os nomes de Lucy e Ingrid chegam para somar-se aos de Laura Cardoso e Léa Garcia (Troféu Oscarito, pela primeira vez entregue a dois, no caso duas, artistas) e ao de Alice Braga (Kikito de Cristal). Também pela primeira vez na história gramadense, os troféus-homenagem serão entregues a cinco mulheres. Pena que nenhuma delas seja hispano-americana. Mais um indício de que o divórcio com o cinema de fala hispânica será definitivo. Lembremos que, desde 1992, esta será a primeira edição do festival gaúcho sem filmes ibero-americanos. Eles foram substituídos por mostra competitiva de longas documentais brasileiros.
A maratona cinematográfica, esse ano, anuncia-se tão extensa quanto a do ano passado, quando o Festival de Gramado realizou sua festiva edição de número 50. Afinal, com o crescimento da produção gaúcha, além das duas mostras oficiais (a de filmes ficcionais e documentários brasileiros), acontecerá competição de longas realizados no Rio Grande do Sul. No total, serão oferecidos ao público seis longas de ficção e cinco documentários brasileiros e cinco representantes do Cinegautchê. Somados ao convidado da noite inaugural, “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça, chega-se a um total de 17 longas, que se somarão a doze curtas brasileiros e 23 gaúchos. Mais debates, seminários e homenagens (estas provocam atrasos históricos, principalmente quando envolvem estrelas midiáticas como Xuxa Meneghel e astros das telenovelas globais), dá para adivinhar as noites mal-dormidas.
Resta torcer para que o comércio gramadense, em especial os restaurantes, entre em sintonia com os horários (e atrasos) do Palácio dos Festivais, alargando seus horários de atendimento aos maratonistas madrugada adentro. Ano passado, quem sabe por causa dos hábitos herdados dos tempos pandêmicos, a maioria dos restaurantes fechava suas portas à meia-noite em ponto. Nenhuma sessão-maratona (nem a famosa festa de premiação, que sofreu grande e perturbador atraso) terminou antes da meia-noite.
A imensa maioria dos festivais brasileiros (em torno de 350 por ano) pratica, hoje, o formato “quanto mais filmes e mais atividades”, melhor. O quantitativo superou o qualitativo. O importante é anunciar estatísticas recorde, grande quantidade de convidados, debates e seminários. Os patrocinadores se entusiasmam com a grandiloquência dos números. Os festivais e mostras, porém, perderam os espaços de convivência e as conversas cinefílicas que entravam noite adentro. No caso de Gramado, ficaram no passado os encontros no Chez Pierre, Churrascaria Três Reis, Edelwaiss e dezenas de casas de fondue. Até porque o Chez Pierre e a Churrascaria Três Reis não existem mais.
Os curadores brasileiros do festival gaúcho, o crítico Marcus Santuário e o ator Caio Blat (o trio completa-se com a atriz argentina Solledad Villamil) anunciaram, no Rio de Janeiro, os curtas-metragens brasileiros selecionados.
Há produções de todas as regiões. O Norte se faz representar por um filme de Rondônia (“Ela Mora Logo Ali”, de Fabiano Barros e Rafael Rogante) e outro de Roraima. Este tem na codireção o pensador indígena Davi Kopenawa, de quem José Celso Martinez Corrêa preparava histórica montagem de “A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami”.
O mais conhecido representante do povo amazônico dirigiu “Mãri Hi – A Árvore do Sonho” com Morzaniel Ɨramari. As imagens nos mostram que, “ao desabrocharem as flores da árvore Mãri surgem os sonhos”. As palavras de um xamã nos possibilitarão “experiência onírica através da sinergia entre cinema e sonho Yanomami, apresentando poéticas e ensinamentos dos povos da floresta”.
Minas Gerais participa com dois filmes. Um deles traz na direção o cordisburguense Marco Antonio Pereira, realizador-fetiche do Festival de Gramado. Dessa vez, ele vai mostrar “A Última Vez que Ouvi Deus Chorar”.
O Rio de Janeiro tem a maior representação (três filmes). São Paulo conta com um único título, “Casa Vazia”, que levará Jean-Claude Bernardet, pela segunda vez, nesse ano, ao palco do Palácio dos Festivais. Além de estar no elenco de “Hamlet”, de Zeca Brito, ele codirige (com Fábio Rogério) e protagoniza o sintético “Cama Vazia”, reflexão sobre a necessidade da “máquina de morte manter sua longevidade para expandir-se e ampliar seus lucros”.
Completam a competição dois filmes nordestinos, vindos do Maranhão e da Bahia, um capixaba e um gaúcho.
Confira a lista dos curtas-metragens brasileiros selecionados:
. “Deixa”, de Mariana Jaspe (RJ, 15 min.)
. “Jussara”, de Camila Cordeiro Ribeiro (Bahia, 9 min.)
. “Sabão Líquido”, de Fernanda Reis e Gabriel Faccin (RS, 21 min.)
. “A Última Vez que Ouvi Deus Chorar”, de Marco Antonio Pereira (MG, 18 min.)
. “Camaco”, de Breno Alvarenga (MG, 15 min.)
. “Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet (SP, 6 min.)
. “Casa de Bonecas”, de George Pedrosa (Maranhão, 15 min.)
. “Ela Mora Logo Ali”, deFabiano Barros e Rafael Rogan (Rondônia, 16 min.)
. “Mãri Hi – A Árvore do Sonho”, de Morzaniel Ɨramari e Davi Kopenawa Yanomami (Roraima, 17 min. )
. “Pássaro Memória”, de Leonardo Martinelli (RJ, 15 min.)
. “Remendo”, de Roger Ghil (Espírito Santo, 21 min.)
. “Yãmî Yah-Pá”, de Vladimir Seixas (RJ, 17 min.)