Guilherme Coelho filma “Adyr”, seu segundo longa-metragem de ficção
Em meio às comemorações dos 20 anos do lançamento do documentário “Fala Tu” (2023) e de sua produtora, a Matizar Filmes, Guilherme Coelho está filmando “Adyr”, seu segundo longa-metragem de ficção, na cidade do Rio de Janeiro. O filme é produzido pela Matizar Filmes, Bubbles Project e Manny Films, produtora francesa independente com sede em Paris e Los Angeles.
Ana Carbatti interpreta o papel-título, uma neurocientista brilhante que toca uma pesquisa de ponta com psicodélicos, mais especificamente sobre os efeitos da ayahuasca em pessoas que sofrem com o alcoolismo.
O diretor descreve o projeto como “um drama familiar acossado por um thriller político – nossa história aborda os conflitos e a ambiguidade em uma difícil relação entre mãe e filho, em meio a perseguições, ameaças e estados alterados da mente”.
Para que o argumento criado por ele e por Michel Laub virasse um roteiro preciso, o neurocientista Sidarta Ribeiro prestou consultoria, auxiliando também os atores. Mas ele também atua, vivendo João, marido de Adyr e pai de Tom (Caio Cabral). O cientista passou por uma preparação com Marcelo Grabowsky, junto com o resto do elenco, para interpretar o personagem.
Mais do que colocar em debate o uso dos psicodélicos como a ayahuasca e a psilocibina para ajudar pacientes com transtornos psíquicos e uso abusivo de substâncias, Guilherme Coelho queria destacar a não-discussão sobre o alcoolismo.
No campo pessoal, Adyr cuida sozinha de seu filho, o adolescente Tom (Caio Cabral), depois da morte de João (Sidarta Ribeiro). Apesar das frequentes discussões com o rapaz, Adyr está sofrendo porque Tom vai se mudar para São Paulo para estudar medicina.
Na universidade pública onde desenvolve seus projetos, Adyr vê-se pressionada quando o hospital passa a ser administrado por uma empresa privada, que enxerga em sua pesquisa uma maneira de ganhar muito dinheiro. Ao mesmo tempo, seu trabalho chama a atenção de um centro estrangeiro, que também pode não ser confiável. Para mostrar essa realidade, o Rio de Janeiro que aparece no filme não é o do cartão-postal.
Os desafios de Adyr são, portanto, os de muitas mulheres bem-sucedidas no Brasil. A questão racial é secundária. Além de Ana Carbatti, Caio Cabral e Sidarta Ribeiro, fazem parte do elenco Tamirys Ohana, Pedro Guimarães, Manuela Llerena e Júlio Adrião.
Durante o processo de desenvolvimento de roteiro, assinado por Guilherme Coelho, Josefina Trotta, Mariana Jaspe e Vinícius Spanghero, “Adyr” foi selecionado para o Script Circle em Berlim (2018 e para a Paris Co-Production Village (2018). Seu roteiro ganhou o prêmio Paradiso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e, pela Incubadora Paradiso, está recebendo diversas mentorias – entre eles as de Cristian Mungiu (roteirista e diretor romeno, vencedor da Palma de Ouro Cannes em 2007) e Gabriel Martins (roteirista e diretor do filme Marte Um).
A direção de fotografia é de Flora Dias. Ana Paula Cardoso assina a direção de arte e Preta Marques é responsável pelo figurino.
Guilherme Coelho estreou na direção de longas com o documentário “Fala Tu” (2003), sobre a vida de três rappers na zona norte do Rio de Janeiro. Depois, dirigiu “Fernando Lemos Atrás da Imagem” (2006), sobre o pintor, desenhista, fotógrafo, artista gráfico e poeta português radicado no Brasil, “PQD” (2007), que acompanha a vida de 70 jovens servindo o exército, “Um Domingo com Frederico Morais” (2011), sobre o crítico de arte e idealizador dos Domingos de Criação, e “Luz Acesa” (2020), sobre cinco pessoas tentando se recuperar do alcoolismo ou do uso abusivo de substâncias. Em 2015, o cineasta estreou na ficção com “Órfãos do Eldorado”, baseado no romance de Milton Hatoum, sobre um homem que volta para casa após anos de ausência.